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domingo, 21 de abril de 2013

Seleção Brasileira de 2010 a 2019

História da Seleção Brasileira de Basquete Masculino
Brazilian Male Basketball Team's History
Historia de la Seleción Brasileña de Baloncesto

O início da década de 2010 foi marcado pela virada no basquete brasileiro. Após vários anos perdendo espaço no cenário internacional, o Brasil voltou a figurar entre as seis maiores forças mundiais. E foi uma virada com sotaque estrangeiro. Depois da passagem do espanhol Moncho Monsalve como técnico da Seleção Brasileira em 2008 e 2009, a liderança mudou de mãos e recaiu num treinador nascido na Argentina. Superando a rivalidade esportiva entre os dois países, a CBB apostou na competência do cordobês Ruben Magnano, que fez história com a seleção argentina no Mundial de 2002, quando seu time foi o primeiro a vencer os EUA desde que estes começaram a utilizar jogadores da NBA, e foi Vice-campeão Mundial. Depois, em 2004, a glória foi ainda maior, pois além de voltar a derrubar os jogadores da NBA dos EUA, sagrou-se Campeão Olímpico, com uma Medalha de Ouro que só Estados Unidos, União Soviética e Iugoslávia (esta uma única vez) haviam conseguido conquistar na história do basquete masculino. E o argentino Magnano não estava disposto a ser o único com sotaque no selecionado brasileiro. E seria alguém mais além de seu assistente-técnico, o também argentino Fernando Duró. Ele pediu a naturalização do norte-americano Larry Taylor, armador do time de Bauru.

Carreira dos estrangeiros que defenderam a Seleção no começo de década:
Ruben Magnano: 1990-94 Atenas de Córdoba (Argentina), 1994-96 Luz y Fuerza (Argentina), 1996-99 Atenas de Córdoba (Argentina), 1999-00 Boca Juniors (Argentina), 2001-04 Seleção da Argentina, 2005-07 Varese (Itália), 2007-08 Cajasol (Espanha), 2008-10 Atenas de Córdoba (Argentina), 2010-16 Seleção do Brasil, 2017-18 Trotamundos de Carabobo (Venezuela); 2018-24 Seleção do Uruguai.
Larry Taylor: 2001-03 Missouri Western College (EUA), 2004 Chicago Soldiers (EUA), 2005 La Huacana (México), 2006 Frayles de Guasave (México), 2007 Guaiqueries de Margarita (Venezuela), 2007 Lobos Grises de Durango (México), 2008 Lobos de Mazatlán (México), 2008-2015 Bauru (SP), 2015-18 Mogi (SP); 2018-24 Bauru (SP).

O técnico argentino Ruben Magnano e o norte-americano Larry Taylor,
acima com a camisa do Bauru, e abaixo defendendo o Brasil


O primeiro desafio de Magnano com o Brasil era o Mundial 2010, na Turquia. O único desfalque seria Nenê Hilário. O time era praticamente o mesmo dos anos anteriores, com Marcelinho Huertas, Alex Garcia, Leandrinho, Tiago Splitter e Anderson Varejão como titulares, e no banco Nezinho, Marcelinho Machado, Marquinhos, Guilherme Giovanonni e Murilo Becker, com os jovens Raulzinho e JP Batista fechando o grupo. A campanha brasileira foi só razoável, com vitórias sobre Irã (81 x 65), Tunísia (80 x 65) e Croácia (92 x 74), e derrotas para EUA (apertados 68 x 70) e Eslovênia (77 x 80). Cruzou nas Quartas de final com a Argentina e, novamente, foi eliminado pelo rival (89 x 93). Terminou com um 9º lugar. Depois de um 11º lugar no Mundial de 1994, um 10º lugar no Mundial de 1998, um 8º lugar no Mundial de 2002 e um horrendo 17º lugar no Mundial de 2006, um 9º lugar no Mundial de 2010 ainda não era nenhum sinal significativo de melhora. Mas o trabalho de Ruben Magnano estava apenas começando, era necessário dar-se tempo ao tempo.

