A Recopa Européia de Basquete de 1989 foi um momento épico e histórico pelo inesquecível confronto entre Oscar Schmidt e Drazen Petrovic. O brasileiro Oscar jogava pelo Snaidero Caserta, da Itália. O time nas oitavas passou pelo CSKA Sófia, da Bulgária, após vencer por 84 x 74 e por 103 x 80 (na soma dos dois jogos: 187 x 154). O Real Madrid, de Petrovic, passou pelo Glasgow Rangers, da Escócia. AS quartas de final foram jogadas em dois grupos de quatro clubes, com os dois primeiros de cada grupo avançando à semi-final. Caserta e Real Madrid caíram no mesmo grupo, que também tinha ao Hapoel Tel Aviv, de Israel, e ao Cholet, da França. O time de Madrid ficou em 1º lugar, com 5 vitórias e 1 derrota, e o time italiano ficou em 2º, com 3 vitórias e 3 derrotas. Na semi-final, o Real Madrid passou pelo Cibona Zagreb, da Iugoslávia, com duas vitórias por 97 x 91, e por 119 x 92. O Caserta enfrentou ao Zalgiris Kaunas, da União Soviética, perdendo o primeiro jogo por 86 x 84 e vencendo o segundo por 98 x 80 (na soma dos dois jogos: 182 x 166).
Clssificaram-se então para o duelo final. Duas matérias abaixo contam como foi...
Matéria publicada no site Trivela.com.br: "A lendária final entre Juve e Real Madrid que teve o brilho de Oscar Schmidt", escrita por Leandro Stein e publicada em 16 de fevereiro de 2018.
Em um país no qual a organização do basquete muitas vezes caminhou lado a lado com o futebol, algumas das maiores torcidas do Brasil tiveram o gosto de idolatrar Oscar Schmidt com as cores de seu clube (Flamengo, Corinthians, Palmeiras). O Mão Santa, como qualquer garoto brasileiro, gostava de chutar sua bola pelas ruas de Natal e até sonhou seguir a carreira pelos gramados. Entretanto, para a sorte do basquete nacional, seu destino foi outro e marcou a história da modalidade. As quadras ganharam o seu maior cestinha, que, por outras vias, pôde de brilhar por alguns dos gigantes do país.
Enquanto a carreira de Oscar quase sempre é exaltada por aquilo que viveu na Seleção Brasileira, vale lembrar que o craque também construiu uma trajetória excepcional por clubes. E não apenas no Brasil. Na mesma época em que a Itália desfrutava de seus anos dourados no futebol, com tantos astros internacionais povoando os estádios da Serie A, o Mão Santa protagonizou o mesmo efeito nas quadras. As décadas de 1970 e 1980 marcaram um período memorável para o basquete italiano, em que os times do país apareciam entre os melhores da Europa. O cestinha brasileiro era uma das estrelas internacionais que ajudaram a impulsionar este momento.
A passagem mais marcante de Oscar pelo basquete italiano aconteceu na JuveCaserta. Apesar do nome e das cores bianconeri, a equipe não tinha ligação direta com a Juventus do futebol. A escolha, de qualquer maneira, não tinha sido aleatória: seu fundador era tifoso fanático da Velha Senhora e fez a homenagem quando criou a agremiação, em 1951. No fim das contas, o tributo até poderia parecer um contrassenso, décadas depois. Afinal, Caserta fica na Campânia, sul da Itália, e boa parte dos seguidores desta Juve, na realidade, torcem também para o Napoli no futebol. Não à toa, entre os ilustres que costumavam visitar as quadras para assistir ao Mão Santa estava ninguém menos do que Diego Armando Maradona, em seu auge pelos celestes.
Ao contrário da Juventus homônima, a JuveCaserta não era tão bem sucedida na Serie A do basquete. Nos oito anos em que Oscar defendeu o clube, por mais que os bianconeri frequentassem os playoffs, não conquistaram o Scudetto. Foram duas vezes vice-campeões, derrotados nas finais pela poderosa Olimpia Milano – dos americanos Mike D’Antoni e Bob McAdoo. O único título de Oscar aconteceu em 1988, faturando a Copa Italia sobre a Varese. Por outro lado, individualmente, o brasileiro destoava. Em seis anos consecutivos ele terminou como cestinha do Campeonato Italiano, de 1984 a 1989. Magia que transformou o garoto Kobe Bryant – filho de Joe Bryant, que atuava na liga – em um de seus maiores fãs.
O ápice de Oscar na JuveCaserta aconteceu além das fronteiras. Por conta do título na Copa Itália, os bianconeri ganharam o direito de disputar a Recopa Europeia em 1988/89 – em campeonato de moldes parecidos com o que se via no futebol. Nas semifinais, os italianos eliminaram o fortíssimo Zalgiris Kaunas, do mito lituano Arvydas Sabonis. Já na decisão, o desafio da Juve era ninguém menos que o Real Madrid, potência do basquete espanhol. Aquela final costuma ser cultuada pelos fãs da modalidade como uma das maiores de todos os tempos. Inclusive, por aquilo que protagonizou Oscar no jogo disputado em Pireu, na Grécia.
Drazen x Oscar
Se a Snaidero JuveCaserta (chamada assim na época por questões de patrocínio) confiava em Oscar Schmidt, o Real Madrid também contava com o seu gênio: Drazen Petrovic, considerado um dos melhores da história do esporte. Meses antes, quando os merengues contrataram o iugoslavo junto ao Cibona Zagabria, também tentaram tirar o Mão Santa da Itália, mas ele preferiu reiterar seu vínculo com os bianconeri. Assim, os possíveis companheiros se tornaram adversários na decisão da Recopa. Fariam a diferença para as suas equipes.
