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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A primeira vez de um time da Argentina contra a NBA

Desde 1978, quando se enfrentaram Maccabi Tel Aviv, de Israel, e Washington Bullets, houve vários encontros entre equipes NBA contra equipes FIBA. Com um interesse no mercado latino-americano, o basquete norte-americano já havia começado uma aproximação com o Brasil. Mas o primeiro encontro entre latino-americanos e franquias NBA aconteceu ainda antes, na última edição do McDonalds Open, em 1999, quando Vasco da Gama e San Antono Spurs se enfrentaram na Europa. O seguinte duelo veio então na Pré-Temporada 2014 da NBA, quando o Flamengo viajou aos EUA para duelar com Pheonix Suns, Orlando Magic e Memphis Grizzlies. Na Pré-temporada de 2015 foi a vez do Bauru ir aos EUA e jogar contra New York Knicks e Washington Wizards. Próximos a estes duelos, o Flamengo recebeu no Rio de Janeiro ao Orlando Magic, na 3ª edição do NBA Golbal Games Rio (nas duas primeiras edições, duas equipes da NBA se enfrentaram na Arena Olímpica do Rio de Janeiro). Desta vez foi a vez do basquete da Argentina provar esta experiência, com o San Lorenzo, campeão nacional da temporada 2015-16, viajando ao Canadá para enfrentar o Toronto Raptors, em partida disputada em 14 de outubro de 2016. Como noticiou o jornal argentino Clarin após o jogo em seu site: "San Lorenzo hizo historia en la NBA" (San Lorenzo fez história na NBA).


Neste primeiro duelo na história entre um clube argentino e a NBA, o time do treinador Julio Lamas caiu por 122 x 105. De estar quase 30 anos sem competir a âmbito nacional no basquetebol a jogar uma partida contra um time da NBA, assim foi, meteórica, a ascensão do San Lorenzo na cena do basquetebol argentino e mundial. O projeto do time de Almagro foi montado e teve ascensão meteórica até a Primeira Divisão. O investimento foi forte e logo no seu primeiro ano de volta à elite do basquete argentino, sagrou-se campeão. E daí veio o convite para fazer parte da Pré-temporada da NBA.


Sobre o jogo: o time do Toronto Raptors jogou bastante desfalcado, tirando um pouco do brilho do espetáculo, e frustrando um pouco toda a expectativa dos argentinos que viam o duelo de longe, pela TV, e entendiam que ali, naquele jogo, havia uma grande oportunidade para toda a Liga Argentina de Basquete. Por outro lado, os desfalques representavam uma oportunidade única de vencer, e de ser a primeira equipe da América do Sul a conseguir um feito assim. Nenhuma das principais estrelas dos Raptors foram para o jogo: Kyle Lowry, DeMar DeRozan, Cory Joseph, DeMarre Carroll e Jonas Valanciunas foram, todos, poupados. Faltou respeito perante a equipe argentina, cujos jogadores, naturalmente, e como não podia deixar de ser, preparavam-se para os jogos de suas vidas.

O quinteto titular dos Raptors começou com três jovens jogadores que davam tão só seus primeiros passos com a camisa da franquia (VanVleet, Crawford e Siakam), além do ala-pivô brasileiro Lucas Nogueira, que só tinha 35 jogos em duas temporadas defendendo a franquia, e com Norman Powell, jogador que estava em seu segundo ano de NBA, tendo tido 49 atuações na sua temporada como calouro.


Dois brasileiros em quadra: Lucas “Bebê” Nogueira e Bruno Caboclo, defenderam a camisa dos Raptors. Estiveram em noite apagada. O primeiro, começando titular, como já dito, fechou a partida com 5 pontos e 4 rebotes. O segundo, por sua vez, saiu do banco e fechou a partida com 6 pontos.

O San Lorenzo começou a partida ao "estilo NBA", com um jogo mais físico, rápido, com posses de bola curtas e transições rápidas. Tentava se adaptar a uma outra arbitragem, com outras regras, uma linha de três quase cinquenta centímetros mais distante, e um tempo de jogo com oito minutos a mais do que o jogado fora dos EUA, nas regras FIBA. Dois dias antes, em jogo amistoso, havia vencido o time de Toronto que disputa a D-League, Liga de Desenvolvimento, buscava se adaptar, mas ainda que frente a um jovem Raptors em quadra, o marco de referência era outro. Assim como nos duelos anteriores entre sul-americanos e a NBA, nos jogos já citados das equipes brasileiras, fez a diferença a grande quantidade de jogadores do plantel de uma franquia NBA, com grande rotação, e sem deixar o nível técnico cair. O San Lorenzo resistiu enquanto pode, mas assim como Flamengo e Bauru nas temporadas anteriores, não aguentou até o fim, e caiu.

O maior destaque do Toronto na partida foi Fred VanVleet, com 31 pontos, 5 rebotes e 5 assistências. Drew Crawford e Norman Powell, com 17 pontos, também ajudaram na vitória da franquia da NBA. O ala Pascal Siakam e o pivô Jakob Poeltl, fizeram 16 e 12 pontos respectivamente. Poeltl, com 6 rebotes e 2 assistências foi o melhor dentro do garrafão, dominando o jogo interior. Ainda que tanto Raptors quanto San Lorenzo tenham saído com 33 rebotes cada, os canadenses conseguiram aproveitar melhor suas recuperações de bola.


Pelo lado argentino, os destaques foram os nomes que já tem frequentado a Seleção Argentina: Gabriel Deck, Nicolás Aguirre e Marcos Mata. Em quadra também, um outro conhecido dos brasileiros, o pivô norte-americano Jerome Meyinsse, tri-campeão da Liga Brasileira nas três temporadas anteriores com a camisa do Flamengo. Meyinsse até tentou, e assim como o San Lorenzo, chegou a sonhar, mas a força do Toronto Raptors foi maior no fim. Jerome começou mal, acordou no 3º quarto, justamente o período no qual o time canadense foi avassalador. O norte-americano passou a liderar o time argentino, mas sem conseguir impedir a derrota. Terminou a partida com 22 pontos, tendo sido o cestinha da equipe no duelo. Marcos Mata, com 18, e Gustavo Aguirre, com 17 pontos e 11 assistências, foram os outros que se destacaram nas estatísticas. Mas o jogador mais completo do lado argentino foi o ala-armador Gustavo Nicolás Aguirre, que conseguiu um duplo-duplo, tendo anotado 17 pontos e dado 11 assistências, além de ter pego 7 rebotes. Ele foi o grande responsável pelo time de Almagro haver ido ao intervalo com vantagem no placar: 55 x 53. No segundo tempo, não pode conter o ímpeto físico do adversário, terminando com dezessete pontos de desvantagem no marcador. Ainda assim, mesmo com a derrota, o basquete argentino pode dizer que viveu uma semana histórica, dentro e fora de quadra, uma experiência de desenvolvimento.


Comparativamente aos duelos anteriores entre clubes da América do Sul e franquias da NBA: em 1999 os Spurs bateram ao Vasco por 103 x 68 (35 pontos de vantagem); em 2014, as vitórias sobre o Flamengo foram do Suns por 100 x 88 (12 de vantagem), do Magic por 106 x 88 (18 de vantagem) e do Grizzlies por 112 x 72 (40 de vantagem); em 2015 o Bauru foi derrotado pelo Knicks por 100 x 81 (19 pontos de vantagem) e pelo Wizards por 134 x 100 (34 de vantagem), e o Magic bateu ao Flamengo por 90 x 73 (17 de vantagem). A derrota do SAn Lorenzo para o Toronto Raptors por 122 x 105 (17 pontos de vantagem) esteve próxima a estes jogos em termos de diferença no placar.

Ficha do jogo:
14/10/2016 - Toronto Raptors 122 x 105 San Lorenzo
Ginásio Air Canada Centre, Toronto - Público: 15.113.
Parciais: 32 x 22 / 21 x 33 (53 x 55) / 34 x 27 (87 x 82) / 35 x 23 (122 x 105)
Raptors: Norman Powell (17), Fred VanVleet (31), Pascal Siakam (16), Drew Crawford (17) e Lucas Nogueira (5). Téc: Dwane Casey. Banco: Brady Heslip (8), Bruno Caboclo (6), E.J. Singler (10), Jarrod Uthoff (0), Jakob Poetl (12) e Yanick Moreira (0).
San Lorenzo: Nicolás Aguirre (17), Guillermo Díaz (2), Marcos Mata (18), Gabriel Deck (16) e Jerome Meynisse (22). Téc: Julio Lamas. Banco: Santiago Scala (13), Selem Safar (0), Matías Sandes (7) e Mathías Calfani (10).

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