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domingo, 20 de novembro de 2016

Clifford Luyk e Wayne Brabender, dois norte-americanos que mudaram a história do basquete na Espanha

O pivô Clifford Luyk era um jogador dominante no garrafão, rápido e com bom arremesso, ele marcou uma época no basquete espanhol, levando o Real Madrid a um outro patamar no cenário europeu. Os momentos de glória em Madrid o levaram a se transformar num dos maiores jogadores da história da Liga Espanhola.

Com a camiseta de basquete merengue, Luyk conquistou 14 vezes a Liga Espanhola (temporadas 1962-63, 63-64, 64-65, 65-66, 67-68, 68-69, 69-70, 70-71, 71-72, 72-73, 73-74, 74-75, 75-76 e 76-77) e 10 vezes a Copa do Rei (temporadas 1964-65, 65-66, 66-67, 69-70, 70-71, 71-72, 72-73, 73-74, 74-75 e 76-77).

Em 1965 o basquete da Espanha passava por uma intensa discussão sobre a presença de estrangeiros em sua liga e sobre como aquilo afetava, para bem ou para mal, o desenvolvimento do basquete espanhol. Muitas vozes queriam proibir a presença de estrangeiros no campeonato nacional, pois diminuía o tempo de quadra dos atletas nacionais.

Real Madrid 1967-68

Em julho, na Assembléia Nacional de Clubes, a maioria das agremiações, com apoio do presidente da federação, decidiu acabar com a presença de estrangeiros. O Real Madrid tinha dois norte-americanos: Bob Burgess e Clifford Luyk. Ao término da reunião, o dirigente do Real Madrid, Raimundo Saporta, bradou: "Se vão me proibir de usar Luyk e Burgess como estrangeiros do Real Madrid, não poderão me impedir de usá-los como espanhóis! Vou naturalizar os dois!”.

Bob Burgess chegou ao Real junto com Luyk, mas em 1967, quando a proibição de estrangeiros entrou em vigor, não quis renunciar à sua nacionalidade norte-americana, tendo sido então forçado a se mudar do basquete da Espanha para o da Itália, trocando o Real Madrid pelo Oransoda de Cantú.

A idéia de naturalização, como só se veio a saber anos depois, partiu do próprio Clifford Luyk; foi ele quem sugeriu a possibilidade a Saporta. Não foi fácil, porque pelas leis vigentes então não havia a possibilidade de dupla nacionalidade, para se tornar um espanhol, ele teria que renunciar à cidadania estadounidense. Mas Luyk estava muito seguro da opção que estava fazendo. Daí para frente ele vestiria não só a camisa do Real Madrid como a da Seleção da Espanha. Com a seleção, foi Medalha de Prata no Campeonato Europeu (Eurobasket) de 1973, em Barcelona, e foi 4º lugar na edição seguinte, em 1975, em Belgrado. Foi ainda 5º lugar no Campeonato Mundial, em Porto Rico.

Real Madrid 1969-70

Na Liga Espanhola, o time construiu uma soberania merengue. Não havia rivais na Espanha à altura daquele Real Madrid (e em boa parte do período vendo o Barcelona na 2ª divisão). O quinteto madrilenho era um timaço, ainda tinha Emiliano, Sáinz, Sevillano, Descartín e Ramos.

O primeiro título europeu foi conquistado em 1964 sobre o Spartak de Brno, da Tchecoslováquia, com uma equipe que reunia Luyk, Burgess, Hanson, Sáinz, Descartín, Sevillano e Emiliano. Em 1965 conquistou o bi-campeonato, superando o CSKA Moscou, da União Soviética, na final.

A primeira partida da final foi jogada em Moscou diante de 20 mil espectadores. Neste dia, Clifford Luyk teve aquela que é considerada a maior atuação de sua carreira, ele anotou 30 pontos e levou Madrid a uma vitória por 88 x 81. No segundo jogo, vitória por 76 x 62, fantasma soviético derrubado. Voltou a ser Bi-campeão Europeu em 1967 e 1968. E conquistou seu quinto título continental com o Real Madrid em 1974. Em 1978, quando o Real voltou a se sagrar campeão europeu, já não era mais titular, mas, em fim de carreira, fazia parte do grupo.

