As primeiras impressões de Ruben Magnano como técnico da Seleção Brasileira masculina adulta. A entrevista abaixo foi dada ao Blog Giro no Aro. Destaque para as afirmações:
"matemática: um maior número de atletas é uma maior possibilidade de haver talento dentro deste grupo (...) se conseguíssemos incluir diferentes regiões do país seria um passo muito importante para o basquete, ou melhor, não apenas para o basquete, mas para todo o esporte do Brasil"
"a liga crescerá ano a ano. Essa palavra competição, que eu tanto falo, não deve ser limitada apenas aos garotos, mas deve incluir também os adultos profissionais. Com mais competição, iremos assistir a uma qualidade de jogo melhor. Quando se cria um clima de competição, todos tendem a melhorar"
Eis abaixo a integra da entrevista:
A classificação da seleção brasileira para o Mundial Sub19 e o projeto para as Olimpíadas 2016 praticamente fizeram nascer o projeto permanente em São Sebastião do Paraíso. Depois de meses de trabalho com essa geração, o que podemos esperar dos garotos na Letônia?
Bem, para falar a verdade, nós vamos descobrir como está o nosso nível de jogo agora, quando começarmos a disputar jogos internacionais, tanto os amistosos de agora, quanto os jogos oficiais do Mundial. Nós temos uma carência de competições e só quando vamos a uma competição como Mundial sabemos em que nível estamos. Estes garotos foram vice-campeões da Copa América, perdendo para os EUA por um pouquinho, certo? Mas devemos entender que a competição americana não está no mesmo nível da competição européia. Lá se tem um jogo muito mais físico, muito mais forte e creio que será um exame muito importante para o nosso basquete. Para falar a verdade, quando a competição estiver acontecendo é que saberemos realmente qual é o nosso nível. Eu acredito que a equipe se preparou para competir bem e dar o máximo em cada um dos jogos e com o maior dos otimismos vamos à Letônia. Ainda vamos saber o que nós encontraremos lá. Nós vimos vídeos, jogos dos adversários, mas precisamos da competição para saber em que nível estamos.
Você se mudou para São Sebastião do Paraíso para acompanhar de perto a seleção de desenvolvimento. Qual foi o seu papel no processo? Quais foram as suas maiores preocupações? Passar orientações técnicas ou táticas para a garotada?
Eu tomei a decisão de morar aqui por uma decisão pessoal. A CBB não falou nada comigo sobre o assunto. Mas eu acho que é muito importante ficar por perto, próximo aos treinadores e sobretudo dos meninos, para aconselhar alguma coisa, falar de outra coisa, olhar os futuros jogadores. Acredito que foi muito conveniente, até para conversar com os treinadores que vieram a São Sebastião do Paraíso visitar-nos. Inclusive, tivemos treinadores de outros países que nos visitaram, interessados em conhecer o projeto, uma coisa muito linda. Mas não é que eu tenha vindo a São Sebastião do Paraíso para falar de assuntos técnicos ou táticos somente. Estamos falando de tudo sobre basquete, todo dia vendo, falando e ouvindo sobre basquete. O nosso foco diário praticamente total é o basquete. E isso certamente será uma coisa boa para o futuro.
Nesse papel de observador, qual é o estilo de jogo que podemos esperar dessas seleções mais jovens que estão sendo formadas em São Sebastião do Paraíso?
Bem, a minha ideia de jogo é, respeitando a idade desses garotos, transmitir o conhecimento de jogo, tomando um pouco como espelho a seleção adulta. Tratar de ter uma identidade defensiva bastante agressiva e dura, como se joga internacionalmente. E, depois, trabalhar muito as questões de técnica individual e de táticas, coletivas e individuais, para melhorar nossa utilização dos espaços e o tempo de execução. Sobre isso falamos praticamente o dia inteiro.
É lógico que esse é apenas um início de processo, mas quando os garotos começaram a chegar, qual foi a sua primeira reação? “Meu Deus, teremos muito trabalho pela frente”? Ou você teve uma boa primeira impressão?
