.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

As cestas no último segundo que mudaram a história do basquete

O basquete é um esporte coletivo, jogado durante quarenta minutos (quarenta e oito no caso da NBA). Mas em certas circunstâncias, um jogador em um só instante pode decidir o rumo de uma partida, de uma final, de um campeonato. É o que acontece quando é convertida uma cesta no último segundo (cesta sobre a buzina, ou "buzzer beater" em inglês), aquela que muda radicalmente o destino e transforma o ganhador em perdedor e o aparentemente derrotado num surpreendente campeão. Sofre-las é um martírio, como jogador ou torcedor; converte-las é uma bendição. Vamos recordar algumas das cestas decisivas que mais impactaram a história do basquete.

1. A cesta da Guerra Fria: a União Soviética derrota pela primeira vez aos Estados Unidos

Jogos Olímpicos de Munique, 1972. Depois do traumático sequestro dos atletas israelenses na Vila Olímpica, com resultado fatídico, pelas mãos do grupo terrorista "Setembro negro", as Olimpíadas tentavam voltar à normalidade, e encontrava um de seus grandes momentos. Os Estados Unidos, invicto no torneio de basquete masculino ao longo de toda a história dos Jogos Olímpicos até ali (desde Berlim 1936) enfrentava na final à potente URSS, dos irmãos Alexander e Sergei Belov. A igualdade era grande, mas os EUA lideravam o marcador por um ponto. Restavam três segundos para o final e os soviéticos os consumiram sem conseguir nada, só que os árbitros ordenaram repetir a jogada porque a URSS teria pedido tempo à mesa antes da reposição. Os três segundos voaram de novo sem sucesso para a URSS, mas os árbitros ordenaram que se repetisse a reposição, por um erro da mesa. Desta vez, os três segundos permitiram que a bola chegasse a Alexander Belov, que se livrou de dois rivais e converteu no estouro da buzina um 51 x 50 em favor da URSS. A delegação norte-americana protestou e cinco membros do Comitê Olímpico votaram: os votos de Itália e Porto Rico (países capitalistas) foram a favor dos EUA e os de Bulgária, Cuba e Romênia (países socialistas) foram para a URSS. Os Estados Unidos nunca reconheceram a derrota e as medalhas de prata, recusadas por seus jogadores, ficaram para sempre guardadas num cofre de segurança máxima em Zurique, na Suíça.



2. Playoffs da NBA: Michael Jordan na Final de 1998

A NBA sempre teve cestas decisivas no último segundo mas as convertidas na temporada regular não têm tanta importância como quando chegam os playoffs decisivos, e ainda menos frente a circunstâncias nas quais o título está em jogo. É então que as defesas se endurecem e se joga no limite. Mas não foram tantas na história aquelas cestas numa final que pareciam impossíveis, mas houve algumas antológicas, revertendo o marcador e provocando arritmias nos corações dos fãs. Entre alguns "buzzer beater" históricos, é difícil eleger a um, seria muito injusto com os demais. A seleção de instantes de êxtase com protagonistas icônicos do basquete norte-americano tem: Jerry West, John Stockton, Dennis Johnson, Ralph Sampson, Magic Johnson, e, certamente, Michael Jordan, autor de várias cestas míticas sobre o estouro do cronômetro, especialmente a que deu o sexto anel ao Chicago Bulls frente ao Utah Jazz na Final da NBA de 1998.




3. A Copa do Rei de 1987: Solozábal e a primeira cesta de três histórica do basquete espanhol

A cesta de três não existiu sempre, foi criada a partir de 1984, ainda que anteriormente a NBA já a havia adotado em 1979, e já antes dela uma liga que fazia concorrência a ela, a American Basketball Association (ABA). A primeira grande cesta de três no estouro do relógio na história do basquete espanhol aconteceu em 22 de dezembro de 1987, em Valladolid. A capital castelhana recebia a final da Copa do Rei entre as duas equipes mais tradicionais do desporte espanhol, o Barcelona e o Real Madrid. A equipe azul-grená havia chegado à final após eliminar ao Valladolid, enquanto o Madrid sofreu na semi-final diante do Joventut Badalona. A final foi sob uma alternância constante no placar, e o destino tinha reservado para Ignácio Solozábal um papel estelar. Sua cesta de três no último segundo deixou o Real Madrid descomposto e sem a taça, enquanto que o Barcelona ganhou o melhor presente de Natal possível naquele frio mês de dezembro, com um 84 x 83 a seu favor no marcador.



4. A Copa da Europa de 1992: a cesta de três de Djordjevic e o início do reinado de Obradovic na Euroliga

Na temporada 1991-92, o Joventut Badalona vivia seu melhor momento na história, comandado em quadra por Jordi Villacampa e pelos irmãos Jofresa, e com Lolo Sáinz como treinador. A ponto de ser campeão da Liga Espanhola naquele momento, ao time verde e negro lhe faltava a coroa de campeão da Europa. Chegou ao Quadrangular Final em Istambul como grande favorito e, após eliminar ao Estudiantes na semi-final, foi à final contra o Partizan Belgrado, que, devido à guerra entre Sérvia e Croácia, que levou à dissolução da Iugoslávia, tinha disputado seus jogos na temporada europeia em Fuenlabrada, na Espanha. A princípio, o surpreendente Partizan não deveria ser um grande obstáculo para o Joventut. Mas foi uma partida dramática. O jovem time dirigido por Zeljko Obradovic e no qual brilhavam Predrag Danilovic e Aleksandar Djordjevic jamais foi esquecido em Badalona por lhes roubar o sonhado troféu no último segundo. Nesta temporada, o Joventut conseguiu como consolo seu segundo título consecutivo da Liga ACB e, dois anos depois, com Obradovic agora como seu treinador, conseguiria o título da Euroliga. Para o treinador sérvio, a Euroliga de Istambul foi a primeira de suas oito conquistas como treinador, e provavelmente foi a mais inesquecível, naquela vitória sobre o Joventut por 71 x 70.



5. A final da Liga Espanhola mais apertada: a cesta de três de Herreros em Vitoria, a aposentadoria mais doce

A temporada 2004-2005 da Liga Espanhou teve uma final Real Madrid e Saski Tau Baskonia. O Real Madrid perdia a série por 2 x 1 e conseguiu dar vida à final, vencendo o quarto jogo em casa. Ainda asssim, foi a Vitoria com uma missão na qual poucos tinham fé. Do outro lado, José Manuel Calderón e Luis Scola queriam um segundo título da Liga ACB para o Tau Cerámica. Muita alternância no placar e Louis Bullock, do Real Madrid, comete sua 5ª falta e é eliminado a menos de três minutos para o fim. Em seu lugar entrou Alberto Herreros, que pela primeira vez naquele jogo estava em quadra. O Tau ampliou a vantagem para 69 x 61 quando faltavam 50 segundos. O título parecia assegurado. Mas então aconteceu o final mais incrível da história do basquete espanhol. O veterano Herreros, graças a seu arremesso infalível, mudou tudo, Ele se aposentava naquele dia, e aos 36 anos, comemorou pela segunda vez em sua vida o tíitulo máximo do basquete espanhol. Final: 70 x 69.



6. O debut do Ouro Olímpico da Argentina em Atenas 2004

Jogos Olímpicos de Atenas 2004. Argentina, vice-campeã do mundo, sofreu para se classificar como terceira de seu grupo na primeira fase, enquanto a Espanha, invicta na primeira fase, caía frente aos Estados Unidos nas quartas de final. O melhor para os argentinos estava por vir, primeiro eliminando a Grécia nas quartas de final e posteriormente ao grande favorito, os Estados Unidos, na semi-final. A primeira final olímpica para a Argentina foi com uma vitória fácil sobre a Itália. Mas toda esta história poderia ter sido diferente, fosse outro o resultado na estreia diante de um rival conhecido e com muitas histórias pendentes, já que dois anos antes a Sérvia (ainda quando competia junto a Montenegro) havia derrotado os argentinos na polêmica final no Mundial de 2002 em Indianápolis. A partida era o duelo entre a melhor geração de jogadores argentinos na história - Ginóbili, Prigioni, Scola, Oberto, Delfino, Herrmann, Pepe Sánchez - e uma grande Sérvia, com Bodiroga, Rakocevic e Tomasevic. A Argentina chegou a ter uma vantagem de 14 pontos no 2º quarto, mas o marcador foi se apertando. Faltando 40 segundos, os sérvios tinham uma vantagem de quatro pontos (80 x 76). Tudo indicava que se repetiria o filme do Mundial 2002. Até que apareceu o maior jogador alvi-celeste da história do basquete, Emanuel Ginóbili, ou apenas Manu, para fazer uma sequência de cestas. A última após Tomasevic errar um de seus lances livres. Manu Ginóbili conseguiu então a maior cesta da história do basquete argentino, com um lançamento caindo sobre seu marcador no soar da buzina que pôs 83 x 82 no final do jogo.


7. A cesta de três de Sergio Llull na Copa do Rei de 2014

Depois da cesta de três de Solozábal em 1987, houve outras finais apertadas na Copa do Rei, mas provavelmente nenhuma tão agonizante como a da edição de 2014, na qual uma cesta de três de Llull deu a vitória e o título ao Real Madrid sobre o Barcelona em Málaga. Sergio Llull é mais um dos jogadores que não sentem a mão tremer no momento decisivo, ao contrário, a mão fica ainda mais firme, é onde há mais estímulo e deixa cestas e mais cestas como uma grande recordação. O tiro certeiro saiu de quase 20 metros do aro e entrou sem tocar o aro, indo direto balançar a rede. Real Madrid 95 x 94 Barcelona.



Fonte: DeporAdictos, por Daniel Riobóo Buezo, em 5 de setembro de 2014
http://deporadictos.com/canastas-sobre-la-bocina-instantes-que-cambiaron-la-historia-del-baloncesto/


Veja também: As cestas no último segundo que mudaram a história da NBA


Nenhum comentário:

Postar um comentário