Quando Luyk chegou para jogar basquete na Espanha, encontrou uma conjuntura na qual só os ataques eram organizados, as defesas eram muito frouxas. A definição em suas próprias palavras: "os pivôs praticamente só pegavam rebotes para iniciar contra-ataques". Luyk tinha um repertório muito mais amplo, fazia um consistente papel defensivo, e no ataque não era um poste esperando rebotes, movimentava-se, e tinha um excelente arremesso, seus ganchos eram quase impossíveis de defender, e eram precisos, mesmo quando disparados de pontos mais distantes do aro. Tinha muita técnica e muita agressividade, era dominante dentro da "área pintada". Com o passar do tempo, Clifford Luyk foi distanciando-se cada vez mais do aro, numa reação estratégica à emersão de grandes e fortes pivôs no cenário europeu, como Meneghin, Cosic, Andreev e Alexander Belov, foi uma readaptação inteligente de seu estilo de jogo, para mantê-lo eficiente. Passou a fazer papel de ala-pivô, e no fim da carreira já era mais ala que pivô.

Real Madrid 1972-73

A história com Clifford Luyk quase que se repetiu com Wayne Brabender, um dos estrangeiros de passagem mais marcante no basquetebol espanhol. Assim como Luyk, Brabender também acabou se naturalizando e também tendo papel fundamental na conquista da Medalha de Prata com a Seleção da Espanha no Eurobasket de 1973.

Não demorou muito para que a restrição a estrangeiros imposta em 1967 ruísse na Espanha. Logo que ruiu, o Real Madrid foi a Minnesota buscar Wayne Brabender, que construiu uma carreira de 16 anos de sucesso com a camisa merengue, da temporada 1967-68 à de 1982-83. Antes de abandonar o basquete, ainda jogou duas temporadas da Liga Espanhola (1983-84 e 1984-85) pelo Caja Madrid. Foram muitos títulos: 13 vezes campeão da Liga (temporadas 1967-68, 68-69, 69-70, 70-71, 71-72, 72-73, 73-74, 74-75, 75-76, 76-77, 78-79, 79-80 e 81-82), 7 vezes campeão da Copa do Rei (1970, 71, 72, 73, 74, 75 e 77), e 4 vezes campeão da Euroliga (1967-68, 73-74, 77-78 e 79-80).

Mas o ala não chegou ao basquete espanhol arrebentando, seus primeiros momentos sob a camisa de Madrid foram discretos. Chegou muito jovem, e sentiu a mudança no ritmo de jogo. Com o tempo, porém, Brabender conseguiu impor na Espanha alguns conceitos do jogo que seu campeonato nacional não praticava: intensidade defensiva, sufocando e anulando as estrelas do adversário, e mais intensidade no próprio garrafão para pegar mais rebotes defensivos. Segundo as palavras dele próprio, só pelo técnico ter visualizado sua capacidade defensiva, ele não acabou dispensado. Como definiu o próprio Wayne Brabender: "Estou convencido que só fiquei no time naqueles primeiros meses porque o técnico vinha treinando por horas seguidas o sistema defensivo da equipe". Importante lembrar que Luyk já estava lá, defendendo o Real Madrid, quando Brabender chegou.

Mas nos últimos jogos de sua primeira temporada em Madrid, ele começou a provar que era eficiente não só defensivamente, mas também ofensivamente, de repente sua média de pontos subiu para quase 30 por jogo.

Wayne sobe para a cesta pelo Real Madrid

E a passagem da dupla Wayne e Luyk com a camisa da Seleção da Espanha foi um marco histórico, definindo um novo patamar para os espanhóis, que a partir de então passaram a ser vistos com outros olhos por seus adversários.

Real Madrid 1973-74

O marco foi a já citada conquista da prata no Eurobasket 1973, um pódio inédito para os espanhóis até então. Ainda fez parte das campanhas da Seleção Espanhola no 5º lugar no Mundial de 1974 em Porto Rico, no 4º lugar no Eurobasket 1975 em Belgrado, e também jogou as Olimpíadas de 1980, em Moscou, o Eurobasket de 1981, e o Mundial de 1982, na Colômbia.

Clifford Luyk e Wayne Brabender, dois norte-americanos que definitivamente mudaram a história do basquete na Espanha, sendo responsáveis diretos por levar o esporte disputado no país a outro patamar.



Conheça mais sobre a história do basquete espanhol aqui: Espanha 2006-2011: enfim campeã


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