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sábado, 28 de julho de 2012

DREAM TEAM, o Único, em 1992, o Basquete dos Sonhos

O momento era extremamente simbólico para uma reafirmação dos Estados Unidos como potência hegemônica mundial, tanto na política quanto no basquete. Na política, o Comunismo havia sido derrotado e o Capitalismo havia conquistado a Guerra Fria, a União Soviética havia sido dissolvida e os EUA não a tinham mais como outro pólo na bipolaridade que regera o mundo por meio século.

No basquete, os EUA haviam perdido as Olimpíadas de 1988 e estavam feridos. A competição olímpica era o torneio que realmente importava para eles. Tanto que nas 11 edições antes dos Jogos de Seul, ainda que sempre jogando com uma Seleção de Universitários, os norte-americanos tinham 9 Medalhas de Ouro. Haviam perdido a final de 72 para a União Soviética, numa partida com final controverso, em que os EUA se consideraram tão prejudicados que jamais apareceram para buscar a Medalha de Prata, e não haviam disputado os Jogos de Moscou, em 1980. Então, até Seul, eles consideravam que jamais haviam sido superados. Em 1988 perderam a semi-final e ficaram fora da final. Isto depois da mesma equipe, o melhor time universitário daquele momento nos EUA, já ter perdido a final dos Jogos Pan-Americanos de 1987 para o Brasil em pleno solo estadounidense, a primeira derrota da seleção jogando em seu território na história. 

Para Campeonato Mundial nunca deram lá muita importância, tanto que das 10 edições entre 1950 e 1986, haviam sido campeões só 2 vezes, e haviam disputado estas 10 edições com equipes secundárias: time dos operários da Chevrolet em 50, funcionários da Carpentier em 54, time da Aeronáutica em 59, com uma equipe sub-21 em 74, com o time da movimento Atletas em Ação em 78.

O esporte mundial também passava por uma forte mudança. Os Jogos Olímpicos vinham deixando de ser uma competição restrita a atletas amadores e era disputado por atletas profissionais. Era momento então para que o basquetebol também recebesse os profissionais dos EUA, atletas da NBA, principal liga de basquete do mundo. Em Barcelona, em 1992, pela 1ª vez na história o mundo viu uma seleção de jogadores da NBA jogando junta, a reunião de verdadeiros mitos. Foi um momento mágico, cercado de muita expectativa.

Charles Barkley, Patrick Ewing, Karl Malone, Magic Johnson e Michael Jordan na capa da revista Sports Illustrated

O técnico do time seria Chuck Daly, do New Jersey Nets. Foram convocados 11 atletas da NBA e 1 jogador universitário, numa homenagem ao espírito olímpico das Seleções Universitárias que haviam conquistado 9 medalhas de ouro nas edições anteriores dos jogos. O universitário escolhido foi Christian Laettner, da Universidade DUKE, de extrema tradição no basquete norte-americano. Os 11 da NBA foram: Michael Jordan e Scottie Pipppen, do Chicago Bulls, Magic Johnson, do Los Angeles Lakers, Larry Bird, do Boston Celtics, Patrick Ewing, do New York Knicks, Charles Barkley, do Pheonix Suns, John Stockton e Karl Malone, do Utah Jazz, Clyde Drexler, do Portland Trail Blazers, Chris Mullin, do Golden State Warriors, e David Robinson, do San Antonio Spurs.


Na temporada 1991-1992 da NBA, dos 10 jogadores que formaram o primeiro e segundo times de Quinteto Ideal da temporada, 9 estavam naquele time. Era portanto o que os EUA tinham de melhor.

Ainda que não tenho havido espaço para todos os gênios juntos. Jack McCallum, autor do livro “Dream Team: How Michael, Magic, Larry, Charles, and the Greatest Team of All Time Conquered the World and Changed the Game of Basketball Forever” contou ao jornalista Fábio Balassiano, do blog Bala na Cesta, do portal UOL: "quando da formação do Dream Team em 1991, Michael Jordan insinuou várias vezes que se Isiah Thomas fosse convocado ele não aceitaria participar do time. Tão simples quanto isso. Como o desejo da USA Basketball era ter Jordan mais do que qualquer coisa, Isiah acabou sendo preterido. A relação dos dois era terrível, e a maneira como eles encaravam o basquete e a vida faria daquele ambiente maravilhoso um inferno".