Oscar foi magistral naquela partida. Anotou 44 pontos, com seis cestas de três, além de 16 lances livres convertidos em 17 arremessados. O problema é que Petrovic estava completamente impossível. Foram 62 pontos para o iugoslavo, com 12 cestas em 14 tentativas dentro do perímetro, além de oito bolas de três. Faltando 19 segundos, Oscar chegou a acertar uma cesta de três que empatou o jogo em 102 a 102. Acabaria forçando a prorrogação, com uma posse desperdiçada para cada lado no tempo restante. Petrovic cometeu um erro que quase colocou tudo a perder para os madridistas. Todavia, a JuveCaserta também não aproveitou os seis segundos que faltavam. No estouro do cronômetro, o armador Nando Gentile sofreu uma falta, mas os árbitros assinalaram que o relógio havia zerado no momento do contato.
Na prorrogação, quatro jogadores titulares dos bianconeri (incluindo Oscar e o próprio Nando Gentile) acabaram excluídos por ultrapassarem o limite de faltas, assim como dois merengues. Com o caminho livre, ficou mais fácil para Petrovic determinar o título do Real Madrid. O iugoslavo somou 11 pontos no período extra, determinando a vitória por 117 a 113. Entretanto, os questionamentos sobre a arbitragem pairaram entre os torcedores da Juve.
Petrovic deixou o Real Madrid já na temporada seguinte, juntando-se ao Portland Trail Blazers. Oscar, por sua vez, permaneceu na JuveCaserta por mais um ano, antes de se transferir à Pallacanestro Pavia. O Mão Santa ficou na Itália até 1993, antes de uma rápida passagem pelo Valladolid. Depois, voltaria ao Brasil, para encerrar a sua carreira atuando por Corinthians e Flamengo. Uma trajetória respeitabilíssima.
A história também foi contada pelo site argentino Basquet Plus, em publicação de 18 de janeiro de 2020:
A única temporada de Drazen Petrovic no Real Madrid deixaria momentos inesquecíveis. O melhor jogador fora da NBA naquele momento na maior equipe a contexto internacional. O yin e o yang, duas almas gêmeas moldadas com as mãos de um talentoso artesão. Nessa campanha houve um jogo que reteve todo o foco. Um enfrentamento entre duas potências do basquete em um ótimo momento. Um era do Leste da Europa e o outro era um brasileiro que todos conheciam pelo nome Oscar Schmidt.
O sul-americano jogava para o Snaidero de Caserta e o europeu para o conjunto merengue. O cenário era a final da Recopa de 1989 e o ringue estava montado. Não cabia um alfinete no ginásio e desde o primeiro minuto, ambos roubaram o show. De um lado o iugoslavo atacava a partir dos espaços que criava na defesa adversária, e do outro Oscar castigava com seus arremessos polidos pelos treinamentos diários nos quais tentava mais de 1.000 tiros.
Estes 45 minutos foram um espetáculo que curava todos os males e fazia qualquer um esquecer suas dores. Petrovic terminou com 62 pontos, não tendo errado nenhum arremesso de dois pontos nem no 2º tempo nem na prorrogação. Pelo outro lado, Oscar converteu 44 arremessos (seis de três pontos) que não foram suficientes para freiar o furacão genial de Sibenik, aquele que no final do encontro sorriria com o troféu após o triunfo por 117 x 113.
A atuação de Petrovic seria uma das melhores da história e a do jogador sul-americano também não ficava muito atrás, mas tudo ficou relegado ao enfrentamento destas duas lendas, que depois tomaram caminhos muito distintos. Oscar Schmidt seguiria jogando um tempo mais na Europa, e Drazen, lamentavelmente, faleceria num acidente automobilístico no dia 7 de junho de 1993, justo quando a NBA começava a descobrir seu talento e a amá-lo.
Ficha do jogo:
14/03/1989 - Real Madrid 117 x 113 JuveCaserta
Parciais: 60 x 57 / 42 x 45 (102 x 102) / 15 x 11 (117 x 113)
Real Madrid: Drazen Petrovic (62), José "Chechu" Biryukov (20), Josep "Pep" Cargol (4), Fernando Romay (4) e Fernando Martin (11). Téc: Lolo Sainz. Banco: José Luis Llorente (0), Johnny Rogers (14) e Antonio Martin (2).
JuveCaserta: Vincenzo Esposito (2), Nando Gentile (34), Oscar Schmidt (44), Sandro Dell'Agnello (18) e Georgi Glushkov (13). Téc: Franco Marcelletti. Banco: Franco Boselli (2), Fulvio Polsello (0), Giuseppe Vitiello (0), Giacomantonio Tufano (0) e Massimilano Rizzo (0).
No time merengue, Drazen Petrovic jogou 45 minutos, José "Chechu" Biryukov jogou 41, o ídolo espanhol Fernando Martin jogou 40 minutos e Pep Cargol jogou 29 minutos. Estes quatro foram os que mais atuaram. Dentre os demais, Fernando Romay jogou 23 minutos, Antonio Martin jogou 22 e o norte-americano Johnny Rogers jogou 21. Também esteve em quadra o armador José Luis Llorente, mas este jogou apenas 4 minutos.
No time italiano, Oscar Schmidt jogou 44 minutos e fez 44 pontos, o búlgaro Georgi Glushkov jogou 43, Nando Gentile jogou 42 e Sandro Dell'Agnello também jogou 42 minutos. Estes tendo sido os que mais atuaram. Os minutos restantes foram divididos entre Vincenzo Esposito, com 19 minutos, Franco Boselli com 15, Fulvio Polsello com 12, Massimilano Rizzo com 5, Giuseppe Vitiello com 2 e Giacomantonio Tufano que jogou 1 minuto.
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