Eu acredito que temos um trabalho por fazer muito importante. Nós precisamos...bem, há algum tempo atrás, quando eu tive a oportunidade de viajar pelo Brasil e acompanhar as competições...há uma coisa que eu vou dizer, que acredito ser muito mais importante do que esse projeto: tratar de recuperar as instituições que jogam basquete. Fazer um trabalho para que essas instituições recebam novamente as crianças, os garotos, para praticar basquete. Isso nos possibilitará ter uma base muito ampla de garotos que jogam basquete e sem dúvidas fazer seleções de muito mais qualidade. Afinal, é uma questão, como costumo dizer, matemática: um maior número de atletas é uma maior possibilidade de haver talento dentro deste grupo. Na seleção de desenvolvimento que temos aqui, você sabe que há uma mistura de idades, e desse grupo, acredito, ficaram cinco meninos dentro da seleção Sub19 que foi ao Mundial. Para a seleção Sub17, acredito que vários meninos pertencentes ao projeto serão convocados, e acredito que ocorrerá o mesmo na seleção Sub16. Ou seja, é um passo muito importante o que estamos dando, mas sem dúvidas temos muito no que trabalhar ainda. Eu acredito que o Ministério dos Esportes, e as pessoas do meio esportivo do Brasil entendem que esse tipo de projeto de desenvolvimento em diferentes idades é muito importante. E se conseguíssemos incluir diferentes regiões do país seria um passo muito importante para o basquete, ou melhor, não apenas para o basquete, mas para todo o esporte do Brasil.
Durante a temporada, o pessoal da mídia especializada costumava brincar, dizendo que você era onipresente, estava em todos os cantos onde houvesse uma bola laranja quicando. Qual foi o seu método para observar os jogadores?
Agora, felizmente, temos toda a informática, que permite ter praticamente toda informação a qualquer distância, em qualquer lugar do mundo. Ou seja, um material que eu solicite de um jogo Sub16 ou um jogo da NBB, ou um jogo da Espanha, ou um jogo da NBA, eu consigo automaticamente. Ou seja, não é um problema de olhar os jogadores. O que eu queria, quando estive presente, como você diz, onde havia uma bola laranja, era poder falar e também ter a oportunidade de ver algo do Brasil, que é MUITO grande, para ter uma ideia das coisas que estão acontecendo. Bem, e se é certo que eu não percorri todo o Brasil, posso dizer que percorri bastante, vendo diversas competições. E, agora, tenho mais ou menos um panorama, e digo mais ou menos, porque tudo é impossível, do que possa estar acontecendo aqui.
Ao mesmo tempo que tem sido formadas novas gerações nestes projetos, uma coisa preocupa: a falta de jovens nos times profissionais brasileiros. Apenas Benite e Douglas Nunes aparecem como grandes novidades nesta última da temporada do NBB. Isso te preocupa?
Olha, temos diversos jogadores da seleção Sub19 que disputaram a última edição da liga. Temos o Arthur e o Erik, que jogaram muito tempo pelo Paulistano. Temos, por exemplo, o Raulzinho...bem, você conhece, que jogou tanto tempo no Minas, mas acredito que a liga ainda está muito preocupada com isto e vai fazer, pelo que Kouros conversou comigo, o torneio Sub20 para dar competição aos garotos dessa idade. Quando eu te falo que precisamos de instituições em que se pratique basquete é justamente por isso. Para criar um número maior de jogos, para que os garotos joguem mais vezes por ano. Mas, para isso, precisamos dessas instituições, para incrementar o número de competições. Não há como falar que este atual é o número exato de jogos que precisamos, mas devemos dizer que é preciso que esses garotos joguem 40, 45, 50 jogos por ano. Só assim vamos ver uma maior quantidade de talentos aparecendo. É certo o que você fala, eu fico um pouco preocupado, mas devemos trabalhar para isso, devemos trabalhar quais seriam as soluções para o problema e...temos que continuar trabalhando, não há outro jeito.
Bem, continuando no tema NBB, ao contrário do ano anterior, em que o senhor até comentou como foi muito diferente ver dois times jogando uma final de campeonato usando a defesa zona por tanto tempo, tivemos uma final de campeonato NBB esse ano com mais opções táticas, times mais coletivos e menos limitados ofensivamente. O senhor gostou mais das equipes este ano?
Sem dúvidas, a liga crescerá ano a ano. Essa palavra competição, que eu tanto falo, não deve ser limitada apenas aos garotos, mas deve incluir também os adultos profissionais. Com mais competição, iremos assistir a uma qualidade de jogo melhor. Quando se cria um clima de competição, todos tendem a melhorar. Os dirigentes melhoram, os treinadores melhoram, os jogadores melhoram, os árbitros são obrigados a melhorar...a competição nos obriga a melhorar. E isso nós veremos no ano que vem, a liga melhorará e assim sucessivamente. É como uma criança que cresce a cada ano. Então, nós vamos assistir a jogos cada vez melhores.
Por falar nos adultos, aproxima-se a data da convocação para o Torneio Pré-Olímpico. Julio Lamas já declarou que a seleção argentina para Mar Del Plata já está praticamente definida. Você já tem a seleção na cabeça? Caso positivo, qual perfil podemos esperar dela? Jogadores mais experientes? Jogadores mais jovens?
Primeiramente, eu sinceramente não sei como se pode falar em seleção definida, quando se falta solucionar o tema da greve da NBA. Não sabemos o que vai acontecer com os jogadores em relação a isso. A partir daí, seguramente o panorama será muito mais claro. Minha ideia é fazer a convocação e, a partir daí, ficar com os 12 jogadores mais produtivos e mais eficazes desta convocação.
Além do aspecto da greve, há indefinições na seleção brasileira por outros motivos. Já há ausências confirmadas na seleção? De quem?
Não, não. Veja, eu tenho o costume de fazer uma convocação na data marcada para tal, para todo o mundo, sem falar de nomes antes. Seguramente, você já tem na sua cabeça nomes que julga certos, que é capaz que sejam, ou não. Mas, inclusive por uma questão de respeito a toda a mídia brasileira, a convocação será feita no próximo dia 17, se nada de errado ocorrer. A CBB fará um comunicado com todos os nomes da convocação neste dia.
É lógico! Mas a minha questão é, sem precisar citar nomes, já houve quem ligasse para o senhor e falasse “olha, infelizmente, neste ano não vai dar?”
Felizmente, hoje, não devo falar isso. Felizmente. Agora, só saberemos isso ao certo, não apenas no dia da convocação, mas sim no dia 4 de julho, quando ocorrerá a apresentação da seleção. Aí realmente saberemos os jogadores que falarão sim e os jogadores que falarão não.
Espera-se um cenário completamente hostil para a seleção brasileira em Mar del Plata, principalmente num eventual confronto decisivo contra a Argentina. A idade pode ser um fator decisivo nesse torneio?
Sem dúvida. A experiência tem um peso muito importante. A experiência não é algo que se ganha de um dia para o outro. São anos de jogos, anos de batalhas e horas de treinamentos. A experiência tem um valor que pesa. Mas nós temos um pessoal jovem que já tem anos de basquete. Acontece muito de olharmos um jovem jogar e pensarmos tratar-se de um veterano, quando não é. Ou jogadores que fisicamente, dependendo de como foi a sua carreira no basquete, de como se cuidou, poder ficar jogando por uma grande quantidade de anos. De fato a experiência é um fator muito importante, mais até do que a idade.
O posto de capitão da seleção brasileira costumava pertencer aos jogadores mais velhos, como Marcelinho Machado, Guilherme Giovannoni e Alex Garcia. Você surpreendeu ao escolher Marcelinho Huertas como seu capitão e ele acabou fazendo um Mundial espetacular, coincidência ou não. O que motivou essa sua decisão?
Pessoalmente, eu aprendi a conheci esse grupo logo antes ao Mundial da Turquia, que foi a primeira competição que eu tive. Eu sabia de algumas pessoas que haviam sido capitães da equipe mas achei conveniente a partir do que vi nele. Também te ajuda muito, pra ser capitão,a posição que você joga. A posição em que ele joga também foi um fator muito determinante, pois geralmente o treinador costuma ter muita comunicação com o condutor de sua equipe. Mas aliado a isso, tem a forma dele comunicar-se, o que também influiu na escolha para ser o capitão da equipe.
Ainda neste ano, teremos os Jogos Pan-Americanos. Já está definido o perfil da seleção que defenderá o Brasil no México? Você estará no comando desta seleção?
Sim, estarei no comando da seleção. Já o próprio regulamento impõe a obrigação de levarmos gente nova. E eu gosto dessa ideia. São 3 jogadores Sub19 que necessariamente devem estar dentro do grupo dos 12 atletas. Assim, minha ideia basicamente é fazer uma mistura com os jogadores jovens com outros com um pouco mais de experiência para poder jogar o Pan-Americano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário