.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Quando lesões derrubam um fenômeno

Há muitos casos na história do esporte de atletas com um potencial espantoso que tiveram suas carreiras abreviadas por uma sequência de graves lesões. Como não poderia deixar de ser, muitos destes casos aconteceram também no basquete. Houve vários na história da NBA. É sempre difícil comparar casos, porque é difícil comparar realidades que não aconteceram. Em história não existe "se", só existe o que foi e o que não foi. Já o que poderia ter sido, pode ser qualquer coisa, dentro da livre imaginação de cada um.

Muito provavelmente, no entanto, quase todos concordariam que um dos casos mais emblemáticos de um jogador que teria sido muito mais do que foi se não fossem as sequenciais lesões graves que teve que enfrentar, foi o de Derrick Rose, ex-armador do Chicago Bulls.

Derrick Rose

"DRose" foi a primeira escolha do Draft realizado em 26 de junho de 2008. E logo em sua primeira temporada, ele já mostrou todo o potencial que o havia levado a se destacar na NCAA pela Universidade de Memphis.

Foram 88 atuações nos 89 jogos dos Bulls na temporada, só não atuou num jogo contra o Detroit Pistons, por causa de uma lesão sem importância no pulso. Em de 28 de outubro de 2008, o armador fez sua estréia com a camisa vermelha e branca no United Center, num jogo no qual os Bulls venceram ao Milwaukee Bucks. Rose considerou sua atuação apenas razoável, foram 11 pontos e 9 assistências, quase um double-double. Pode não ter sido genial, mas foi um belo cartão de visitas!

Na Temporada Regular de 2008-09, Derrick Rose jogou 81 dos 82 jogos. Nos últimos 10 jogos, numa arrancada para os play-offs, mostrou o quanto era capaz de ser decisivo. Nestas dez partidas, teve média de 18,7 pontos e 7,5 assistências. O Chicago terminou em 7º lugar na Conferência Leste.

A seguir ele fez história ao debutar em play-offs, em 18 de abril de 2009. Derrick Rose teve uma atuação monstruosa, fazendo 36 pontos e dando 11 assistências no jogo 1 da série play-off. Com isto, DRose superou o recorde de Kareem Abdul-Jabbar (que quando estabeleceu esta marca ainda usava o nome Lew Alcindor), passando a ter a maior pontuação na estréia de um jogador em uma partida válida por play-offs da NBA. Foi uma série play-off memorável contra o Boston Celtics, na qual ele terminou com médias de 19,7 pontos, 6,3 rebotes e 6,4 assistências, jogando quase 45 minutos por noite. Ele fez muito, mas ainda não foi o suficiente para avançar à segunda rodada dos play-offs, com sua equipe sucumbindo em 4 x 3 frente aos Celtics. Como consolação, Derrick Rose recebeu o Prêmio de Calouro do Ano (Rookie of the Year). Recebeu o prêmio em 22 de abril de 2009, com 111 dos 120 votos. Ele se juntou a Michael Jordan e Elton Brand e se tornou o terceiro atleta do Chicago Bulls a ter recebido este prêmio na história.

Em sua segunda temporada, 2009-10, ele ainda foi mais decisivo, mantendo uma média de 37 minutos por jogo em 83 partidas da Temporada Regular, e subindo sua média de pontos por jogo de 16,8 para 20,8. DRose, por uma torção no pulso, ficou fora de ação numa sequência de quatro jogos em março, com os Bulls perdendo todos os quatro. Na reta final, ele mais uma vez cresceu, com média de 22,6 pontos e 7,3 assistências nos últimos 14 jogos, nos quais a equipe obteve 10 vitórias, fechando em 8º lugar. Nos play-offs, o time não foi páreo e perdeu por 4 x 1 para o Cleveland Cavaliers, do já consagrado LeBron James (Derrick Rose saiu com médias de 26,8 pontos, 7,2 assistências e 42,5 minutos por jogo).

