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quarta-feira, 5 de março de 2014

A pior campanha da história da Seleção Brasileira de Basquete Masculino


O basquete brasileiro vinha empolgado com a Era Ruben Magnano a frente da equipe. Depois de 16 anos o time havia voltado às Olimpíadas, em Londres 2012, estava garantido, como país-sede nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro-2016, e havia obtido uma honrosa campanha no ano anterior, voltando a figurar entre as cinco melhores equipes do mundo.

Tudo parecia estar indo muito bem. Em 2013 o compromisso era jogar a Copa América Pré-Mundial na Venezuela. O basquete brasileiro nunca na história havia deixado de se classificar para um Mundial de Basquete Masculino.

Ruben Magnano teve problemas para convocar a seleção. Como sempre vinha acontecendo, o problema eram os jogadores que jogavam na NBA.

Leandrinho Barbosa, Anderson Varejão e Nenê Hilário haviam sofrido sérias contusões na temporada 2012-13 da NBA e estavam fora de combate havia meses. Os três disseram que estes problemas médicos os impediam de se apresentar.

Tiago Splitter, o único jogador da NBA que nunca havia rechaçado um convite para se apresentar à Seleção Brasileira, tendo participado de todos os compromissos nacionais entre 2005 e 2012, e recém havia jogado a final da NBA, na qual seu time, o San Antonio Spurs ficou com o vice-campeonato, alegou que estava cansado e necessitando de férias. Splitter também pediu dispensa.

Vitor Faverani, em negociações para ser contratado pelo Boston Celtics, e Lucas Nogueira, recém escolhido no Draft da NBA, também pediram dispensa.

As últimas baixas foram Augusto Lima e Marquinhos (MVP da edição 2012-13 da Liga Brasileira) que se lesionaram. Marquinhos chegou a se apresentar e treinar com o grupo, mas, em recuperação de uma cirurgia recém feita no joelho, voltou a sentir dores no local e pediu dispensa.

O Brasil iniciou a fase de preparação sendo campeão do Torneio Super Four de Salta, na Argentina. Venceu o Uruguai por 92 x 71 e o México, que venceu a Argentina, por 94 x 68. Mesmo com os desfalques, as coisas pareciam sob controle para a Copa América.

03/08/12 – BRASIL 92 x 71 URUGUAI
Raulzinho (11), Vítor Benite (11), Arthur Belchor (8), Rafael Mineiro (10) e Rafael Hettsheimeir (13). Depois: Larry Taylor (13), Rafael Luz (2), Léo Meindl (13), Guilherme Giovannoni (3) e Cristiano Felício (5).

04/08/12 – BRASIL 94 x 68 MÉXICO
Marcelinho Huertas (2), Larry Taylor (2), Alex Garcia (7), Rafael Mineiro (9) e Rafael Hettsheimeir (14). Depois: Raulzinho (6), Rafael Luz (0), Vítor Benite (17), Léo Meindl (2), Arthur Belchor (13), Guilherme Giovannoni (17) e Cristiano Felício (5).

Ruben Magnano fez então os dois primeiros cortes, dispensou o jovem Léo Meindl, de Franca, e o jovem armador Scott Machado, que fazia sua primeira participação com a Seleção Brasileira. Nascido nos EUA e filho de brasileiros, Scott se destacou na NCAA, não conseguiu vaga no Draft 2012, mas teve oportunidades de disputar a temporada da NBA, primeiro no Houston Rockets e depois no Golden State Warriors; acabou dispensado de ambos. Importante saber que até aí Magnano ainda esperava contar com Marquinhos na Copa América.

Dando sequência à preparação o Brasil venceu o Uruguai por 83 x 69 em amistoso em São Carlos (SP). Depois disputou o Torneio Super Four em Anápolis (GO). O Brasil venceu o México por 88 x 81 e perdeu a final para a Argentina por 85 x 80.

10/08/12 – 88 x 81 MÉXICO
Marcelinho Huertas (7), Larry Taylor (5), Alex Garcia (8), Rafael Mineiro (1) e Caio Torres (19). Depois: Raulzinho (6), Rafael Luz (0), Vítor Benite (9), Arthur Belchor (14), Lucas Mariano (0), Cristiano Felício (10) e JP Batista (9).

