.

sábado, 30 de março de 2024

A ascensão do basquete da França


A ascensão do basquete francês aconteceu sobretudo a partir da vitoriosa carreira construída pelo armador Tony Parker na NBA. Após se destacar pelo Racing Paris entre 1999 e 2001, o jovem chegou para defender ao San Antonio Spurs em 2001, com tão só 19 anos, onde construiu uma brilhante carreira de sucesso no basquete profissional dos Estados Unidos com a camisa dos Spurs até 2018. Logo na sua primeira temporada, ainda antes de completar 20 anos, já foi um jogador com 29,4 minutos em quadra em 77 partidas disputadas, 72 das quais saindo no quinteto inicial. Seis vezes campeão da NBA, nas temporadas 2002/03, 2004/05, 2006/07 e 2013/14, jogador mais valioso a Final de 2007.

Tony Parker

Regressando no tempo, a França largou com sua história no basquetebol disputando três das quatro primeiras edições do Campeonato Mundial. Em 1950, na Argentina, terminou em 6º lugar. Em 1954, no Brasil, obteve um 4º lugar. Não jogou em 1959, no Chile. E em 1963, novamente no Brasil, terminou com um 5º lugar. Após deste bom início, passou longos anos como figurante no cenário internacional. Entre 1967 e 2002, em 10 edições do Campeonato Mundial, teve apenas uma participação, em 1986, na Espanha, na qual ficou apenas com a 13ª colocação.

História semelhante é contada pelo desempenho francês no Campeonato Europeu de Seleções (EuroBasket). Nas 12 edições disputadas até 1961, a França teve um 2º lugar (1949), quatro vezes o 3º lugar (1937, 1951, 1953 e 1959), três vezes o 4º lugar (1939, 1946 e 1961), estando, portanto, 8 vezes (66% das edições) no Top 4, além de ter sido duas vezes 5º lugar, tendo ficado assim só duas vezes fora do Top 5. Entre 1963 e 2001, em 20 edições a França só esteve três vezes dentro do Top 5 (5º lugar como sede em 1983, e duas vezes 4º lugar, em 1991 e em 1999.

No Século XXI, a partir do destaque de Tony Parker na NBA, a história começou a mudar. Em 2006, no Japão, chegou às quartas de final, terminando com um 5º lugar. Em 2010, na Turquia, terminou na 13ª colocação. E nas duas edições consecutivas, em 2014 na Espanha e em 2019 na China, terminou duas vezes seguidas em 3º lugar.

O desempenho mudou também no EuroBasket. Iniciou-se a mudança com um 4º lugar em 2003, seguido por um 3º lugar em 2005. Após duas edições - disputadas em 2007 e 2009 - sem ir muito bem, a França solidificou uma sequência de bons resultados a partir de 2011.

No EuroBasket 2011, disputado na Lituânia, a seleção francesa chegou à final, mas perdeu o título para a Espanha (85 x 98). Até que a França conseguiu consolidar um título para eternizar em definitivo a mudança de patamar de seu basquetebol: Campeões do EuroBasket 2013, no torneio disputado na Eslovênia.

Batum, Parker e Diaw

Na 1ª Fase, após perder na estreia para a Alemanha (74 x 80), a França venceu consecutivamente a Inglaterra (88 x 65), Israel (82 x 63), Ucrânia (77 x 71) e Bélgica (82 x 65), vencendo o grupo. Na 2ª Fase, perdeu para a Lituânia (62 x 76), venceu à Letônia (102 x 91), e perdeu para a Sérvia (65 x 77), mas conseguiu avanças às quartas de final, quando superou à anfitriã Eslovênia (72 x 62) e se garantiu no Top-4. Na semi-final conseguiu uma vitória histórica sobre seu algoz na edição anterior, a Espanha, vencendo por 75 x 72 na prorrogação. Na final, atropelou à Lituânia, batendo-a por 80 x 66 e se sagrando Campeã Europeia!