O garoto, então com 21 anos, já mostrava de tudo que era capaz. Todos davam como certo que ali nascia um astro, que ocuparia a galeria dos maiores da história da NBA. E logo com a camisa do Chicago Bulls, que nunca mais havia encontrado o sucesso depois da saída de Michael Jordan, que deu os 6 títulos dos dois tri-campeonatos conquistados pela franquia. O camisa 1 do Chicago Bulls voltava a fazer sua torcida sonhar com a volta ao posto de número 1 da NBA.

Na temporada 2010-11, o sonho da franquia de voltar a ser campeã parecia estar perto de se materializar. DRose não ficou de fora de nenhuma partida dos Bulls em toda a temporada. Em 28 de janeiro de 2010, Rose torna-se o primeiro jogador do Bulls desde Michael Jordan a ser escolhido para um Jogo das Estrelas (All-Star Game). Na Temporada Regular, os Bulls dominaram a Conferência Leste com um recorde de 62-20, o melhor desempenho da franquia em mais de uma década, desde que Michael Jordan havia deixado de usar a camisa 23. Derrick Rose, natural da cidade de Chicago, tornou-se então o rosto da franquia, com uma grande evolução e impressionantes números, tendo média de 25,0 pontos e 7,7 assistências. O Chicago terminou a Fase Regular em 1º lugar. Derrick Rose foi eleito Jogador Mais Valioso (MVP) da NBA naquela temporada. Foi em 3 de maio de 2011 que Derrick Rose, aos 22 anos e 7 meses, torna-se o mais jovem na história da NBA a ser eleito MVP, recebendo 113 de 121 votos.

Era a 3ª temporada de DRose e a 3ª série play-off consecutiva que seu time jogava. O Chicago faz 4 x 1 no Indiana Pacers e 4 x 2 no Atlanta Hawks, chegando à final da Conferência Leste. Agora era hora de ter novamente pela frente a LeBron, mas desta vez não mais só, mas com o Big Three do Miami Heat: LeBron James - Dwyane Wade - Chris Bosh. Rose jogou muito, teve médias de 27,1 pontos e 7,7 assistências nos 16 jogos do play-off, com quase 41 minutos em quadra por jogo. Mas não foi suficiente para derrubar o Heat, que fechou a série em 4 x 1.

Tudo parecia perfeito, mas logo na temporada seguinte à qual alcançou o topo do basquete, as lesões começaram a enfraquecê-lo.

Na Temporada Regular de 2011-12, o camisa 1 de Chicago jogou apenas 39 partidas. Teve pequenos problemas simples: primeiro, em janeiro, sofreu uma entorse no dedão do pé esquerdo. Em fevereiro, sofreu com torcicolos. Em março, sofreu uma lesão na virilha. A boa notícia foi que o Chicago Bulls conseguiu manter uma excelente sequência de resultados, mesmo com as ausência de Rose, e conseguiu, pela segunda temporada consecutiva, terminar em 1º lugar da Conferência Leste.

Em 28 de abril de 2012 aconteceu a primeira lesão de maior gravidade. Faltava 1 minuto e 20 segundos para terminar o jogo 1 da série play-off contra o Philadelphia 76ers quando Rose, desajeitadamente, caiu no chão segurando o joelho esquerdo. Ele sofreu ruptura dos ligamentos. Terminava ali sua temporada. Ele foi submetido a uma cirurgia um mês depois e foram dados de 8 a 10 meses como tempo de recuperação. Os Bulls venceram aquele jogo, mas acabaram perdendo a série por 4 x 2 para os 76ers.

Derrick Rose ficou de fora de toda a temporada 2012-13. O Chicago terminou em 5º lugar no Leste e avançou ao play-off, e aí passou a haver uma enorme expectativa por seu retorno. Os Bulls fizeram 4 x 3 sobre o Brooklyn Nets. O próximo adversário era novamente o Miami Heat, e todos pressionavam por sua volta, mas ele dizia que ainda não estava se sentindo bem para voltar. O Heat fez 4 x 1 e Derrick Rose foi acusado de abandonar seus companheiros por ter feito "corpo-mole".