11/08/12 – 80 x 85 ARGENTINA
Marcelinho Huertas (17), Larry Taylor (12), Alex Garcia (16), Rafael Hettsheimeir (9) e Caio Torres (8). Depois: Raulzinho (3), Vítor Benite (1), Arthur Belchor (3), Guilherme Giovannoni (2), Lucas Mariano (3), Cristiano Felício (2) e JP Batista (4).

Apesar do revés, a confiança na vaga ainda se mostrava inabalada. Eram 10 seleções na Copa América e 4 garantiam vaga no Mundial. Muito difícil acreditar que o Brasil não obteria sua vaga. Argentina, Venezuela e Canadá também tinham desfalques de jogadores da NBA. México, Uruguai, Jamaica e Paraguai tinham menos força. Porto Rico era favorito, ao lado da Argentina. Esperava-se que o Brasil disputasse com República Dominicana, Canadá e Venezuela as outras duas vagas.

Na sequência, mais um amistoso contra o México, que o Brasil venceu, em São Paulo, por 87 x 82.
Foram três jogos contra o México na preparação e três vitórias! É importante destacar isto, porque o México, surpreendentemente, acabou campeão daquela Copa América!

Magnano fez então os dois últimos cortes: os ala-pivôs Rafael Mineiro, do Pinheiros, e o jovem Lucas Mariano, do Franca.

O grupo final estava definido:
Armadores: Marcelinho Huertas (Barcelona), Larry Taylor (Bauru), Raulzinho (Lagun Aro, Espanha) e Rafael Luz (Blusens, Espanha).
Escoltas: Alex Garcia (UniCeub Brasília) e Vítor Benite (Flamengo)
Ala: Arthur Belchor (UniCeub Brasília) 
Ala-pivôs: Guilherme Giovannoni (UniCeub Brasília)
Pivôs: Rafael Hettsheimeir (Real Madrid, Espanha), JP Batista (Le Mens, França), Caio Torres (São José) e Cristiano Felício (Flamengo).




COMISSÃO TÉCNICA:


Definido o grupo, o Brasil embarcou para disputar a Copa Tuto Marchand em Porto Rico. Nas três edições que houveram da competição, o Brasil foi campeão das três, em 2007, 2009 e 2011.

Na estréia, vitória apertada e preocupante sobre a República Dominicana por 78 x 77. Na sequência derrotas para Argentina (90 x 70) e Porto Rico (84 x 81). Era o sinal de que diferentemente do pensado até então, o Brasil tinha motivos para se preocupar com o risco de perder a vaga. No último jogo, vitória por 77 x 70 sobre o Canadá para acalmar um pouco. As coisas ainda pareciam sob controle.

Veio então a Copa América. Na estréia, o Brasil perdeu para Porto Rico por 72 x 65. Uma derrota até certo ponto previsível. A surpresa veio na segunda rodada, com um time de baixa estatura, o Brasil teve muita dificuldade diante da média de altura bem superior do time canadense, bem mais atlético que o brasileiro. Neste jogo os erros na escolha final de Magnano ficaram evidentes (excesso de jogadores nas posições 1 e 2, e pivôs lentos). O Canadá venceu facilmente por 91 x 62. A vida brasileira na competição se complicava.

E tudo desandou. No terceiro jogo, sob forte pressão, o Brasil, nervoso, conseguiu ser derrotado por 79 x 73 para o Uruguai. Havia 18 anos que o basquete masculino uruguaio não vencia a Seleção Brasileira. Inacreditável.

A Copa América era dividida em dois grupos de cinco. Os grupos jogavam entre si e o de pior campanha era eliminado, de forma que na segunda fase, no cruzamento entre grupos, os piores de cada grupo ficavam de fora.

O Brasil passou por este vexame! Perdeu inacreditavelmente para a Jamaica no último jogo (78 x 76) e conseguiu o inacreditável. Terminou em 9º lugar, a pior campanha de sua história!

Os jogos do Brasil na Copa América 2013:

30/08/12 – 65 x 72 PORTO RICO – Caracas, Venezuela
Marcelinho Huertas (16), Larry Taylor (5), Alex Garcia (7), Guilherme Giovannoni (11) e Rafael Hettsheimeir (7). Depois: Vítor Benite (10), Arthur Belchor (2), JP Batista (7) e Caio Torres (0).