Da esquerda para a direita estão, de pé: Ruben Magnano, JP Batista, Marquinhos, Murilo,
Anderson Varejão, Tiago Splitter, Guilherme Giovannoni. Agachados: Raulzinho,
Marcelinho Machado, Alex Garcia, Nezinho, Leandrinho e Marcelinho Huertas


No ano seguinte, 2011, o segundo desafio foi o Pré-Olímpico em Mar del Plata, na Argentina. A missão era menos árdua do que a de outros Pré-Olímpicos, pois como os EUA haviam sido Campeões Mundiais em 2010, já estavam classificados para a Olimpíada de Londres. Eram 2 vagas disponíveis, sendo a Argentina, ainda mais jogando em casa, a ampla favorita para conquistar uma delas. Brasil e Porto Rico eram os principais candidatos à outra. Sob a Seleção Brasileira havia a pressão dos 16 anos sem jogar o basquete masculino em Jogos Olímpicos. A missão ficou um pouco mais difícil porque Anderson Varejão, por problemas físicos, Nenê e Leandrinho, que pediram dispensa, não estariam jogando e desfalcariam a equipe. O time titular do Brasil jogou com Marcelinho Huertas, Alex Garcia, Marquinhos, Guilherme Giovanonni e Tiago Splitter. No banco estavam Marcelinho Machado e Rafael Hettsheimeir. O Brasil venceu à Venezuela (92 x 83), ao Canadá (69 x 57), perdeu para a República Dominicana (74 x 79), e venceu a Cuba (93 x 83), Uruguai (93 x 66), Panamá (90 x 65) e sensacionalmente à Argentina (73 x 71), e teve outra grande vitória sobre Porto Rico (94 x 72). Classificou-se para jogar a semi-final contra a República Dominicana, única equipe para quem havia perdido até ali. Uma vitória colocava o Brasil de novo numa Olimpíada. Vitória para a história: Brasil 83 x 76 República Dominicana. Com o resultado, o Brasil classificou-se ao lado da Argentina, com quem ainda cabia jogar a final. Os argentinos venceram, 75 x 80 Argentina. Mas a missão estava cumprida. Após 16 anos, o Brasil estava de novo no torneio olímpico de basquetebol masculino. Eis a pontuação brasileira neste Pré-Olímpico: Marcelinho Huertas (116 pts), Alex Garcia (86), Marquinhos (101), Guilherme Giovanonni (111) e Tiago Splitter (87). Rafael Luz (25), Vítor Benite (67), Marcelinho Machado (88), Rafael Hettsheimeir (92) e Caio Torres (36). Suplentes: Nezinho (4) e Augusto Lima (23).

Da esquerda para a direita estão, de pé: Demétrius, José Alves Neto, Augusto Lima, , Tiago Splitter,
Caio Torres, Marquinhos, Hettsheimeir, Guilherme Giovannoni, Ruben Magnano e Fernando Duró.
Agachados: Vítor Benite, Nezinho, Marcelinho Machado, Marcelinho Huertas, Alex Garcia e Rafael Luz.


No início dos Anos 2010, um dos grandes desafios do basquete brasileiro era ter que conviver com uma realidade de formação de seus jovens talentos no exterior. Por um lado o intercâmbio era um fator positivo, por outro era um indício de uma má qualidade de estruturas de trabalho para a garotada da base no território nacional. Foram inúmeros casos. O armador Rafael Luz saiu de Jundiaí em 2007, com só 15 anos, para o juvenil do Unicaja Málaga, da Espanha, onde esteve até 2009, tendo depois seguido carreira na Liga Espanhola com o Axarquía por duas temporadas (2009-11), o Granada (2011), o Alicante (2011-12) e o Obradoiro (2012-15). Caminho parecido ao do ala-pivô gaúcho, de Porto Alegre, Vitor Faverani, que chegou à Espanha aos 17 anos, em 2005, também para defender ao Unicaja Málaga, que o emprestou por seguidas temporadas: para Axarquía (2005-06), Zaragoza (2006-07), Lagun Aro Gipuzkoa (2007-08), de novo Axarquía (2008-09) e Murcia (2009-10 e 2010-11); em 2011 ele foi contratado pelo Valência, onde se destacou bastante, o suficiente para lhe abrir a oportunidade de jogar uma temporada pelo Boston Celtics na NBA. Mas Faverani, embora diversas vezes chamado por Magnano, decidiu não jogar pela Seleção Brasileira. Outro com trajetória similar foi o do carioca Augusto Lima, que chegou ao Unicaja Málaga em 2007, aos 16 anos, para jogar no juvenil da equipe, tendo depois passado por Axarquía, Granada, Unicaja Málaga e Murcia.

Principais jogadores brasileiros na década de 2010:
Marcelinho Huertas: 2002-03 Pinheiros (SP), 2003-04 Paulistano (SP), 2004-2007 Joventut Badalona (Espanha), 2007-08 Bilbao (Espanha), 2008-09 Fortitudo Bologna (Itália), 2009-2011 Saski Baskonia (Espanha), 2011-2015 Barcelona (Espanha), 2015-17 Los Angeles Lakers (NBA), 2017-19 Saski Baskonia (Espanha), 2019-24 Tenerife 1939 Canarias (Espanha)
Raul Togni Neto, "Raulzinho": 2009-11 Minas Tênis Clube (MG), 2011-14 Lagun Aro (Espanha), 2014-15 Murcia (Espanha), 2015-19 Utah Jazz (NBA), 2019-20 Philadelphia 76ers (NBA), 2020-22 Washington Wizards (NBA), 2022-23 Cleveland Cavaliers (NBA), 2023-24 Fenerbahce (Turquia)
Vítor Benite: 2008-09 Pinheiros (SP), 2009-11 Franca (SP), 2011-12 Winner Limeira (SP), 2012-15 Flamengo (RJ), 2015-18 Murcia (Espanha), 2018 Cedevita (Croácia), 2018-22 San Pablo Burgos (Espanha), 2022-23 Gran Canaria (Espanha), 2023-24 Palencia (Espanha)
Rafael Luz: 2009 Unicaja Málaga (Espanha), 2009-10 Axarquía (Espanha), 2010-11 Granada (Espanha), 2011-12 Lucentum Alicante (Espanha), 2012-15 Obradoiro (Espanha), 2015-16 Flamengo (RJ), 2016-17 Saski Baskonia (Espanha), 2017-18 Franca (SP), 2018-19 Andorra (Espanha), 2019-21 Murcia (Espanha), 2021 Nevezis (Lituânia), 2021-22 Bilbao (Espanha), 2022-24 Andorra (Espanha)
Augusto Lima: 2009 Unicaja Málaga (Espanha), 2009-10 Axarquía (Espanha), 2010-11 Granada (Espanha), 2011-13 Unicaja Málaga (Espanha), 2013-16 Murcia (Espanha), 2016 Real Madrid (Espanha), 2016-17 Zalgiris Kaunas (Lituânia), 2017 Besiktas (Turquia), 2018 Xinjiang Flying Tigers (China), 2018 Murcia (Espanha), 2018 Cedevita (Croácia), 2018-20 San Pablo Burgos (Espanha), 2020-22 Murcia (Espanha), 2022-24 Unicaja Málaga (Espanha)
Rafael Hettsheimeir: 2002-05 COC/Ribeirão Preto (SP), 2005-07 Akasvayu Vic (Espanha), 2007-09 Lleida (Espanha), 2009-10 Obradoiro (Espanha), 2010-12 Zaragoza (Espanha), 2012-13 Real Madrid (Espanha), 2013-14 Unicaja Málaga (Espanha), 2014-2016 Bauru (SP), 2016-17 Fuenlabrada (Espanha), 2017 Santeros de Aguada (Porto Rico), 2017-18 Bauru (SP), 2018-20 Franca (SP), 2020-21 Flamengo (RJ), 2021-22 Bauru (SP), 2022-23 Flamengo (RJ), 2023-24 Corinthians (SP)


Após a conquista da vaga para as Olimpíadas, uma equipe renovada foi para o Pan-Americano de Guadalajara e, recheada de garotos, obteve tão só um 5º lugar, a pior colocação brasileira em Jogos Pan-Americanos. Mas isto em nada mudou o projeto brasileiro, que teria agora duas Olimpíadas asseguradas pela frente: Londres 2012 e Rio de Janeiro 2016.

Para as Olimpíadas de 2012, os 12 convocados de Ruben Magnano foram: Tiago Splitter (San Antonio Spurs - NBA), Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers - NBA), Leandro Barbosa (Indiana Pacers - NBA), Nenê Hilário (Washington Wizards - NBA), Marcelinho Huertas (Barcelona - Espanha), Raulzinho (Lagun Aro - Espanha), Alex Garcia (UniCeub Brasília), Guilherme Giovannoni (UniCeub Brasília), Marcelinho Machado (Flamengo), Caio Torres (Flamengo), Marquinhos (Pinheiros) e Larry Taylor (Bauru). O único desfalque era Rafael Hettsheimeir, que precisou passar por uma cirurgia no joelho às vésperas da Olimpíada e foi substituído por Caio Torres. O quinteto titular foi Marcelinho Huertas, Alex Garcia, Leandrinho, Anderson Varejão e Tiago Splitter. O Brasil conseguiu fazer uma boa campanha, terminando em 5º lugar. Venceu Austrália (75 x 71), Grã-Bretanha (67 x 62), China (98 x 59) e Espanha (88 x 82), perdeu na 1ª fase só para Rússia, e na última bola do jogo: 74 x 75. O algoz nas Quartas de final foi mais uma vez a Argentina; derrota do Brasil por 77 x 82. Os EUA ficaram com o Ouro, a Espanha com a Prata, a Rússia com o Bronze e a Argentina em 4º lugar. O Brasil, enfim, voltava a figurar entre as maiores forças do basquete masculino mundial. Eis a pontuação da equipe em Londres 2012: Marcelinho Huertas (68), Alex Garcia (24), Leandrinho (97), Anderson Varejão (44) e Tiago Splitter (65). Larry Taylor (27), Marcelinho Machado (23), Marquinhos (43), Guilherme Giovannoni (30) e Nenê (35). Suplentes: Raulzinho (11) e Caio Torres (12).

Da esquerda para a direita estão, de pé: Fernando Duró, Caio Torres, Marquinhos, Tiago Splitter,
Anderson Varejão, Nenê, Guilherme Giovannoni, Ruben Magnano e José Alves Neto. Agachados:
Leandrinho, Raulzinho, Marcelinho Huertas, Marcelinho Machado, Larry Taylor e Alex Garcia.


Em 2013, o desafio foi o Pré-Mundial. E desta vez, o time de Magnano entrava como favoritíssimo à vaga. Mas se em 2012, o Brasil jogou novamente os Jogos Olímpicos após 16 anos de ausência e conseguiu um honroso 5º lugar, em 2013, a equipe teve um desempenho horroroso na Copa América Pré-Mundial: jogou quatro jogos, perdeu os quatro (Porto Rico, Canadá, Uruguai e Jamaica), foi eliminado logo na primeira fase. Foi o pior desempenho de história da Seleção Brasileira de Basquete Masculino numa competição internacional até aquele momento.

Em 2014, a Seleção Brasileira tinha o Mundial para jogar e se redimir do fiasco de 2013. Os convocados pelo treinador argentino: Leandrinho Barbosa (Phoenix Suns - NBA), Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers - NBA), Tiago Splitter (San Antonio Spurs - NBA). Nenê Hilário (Washington Wizards - NBA), Marcelinho Huertas (Barcelona - Espanha), Rafael Hettsheimeir (Unicaja Málaga - Espanha), Raulzinho (Gipuzkoa - Espanha), Marquinhos (Flamengo), Marcelinho Machado (Flamengo), Larry Taylor (Bauru), Alex Garcia (UniCeub Brasília) e Guilherme Giovannoni (UniCeub Brasília). Com o time completo, o Brasil sonhava com medalha. E a campanha mostrou que era para sonhar mesmo, vitórias sobre França (65 x 63), Irã (79 x 50), Sérvia (81 x 73) e Egito (128 x 65), tendo sido derrotado na 1ª fase apenas pela Espanha (63 x 82). Nas oitavas de final uma imponente vitória sobre a Argentina por 85 x 65. O duelo nas quartas era contra a Sérvia, a quem o Brasil havia superado na 1ª fase. O sonho com as semi-finais naufragou com uma derrota acachapante (56 x 84). A pontuação do time brasileiro: Marcelinho Huertas (48), Leandrinho (83), Marquinhos (71), Anderson Varejão (61) e Tiago Splitter (53). Banco: Raulzinho (53), Larry Taylor (21), Alex Garcia (54), Marcelinho Machado (30), Guilherme Giovannoni (23), Rafael Hettsheimeir (15) e Nenê Hilário (45).

Com o 5º lugar nas Olimpíadas 2012 e o 6º lugar no Mundial 2014, a Seleção Brasileira havia retornado ao Top 6 do Basquete Masculino Mundial, nível no qual não figurava desde o início dos Anos 1990.

Com vaga garantida nas Olimpíadas 2016, no Rio de Janeiro, o ano de 2015 foi usado para renovar as escolhas e aumentar o leque de opções nos anos futuros, dando oportunidades a novos nomes. O trabalho se iniciou promissor, com a conquista de mais uma Medalha de Ouro em Jogos Pan-Americanos. A equipe titular de Magnano: Rafael Luz, Vítor Benite, Léo Meindl, Augusto Lima e Rafael Hettsheimeir. Na 1ª fase, excelentes vitórias sobre Porto Rico (92 x 59), Venezuela (79 x 64) e EUA (93 x 83). Na semi-final: 68 x 62 na República Dominicana. E na final, uma grande vitória sobre o Canadá por 86 x 71. Tudo o que o Brasil buscava desde que decidiu colocar treinadores estrangeiros a frente da Seleção Brasileira apareceu no Pan de Toronto 2015: defesa pressionada, troca de passes fluente no ataque, bolas de três bem trabalhadas e não chutadas fora de hora, rotação bem feita sem deixar o ritmo cair e nenhum pânico para enfrentar, e passar, por momentos difíceis. Um basquetebol bem jogado, tático e estratégico.

Logo depois veio o Pré-Olímpico. A seleção foi reforçada pelo ala Marquinhos. Todas as outras seleções vinham com equipes tecnicamente mais fortes do que elas tinham utilizado no Pan. E aí a Seleção Brasileira não deu conta. Fez uma campanha pífia, perdendo para Uruguai, México e Panamá, e vencendo só um jogo, sobre a República Dominicana. Assim como no Pré-Mundial de 2013, a seleção, pela segunda Copa América consecutiva, não conseguiu avançar à 2ª fase.

No ano seguinte, era hora de voltar a ter força máxima. Era hora de buscar a sonhada medalha. As Olimpíadas Rio 2016 era o ponto de chegada de um trabalho de longo prazo iniciado em 2008 com o espanhol Moncho Monsalve e continuado a partir de 2010 com o argentino Ruben Magnano. O trabalho de reerguimento do basquete masculino brasileiro buscava voltar a conquistar uma medalha olímpica.

Na estréia, o Brasil conseguiu uma reação incrível frente a Lituânia. Esteve perdendo por 29 pontos, reencontrou-se no 2º tempo e foi tirando a diferença, terminando a partida apenas 6 pontos atrás. Apesar da derrota, o time saiu do jogo com o moral elevado, por ter conseguido uma brilhante reação perante uma equipe que era considerada Top 4 no cenário mundial. Como definiu Magnano após o jogo: "uma derrota com sabor de vitória".

No segundo jogo, uma vitória fantástica, de epopeia. A Espanha foi Medalha de Prata nas Olimpíadas de 2008 e 2012, a geração Campeã Mundial em 2006 e Tri-campeã Européia em 2009, 2011 e 2015. Vencer um adversário como este, por si só já é grandioso. Da forma que foi, mais especial ainda. O Brasil esteve o jogo inteiro a frente do placar, mas a Espanha passou a frente faltando 2 minutos para o fim do jogo. Quando restavam 23 segundos, o Brasil, um ponto atrás, perdeu o ataque, fez falta, e colocou Gasol na linha de lance livre. Se acertasse os dois arremessos, colocaria os espanhóis três pontos a frente. Mas ele errou os dois. Nenê pegou o rebote, Huertas conduziu o ataque e tentou o arremesso, mas errou. Surgiu então Marquinhos, por trás de Gasol e Mirotic, para dar um tapinha par dentro e colocar o time brasileiro um ponto a frente a 5 segundos do fim. Houve tempo para um último ataque, que não foi aproveitado. Vitória heróica!