Tony Parker foi o grande líder da vitoriosa campanha, sendo o maior pontuador de toda a competição (19,0 pontos por partida). O quinteto titular que foi campeão europeu, sob o comando do técnico Vincent Collet, era formado por Tony Parker, Mickael Gelabale, Nicolas Batum, Boris Diaw e Alexis Ajinça, com um banco de reservas formado por Thomas Heurtel, Nando De Colo, Antoine Diot, Joffrey Lauvergne e Johan Petro.


No Mundial de 2014, a França tinha o quinteto titular composto por Thomas Heurtel, Antoine Diot, Mickael Gelabale, Nicholas Batum e Boris Diaw, com um banco de reservas formado por Evan Fournier, Edwin Jackson, Florent Pietrus, Joffrey Lauvergne e Rudy Gobert, e tendo como suplentes ao ala Charles Kahudi e ao ala-pivô Kim Tillie, comandados pelo técnico Vincent Collet.

Na Fase de Grupos, perdeu para o Brasil na estreia (63 x 65), depois venceu à Sérvia (74 x 73), ao Egito (94 x 55) e ao Irã (81 x 76), tendo sido superada também pela Espanha (64 x 88), terminando na 3ª posição e avançando para as oitavas de final, na qual superou à Croácia (69 x 64). Nas quartas de final venceu um jogo histórico contra a favorita Espanha por 65 x 52, avançando para reencontrar à Sérvia, a quem havia vencido na 1ª Fase, numa semi-final. Acabou derrotada por 85 x 90. Na decisão do 3º lugar, bateu à Lituânia por 95 x 93, ficando com a Medalha de Bronze. Um grande feito na história de seu basquete!

A fortíssima equipe francesa teve como líderes em eficiência a Batum (13,2), Lauvergne (11,0) e Heurtel (10,8); como líderes em pontuação a Batum (14,6), Heurtel (9,7) e Diaw (9,2); como líderes de assistência a Diaw (4,0), Heurtel (4,0) e Diot (2,3); e como líderes em rebotes a Lauvergne (5,3), Gobert (4,7) e Diaw (4,6). Uma grande e histórica equipe!



O bom desempenho da França foi sustentado nas edições seguintes depois da conquista do título de 2013. Em 2015 caiu na semi-final perante a Espanha (75 x 80), e terminou em 3º lugar. Em 2017 uma campanha ruim: 12º lugar. E em 2022 voltou à final, derrotada mais uma vez pela Espanha (76 x 88), terminando novamente em 2º lugar. Entre 2011 e 2022, em 5 edições do EuroBasket, a França ficou impressionantes 4 vezes no Top 3 (1º lugar em 2013, 2º lugar em 2011 e 2022, e 3º lugar em 2015).

Neste processo de crescimento do basquete francês, uma partida em especial foi histórica, a vitória sobre os Estados Unidos pelas quartas de final do Mundial de 2019:

11/09/2019 - França 89 x 79 EUA
Local: Dongfeng Nissan Cultural and Sports Centre, Dongguan, China
Parciais: 18 x 18 / 27 x 21 (45 x 39) / 18 x 27 (63 x 66) / 26 x 13 (89 x 79)
França: Frank Ntilikina (11), Evan Fournier (22), Nando De Colo (18), Nicolas Batum (6) e Rudy Gobert (21). Téc: Vincent Collet. Banco: Andrew Albicy (5), Axel Toupane (1), Paul Lacombe (--), Amath M'Baye (2), Louis Labeyrie (0), Mathias Lessort (3) e Vincent Poirier (--).
EUA: Donovan Mitchell (29), Kemba Walker (10), Marcus Smart (11), Jaylen Brown (9) e Harrison Barnes (4). Téc: Gregg Popovich. Banco: Derrick White (4), Jayson Tatum (--), Joe Harris (5), Khris Middleton (5), Brook López (0), Myles Turner (2) e Mason Plumlee (0).