Ele se preparou para voltar na temporada 2013-14. Ele viajou com o Chicago Bulls para a Pré-Temporada no Rio de Janeiro, mas às vésperas do jogo amistoso contra o Washington Wizards, ele foi retirado da partida, dizendo sentir a necessidade de se preparar fisicamente melhor para retornar. Ele voltou em 29 de outubro de 2013 numa derrota para o Miami Heat. Rose jogou nove dos dez primeiros jogos, com média de 15,4 pontos e 4,4 assistências em 31,5 minutos por jogo. Acima do esperado para quem estava há mais de um ano sem jogar.

Em 22 de novembro de 2013 o pior voltou a acontecer. Os Bulls enfrentavam o Portland Trail Blazers, na casa do adversário, quando ele saiu mancando de quadra após perder o equilíbrio ao tentar mudar de direção. Ele deixou o ginásio de muletas. Diagnóstico: ruptura do menisco do joelho direito. Foram apenas 10 jogos disputados por ele na temporada 2013-14 após não ter jogado nenhuma vez na temporada 2012-13. Derrick Rose decidiu ter o menisco reparado ao invés de retirado, dando-lhe uma melhor perspectiva de longo prazo. Menos de um mês após seu retorno, terminava a temporada para ele. Em 25 de novembro de 2013 ele passou por uma nova cirurgia, agora no outro joelho.

Em mais um reinício, DRose voltou ao time do Bulls na temporada 2014-15. Nas primeiras rodadas sofreu uma torção de tornozelo, perdendo quatro jogos. Mas se recuperou e o time foi bem, ocupando o 3º lugar do Leste. Ele tinha 46 jogos disputados, 31,0 minutos em quadra por jogo, 18,4 pontos e 6,5 assistências.

Em 24 de fevereiro de 2015, dois dias após uma atuação horrorosa contra o Milwaukee Bucks, na qual errou 12 de seus 13 arremessos, o Chicago Bulls anunciou que uma ressonância magnética indicou ter havido novo rompimento do menisco do joelho direito, o que exigia uma nova cirurgia. Tempo estimado de retorno entre 4 e 6 semanas. Teoricamente havia tempo, mas a temporada 2014-15 parecia haver acabado para ele. Mas ele conseguiu voltar.

DRose se recuperou a tempo de jogar os cinco últimos confrontos da Temporada Regular 2014-15. Fechou-a com 51 jogos disputados, e médias de 30,0 minutos, 17, 7 pontos e 4,9 assistências por jogo, reduzindo bastante suas estatísticas frente ao que havia tido nos 46 jogos disputados antes da lesão. O Bulls se classificou aos play-offs em 3º lugar,eliminaram o Milwaukee Bucks por 4 x 2 e na semi-final da conferência caíram por 4 x 2 frente ao Cleveland Cavaliers, de LeBron James. O camisa 1 do Chicago esteve em quadra nas 12 partidas destes play-offs, tendo tido as médias de 37,8 minutos, 20,3 pontos, e 6,5 assistências por jogo, mostrando estar recuperado, e com o mesmo apetite para chamar a responsabilidade e ser decisivo em momentos-chave.

Ele voltou a ter grandes atuações, mas agora já sem o desempenho de um outlier, um fora de série, como se desenhava sua carreira nos primeiros anos. Na temporada 2015-16, ainda com apenas 26 anos, Derrick Rose mostrou que ainda tinha energia guardada. Disputou 66 dos 82 jogos da temporada e obteve 16,4 pontos e 4,7 assistências por jogos nos 31,8 minutos por partida em que esteve dentro de quadra. O Chicago Bulls terminou em 9º lugar, com duas vitórias a menos do que o Detroit Pistons, e ficou fora dos play-offs finais.

Ao fim da temporada, os gestores da franquia, decepcionados, decidiram que era hora de renovação. Próximo a completar 27 anos, o jogador foi envolvido numa transação que o levou a, a partir da temporada 2016-17, defender a camisa do New York Knicks. Terminava a história que no início pareceu estar destinada a se tornar um "conto de fadas", mas na qual as lesões derrubaram o fenômeno, e a sonhada volta do Bulls a conquistar o degrau mais alto da NBA se dissipou no ar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário