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quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

LeBron James e Coach K: tensão e perdão em prol do ouro olímpico

Texto original de Alice Barbosa, publicado no site Esporte Clube Basquete, em 23 de junho de 2021. Abaixo a íntegra:


"Olhe-me nos olhos. Precisamos ter um contato visual"


Do alto de seus menos de 1,80m, Mike Krzyzewski, ou melhor, sua persona Coach K, pediu ao gigante LeBron James que nunca mais virasse as costas para ele quando estivesse falando.


James, que não esconde suas atitudes impopulares, algumas do mesmo tamanho de sua fama ou altura – como deixar uma partida antes do término quando seu time está sendo derrotado -, percebeu que essa era uma das situações onde deveria retroceder e escutar.


Afinal, para quem se autointitula O Rei, saber ouvir e, principalmente, A QUEM ouvir, é matéria rara e importante. Ofício de lapidação para quem deseja ser reconhecido como o melhor jogador a pisar em uma quadra de basquete.


Coach K, assim como James, tem a vaidade em seu fator de composição. Atribuída (ou não) à infância difícil, à sobrevivência de um filho de imigrantes poloneses na violenta Chicago, o fato é que a soberba de Krzyzewski, o lendário técnico da Duke, viu em LeBron, na sua passagem pela seleção olímpica, a oportunidade de ser a referência de liderança do astro.




Antes de mais nada, os dois possuem o poder inerente à narrativa dos grandes atletas que se destacam não somente no basquete, mas em outros esportes.


O incidente, ocorrido nos treinamentos de 2008 para os Jogos Olímpicos de Pequim, foi, em primeiro lugar, um dos divisores de água na carreira dos dois. Entretanto, Coach K não se esquiva de explicá-lo.


"Primeiramente, eu não grito tanto como eu fazia quando era um técnico mais jovem" explicou. "Mas nunca gritei realmente com a seleção estadunidense. No caso de LeBron, eu e ele temos um ótimo relacionamento. Bem, como chegamos nisso? Sendo honestos desde o princípio".


"Neste caso específico, eu estava dizendo a ele: olhe-me nos olhos. Nós precisamos ter um contato visual. Antigamente, eu diria o que diabos você está fazendo? Seria um confronto grande. Mas eles (nota: os jogadores) não estão acostumados a olharem para alguém todo o tempo".


Finalmente, os resultados desta construção de relacionamento de dois notórios alfas do basquete foram as duas medalhas olímpicas de ouro para LeBron – 2008, em Pequim, e 2012, em Londres. Coach K acumula mais um reconhecimento dourado, o do Rio de Janeiro, dos Jogos Olímpicos de 2016.


De maneira sagaz, Coach K aproveitou o incidente da falta de contato visual e o transformou em um dos 14 pilares de sua gestão na seleção olímpica dos EUA. "Quando conversamos com outras pessoas, olhamos diretamente para elas", pontuou Krzyzewski. Dessa forma, ele instaurou, não só para James, mas para outros atletas, fundamentos de liderança e convivência.


Assim, no mesmo ano em que Coach K e LeBron James conquistaram o ouro em Pequim, anteriormente o técnico havia desembarcado em Akron, cidade natal do atleta, para uma visita social. Mike Krzyzewski, após o incidente, queria conhecer as origens de James, seus amigos e família.


Posteriormente, James atribuiria de maneira pública ao técnico da Duke, que fará neste ano sua última temporada na NCAA, sua construção de liderança. Entretanto, esta necessidade de manejar sua capacidade como líder era algo incipiente.


O ex-treinador de James no colegial, Keith Dambrot, disse, posteriormente, que "as pessoas ficam com um pouco de medo dele, e querem se dar bem com James para manterem seus empregos. Mas ele sempre quis ser treinado. Ele quer que lhe digam a verdade".



Em 2015, entretanto, Coach K não seguiu na seleção e anunciou que passaria o bastão para Gregg Popovich – porém, nesse meio tempo, ainda participaria dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, um ano depois. Mas as lições de liderança permaneceram para LeBron que, dessa época até agora, conseguiu mais dois anéis de campeão da NBA.


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