A França largou com três vitórias na 1ª Fase do Campeonato Mundial de 2019, disputado na China, vencendo a Alemanha (78 x 74), Jordânia (103 x 64) e República Dominicana (90 x 56). Na 2ª Fase, venceu à Lituânia (78 x 75) e foi derrotada pela Austrália (98 x 100). Classificou-se então às quartas de final, quando obteve a vitória antológica sobre o "USA Team" e seus jogadores da NBA. Foi então para a semi-final contra a Argentina, na qual nem a auto-estima inflada pela eliminação dos norte-americanas foi suficiente para levá-la à final. Acabou derrotada de forma impiedosa, por 66 x 80. Restou-lhe a disputa de 3º lugar. Venceu à Austrália (67 x 59), e faturou mais uma Medalha de Bronze para sua galeria.




Nos Jogos Olímpicos, esta ascensão foi consumada com a terceira Medalha de Prata da história do basquete masculino francês. A França ficou com o 2º lugar nas edições de 1948, em Londres, de 2000, em Sydney, e em 2020, Tóquio. Nas Olimpíadas disputadas no Japão em 2021 (postergadas por causa da pandemia do coronavírus), provando que não foi acaso, logo na partida de estreia obtiveram uma outra vitória histórica sobre o time dos Estados Unidos e seus jogadores da NBA, desta vez logo na partida de estreia.

25/07/2021 - França 83 x 76 EUA
Local: Saitama Super Arena, Saitama, Japão
Parciais: 15 x 22 / 22 x 23 (37 x 45) / 25 x 11 (62 x 56) / 21 x 20 (83 x 76)
França: Evan Fournier (28), Nando De Colo (13), Nicolas Batum (5), Guerschon Yabusele (6) e Rudy Gobert (14). Téc: Vincent Collet. Banco: Thomas Heurtel (5), Frank Ntilikina (--), Timothe Luwawu-Cabarrot (2), Andrew Albicy (--), Vincent Poirier (3), Petr Cornelie (0) e Moustapha Fall (7).
EUA: Damian Lillard (11), Jayson Tatum (9), Jrue Holiday (18), Kevin Durant (10) e Bam Adebayo (12). Téc: Gregg Popovich. Banco: Keldon Johnson (0), Devin Booker (4), Khris Middleton (0) , Zach Lavine (8), Jerami Grant (--), Draymond Green (2) e Javale McGee (2).


Após a vitória sobre os EUA, a França venceu à República Tcheca (97 x 77) e ao Irã (79 x 62), para fechar na liderança do grupo na Fase de Grupos, avançando para as quartas de final. Venceu então à Itália por 84 x 75. Na semi-final, venceu à Eslovênia por 90 x 89, avançando para reencontrar aos Estados Unidos na final. Desta vez foi superada, perdendo por 82 x 87 e ficando com a Medalha de Prata.



A ascensão do basquete francês também foi explicitada pelos resultados obtidos no Campeonato Mundial Sub-19. Nas 13 primeiras edições do torneio, entre 1979 e 2017, o basquete da França havia sido semi-finalista apenas 1 vez, em 2007, no torneio disputado na Sérvia. Entre 2019 e 2023, por três edições consecutivas os jovens franceses conseguiram terminar no Top 3, mostrando o potencial do basquete francês para os anos seguintes.

Em 2019, no torneio disputado na Grécia, a França passou nas oitavas de final pela Grécia, nas quartas de final pelo Canadá, e acabou caindo na semi-final, quando era favoritíssima, ao ser derrotada por Mali, que acabou perdendo o título para os Estados Unidos.


O time da França que foi 3º lugar no Mundial Sub-19 de 2019 era formado por um quinteto titular composto por Karlton Dimanche, Yohan Choupas, Joel Ayayi, Babacar Niasse e Mathis Dossou Yovo, pelos reservas Lucas Bourhis, Hugo Robineau, Kenny Baptiste, Jacques Eyoum e Florian Leopold, tendo como suplentes aos pivôs Yoan Makoundou e Nicholas Evtimov, comandados pelo técnico Frederic Crapez.

Como destaques da equipe, Ayayi liderou em eficiência (20,6) e em pontuação (20,9 por partida), Dimanche em assistências (4,1 por jogo), seguido de Ayayi (3,4), e com Doussou Yovo forte no garrafão, liderando em rebotes (6,7 por partida), a França deu uma largada para uma sequência de grandes campanhas de seus jovens no Mundial Sub-19.