Larry Bird, Michael Jordan e Magic Johnson

Contou Jack McCallum: "eles se preparam como qualquer equipe em termos de estratégia, rotações, motivação, tudo isso. O fato de eles permanecem um símbolo é devido à maneira como eles jogaram. E acho que este foi o grande mérito de Chuck Daly, um baita general. Colocar todos aqueles talentos para exibições “solo” seria o mais fácil – e talvez até desse o mesmo resultado final (a medalha de ouro). Mas o lindo daquele time é que todo mundo estava ali pra ganhar, pra trazer o título olímpico para os EUA, e ninguém reclamava de nada. Eu vi cenas de Michael Jordan pegando bola para Christian Laettner depois de treinos em Monte Carlo, de Magic Johnson ajudando John Stockton a marcar, de Patrick Ewing e Charles Barkley disputando o melhor posicionamento de rebotes com as luzes do ginásio de Badalona apagadas. Nenhum time que não tivesse comprometido a ganhar como um time faria isso".

Jack McCallum ainda contou: "Era preciso ser um lunático para não se emocionar com Magic Johnson, um cara que anunciou o vírus HIV um ano antes, em quadra. Era impossível não franzir os olhos ao ver Larry Bird todo contraído por dores nas costas em quadra disputando seus últimos minutos de vida no basquete. Mas, sim, deu pra separar as coisas, sim. A única coisa que a gente que esteve lá não conseguiu prever foi o efeito absurdo que aquela seleção fez com o jogo de basquete como um todo. A partir daquelas Olimpíadas o basquete se tornou muito, muito mais popular no mundo inteiro. E o Dream Team tem muita coisa a ver com isso, evidentemente (...) Em 1992 Magic Johnson era um jogador diferente. Era mais lento, e já em uma curva descendente, o que era natural. Lembremos: Magic Johnson já era um gênio em 1979. E estávamos em 1992. Mas uma coisa precisa ser dita: ele foi um ícone cultural, social naqueles Jogos. Magic mudou a maneira como toda a sociedade falava sobre o vírus da AIDS. Antes era “ele vai morrer por causa dela”. Depois de Barcelona, foi “que baita maneira de se viver com o HIV”. Isso se deve a maneira corajosa como ele encarou a doença e obviamente ao seu extraordinário carisma".

Magic Johnson em 1992


A primeira reunião das feras foi para disputar o Torneio das Américas, em Portland, nos Estados Unidos, torneio Pré-Olímpico. O desempenho foi arrasador: 136 x 57 Cuba (79 pontos de vantagem), 105 x 61 Canadá (44 pontos a mais), 112 x 52 Panamá (60 pontos de vantagem), 128 x 87 Argentina (41 pontos a frente), 119 x 81 Porto Rico (38 pontos, a menor vantagem do time no torneio) e 127 x 80 Venezuela (47 pontos a mais na final da competição). Foram 121,17 pontos feitos por jogo e 69,67 levados, numa vantagem média incrível de 51,5 pontos de vantagem sobre os adversários. O mundo confirmava o que todos sabiam de antemão, ninguém jamais havia visto um time tão bom quanto aquele. 

O espetáculo continuou meses depois em Barcelona, nas Olimpíadas. Na 1ª fase, vitórias por 116 x 48 Angola (68 pontos de vantagem), 103 x 70 Croácia (33 pontos a frente), 111 x 68 Alemanha (43 pontos a mais), 127 x 83 Brasil (44 pontos de vantagem) e 122 x 81 Espanha (41 pontos). Nas quartas-de-final, 115 x 77 Porto Rico (outra vez 38 pontos, como no Pré-Olímpico); na semi-final 127 x 76 Lituânia (51 pontos a mais); e na final foi 117 x 85 Croácia (32 pontos de vantagem sobre o time de Drazen Petrovic, Dino Radja e Tony Kukoc). Um show! Foram 117,25 pontos feitos por jogo e 73,50 levados, numa vantagem média incrível de 43,75 pontos de vantagem em cima de seus adversários.

Em 14 jogos oficiais do Dream Team, nenhuma vitória foi por menos de 30 pontos. Só duas, ambas sobre a Croácia, foram por menos de 35. Um ataque de 118,9 pontos por jogo e uma defesa de 71,9 pontos sofridos por partida. Uma incrível marca de 47 pontos por jogo a mais que seus concorrentes.



O Dream Team. Da esquerda para a direita ... na fileira de cima, Patrick Ewing, Christian Laettner, Magic Johnson, David Robinson e Karl Malone; na fileira do meio, Larry Bird, Michael Jordan, Chuck Daly, Charles Barkley e Chris Mullin; na fileira de baixo, Scottie Pippen, John Stockton e Clyde Drexler.
    

2 comentários:

  1. Só uma correção, o técnico do Dream Team (Chuck Daly) era do Detroit Pistons e não do New Jersey Nets como diz o texto. Valeu, abs!

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  2. Lais
    Nas Olimpíadas ele já tinha anunciado a troca do Pistons pelo Nets. Embora ainda não tivesse comandado o New Jersey, ele já era oficialmente o treinador da franquia.
    Abs. Marcel

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