01/09/12 – 62 x 91 CANADÁ – Caracas, Venezuela
Marcelinho Huertas (3), Larry Taylor (3), Alex Garcia (10), Guilherme Giovannoni (11) e Rafael Hettsheimeir (6). Depois: Rafael Luz (5), Vítor Benite (8), Arthur Belchor (6), JP Batista (4) e Cristiano Felício (2). Raulzinho (2) e Caio Torres (2).

02/09/12 – 73 x 79 URUGUAI – Caracas, Venezuela
Marcelinho Huertas (9), Larry Taylor (10), Alex Garcia (6), Guilherme Giovannoni (20) e Rafael Hettsheimeir (9). Depois: Raulzinho (1), Vítor Benite (0), Arthur Belchor (0), JP Batista (6) e Caio Torres (12).

03/09/12 – 76 x 78 JAMAICA – Caracas, Venezuela
Marcelinho Huertas (6), Larry Taylor (9), Alex Garcia (11), Guilherme Giovannoni (11) e JP Batista (9). Depois: Raulzinho (6), Vítor Benite (12) e Caio Torres (12).

No final, o México, a quem o Brasil havia superado três vezes nos amistosos preparatórios foi campeão pela primeira vez em sua história.Argentina, Porto Rico e República Dominicana ficaram com as outras três vagas. Das quatro equipes que derrotaram o Brasil, só uma conseguiu vaga para o Mundial.


O Desempenho Histórico do Brasil na Copa América:

A Copa América começou a ser jogada em 1980 e tem "duas caras", como Pré-Olímpico e como Pré-Mundial. Somente em três oportunidades (o 9º lugar de 2013 entre elas) o Brasil não terminou entre os 4 primeiros colocados.

Os piores desempenhos históricos do Brasil haviam sido na Copa América como Pré-Olímpico, com um 6º lugar em 1999, treinada por Hélio Rubens, e um 7º lugar em 2003, treinada por Lula Ferreira.


Em 1999, o time de Hélio Rubens jogava com Ratto, Demétrius Ferracciú, Vanderlei Mazzuchini, Rogério Klafke e Josuel. Os reservas eram: Helinho, Caio Cazziolato, Marcelinho Machado, Sandro Varejão e Aylton. Ainda faziam parte do elenco: Luís Fernando e Michel.

A campanha brasileira: 70 x 64 República Dominicana / 68 x 91 Venezuela / 88 x 96 Panamá / 75 x 95 Canadá / 73 x 90 EUA / 100 x 74 Uruguai / 77 x 79 Argentina. O Brasil sofreu uma inacreditável derrota para o Panamá, perdeu para Venezuela, Canadá e Argentina, e teve uma derrota previsível para os EUA.

Em 2003, o time de Lula Ferreira jogava com Leandrinho, Alex Garcia, Marcelinho Machado, Anderson Varejão e Nenê Hilário. Os reservas eram: Valtinho, Renato Lamas, Guilherme Giovanonni, Luís Fernando e Tiago Splitter. E também faziam parte do grupo: Demétrius Ferracciú e Murilo Becker. Era um time jovem, que estava sendo reconstruído, mas uma campanha que deixou uma marca negativa nesta geração.

A campanha brasileira: 76 x 110 EUA / 100 x 41 Ilhas Virgens / 96 x 89 Venezuela / 104 x 72 República Dominicana / 74 x 76 Argentina / 97 x 101 Canadá / 70 x 72 Porto Rico / 92 x 102 México. O time esteve com uma atuação dentro do esperado até a derrota para a Argentina. Dela para frente, desandou, terminando com uma derrota imprevisível para o México, que àquela altura só serviu para decretar aquela como a pior campanha até então da história da Seleção Brasileira. Se tivesse vencido aos mexicanos, teria igualado a campanha de 1999.

Se catástrofes como as de 1999 e de 2003 pareciam ter ficado para trás e o basquete masculino brasileiro havia se reconstruído, a Copa América de 2013 serviu para dar vários passos atrás na evolução que se havia conseguido desde que o espanhol Moncho Monsalve assumiu como treinador, e depois que passou o bastão para o argentino Ruben Magnano.

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