Em 2021, no torneio disputado na Letônia, a França venceu o grupo com Espanha e Argentina na 1ª Fase - apesar de ter sido derrotada pelos espanhóis na prorrogação (59 x 60) - depois passou nas oitavas de final por Mali, nas quartas de final pela Lituânia, e na semi-final pela Sérvia, só sendo derrotada pelos Estados Unidos na final (81 x 83).


O time da França que foi 2º lugar no Mundial Sub-19 de 2021 era formado por um quinteto titular com Matthew Strazel, Jayson Tchicamboud, Clement Frisch, Victor Wembanyama e Yvan Ouedraogo, com um banco com Rudy Demahis-Ballou, Lucas Ugolin, Louis Lesmond, Armel Traore e Guillaume Eyango, tendo como suplentes ao ala Kevin Marsillon Noleo e ao pivô Brice Dessert. Equipe que novamente tinha como técnico a Frederic Crapez.

Como destaques da equipe, o líder em eficiência (20,1) e em pontuação (14,0 por partida), além de ter sido vice-líder da equipe em rebotes (7,4) foi Victor Wembanyama, que viria a ser a escolha Número 1 do Draft da NBA em 2023. O líder em assistências foi Strazel (6,7 por jogo) e em rebotes foi Ouedraogo (7,7) por partida), muito próximo à média de Wembanyama, uma equipe, portanto, fortíssima no jogo dentro do garrafão.

Em 2023, no torneio disputado na Hungria, a França passou nas oitavas de final por Madagascar, nas quartas de final pela Sérvia, e na semi-final obteve uma vitória histórica sobre os Estados Unidos (89 x 86). Fez a final contra a Espanha, mas novamente não conseguiu conquistar o título, sendo derrotada por 69 x 73.


O time da França que foi 2º lugar no Mundial Sub-19 de 2023 tinha um quinteto titular composto por Alexandre Bouzidi, Noah Penda, Melvin Ajinça, Zacharie Perrin e Alexandre Dam Sarr, com um banco formado por Romain-Thomás Parmentelot, Romain Hoeltzel, Lucas Fischer, Zaccharie Risacher e Halvine Dzellat-Dlakeno, e tendo como suplentes ao ala-pivô Simon Correa e ao pivô Izan Le Meut, com o técnico sendo Lamine Kebet.


Como destaques da equipe, o líder em eficiência, com números impressionante, foi Perrin (25,1) e com destaque também para Ajinça (17,0), este que foi o líder em pontuação (19,3 por partida). Perrin também foi o vice-líder em pontuação (15,4 por jogo) e o líder em rebotes (impressionantes 10,9 por partida), tendo o líder em assistências sido Bouzidi (5,9 por jogo). Uma grande equipe de jovens talentos!



O basquete francês foi 3º lugar no Mundial em 2014 e em 2019; 2º lugar nas Olimpíadas em 2021, no EuroBasket foi 2º lugar em 2011 e em 2022, e foi 3º lugar em 2015; e no Mundial Sub-19 foi 3º lugar em 2019, e 2º lugar duas vezes seguidas, em 2021 e 2023. Uma sequência de 9 resultados entre 2º ou 3º em um período muito curto de tempo. O único título foi o de Campeão do EuroBasket de 2013. Mas a França chegava ao Mundial de 2023 e às Olimpíadas de 2024 com um grande material humano que, pelos resultados dos jovens, representava um potencial ainda maior para o Campeonato Mundial de 2027, no Qatar, e para as Olimpíadas de 2028.

E nos Jogos Olímpicos seguintes, em 2024, foram os anfitriões. E foi com esta mescla de gerações que superaram a Brasil, Japão, Canadá e Alemanha para chegar e fazer a final em Paris contra uma estrelada Seleção dos Estados Unidos, que contava com Stephen Curry, LeBron James, Kevin Durant, Anthony Edwards, Jason Tatum, Jrue Holiday, Anthony Davis e cia.

A FRANÇA NAS OLIMPÌADAS DE 2024




Nenhum comentário:

Postar um comentário