Quando se acreditava que o time embalaria, no terceiro jogo, perdeu para a Croácia. Restava apostar tudo no duelo diante da Argentina. Foi a partida chave, que definiu a eliminação do Brasil (a Seleção Brasileira ficou dependendo de uma vitória argentina sobre os espanhóis na última rodada, que acabou não acontecendo). Um jogo para "derrubar paradigmas". O banco da Argentina fez só 4 pontos, praticamente só o quinteto titular pontuou, com dois jogadores concentrando 63% dos pontos da equipe. E com um jogador matando 8 bolas de 3 pontos. A Seleção Brasileira foi mais "coletiva", usou mais peças, mas não venceu. Teve a vitória nas mãos: tinha três de vantagem a 18 segundos do fim, não fez falta para jogar o adversário nos lances livres e viu Nocioni acertar de três pontos faltando 4 segundos para o fim. Ironia do destino: o Brasil que diagnosticou que sua decadência se dera pelo excesso de jogo ofensivo durante os Anos 1980 e 1990 concentrado em poucos pontuadores e em excesso de arremessos de três, quis jogar mais coletivamente e com muitos pontuando porque era assim, com um jogo "mais europeu" que a Argentina fora vice-campeã mundial em 2002 e campeã olímpica em 2004. Os papéis se inverteram, mas a Seleção Brasileira ainda assim perdeu.

O Brasil acabou eliminado num grupo disputadíssimo. Croácia, Espanha, Lituânia e Argentina tiveram 3 vitórias e 2 derrotas, e avançaram às quartas de final. O Brasil teve 2 vitórias e 3 derrotas. E a Nigéria teve 4 derrotas e 1 vitória, ironicamente sobre a Croácia, que terminou em 1º lugar no grupo. Mas foi do outro grupo que saíram três dos quatro semi-finalistas. O Brasil terminou em 9º lugar.

Pesou muito para a Seleção Brasileira as ausências, por contusão, de Thiago Splitter e Anderson Varejão. O quinteto titular nos jogos: Marcelinho Huertas, Leandrinho Barbosa, Marquinhos, Augusto Lima e Nenê Hilário.

A cesta da vitória heróica sobre a Espanha


Veja tambémTodas as convocações da Era Ruben Magnano na Seleção Brasileira

Veja aindaNove brasileiros na temporada 2015-16 da NBA


Ruben Magnano deixou a Seleção Brasileira, era hora de planejar um novo ciclo. Só que o planejamento em 2017 já largou furado. Uma nova diretoria assumiu a Confederação Brasileira e tomou a decisão de que não aproveitaria nenhum dos assistentes de Magnano (José Neto, Demétrius Ferracciú e Gustavo De Conti) numa decisão totalmente política.

A eliminação logo na 1ª fase nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 ficou marcada como um grande resultado negativo do trabalho de Ruben Magnano, mas não foi o único, pois a eliminação na Copa América de 2013 fez com que o Brasil só tenha participado do Mundial de 2014 por "convite" (caro, porque foi comprado). Foi a contra-parte negativa aos bons resultados nas Olimpíadas de 2012 e no Mundial 2014, quando em ambas as vezes a Seleção Brasileira conseguiu voltar a figurar no Top 6 do basquete masculino mundial.

Em 2017, por seus problemas financeiros, e por não honrar a dívida pelo "convite" para participar do Mundial 2014, a FIBA suspendeu temporariamente o Brasil de competições internacionais, exclusão estendida aos clubes, que ficaram fora da Liga das Américas. A suspensão foi revertida antes da Copa América no entanto.

O calendário havia mudado e a Copa América seria classificatória para os Jogos Pan-Americanos de 2019. A confederação decidiu por uma renovação, elegendo o jovem técnico César Guidetti, do Pinheiros, e numa equipe bem jovem, sem jogadores que atuavam fora do Brasil. Deu tudo errado. O time titular foi formado por Fulvio, Georginho De Paula, Léo Meindl, Rafael Mineiro e Lucas Mariano. A Seleção Brasileira venceu a Colômbia (76 x 74) e perdeu para México (76 x 99) e Porto Rico (80 x 89). Não passou à 2ª fase pela terceira Copa América consecutiva e conseguiu a proeza negativa de ficar pela primeira vez na história fora dos Jogos Pan-Americanos no basquete masculino. Pela terceira participação consecutiva - 2013, 2015 e 2017 - o Brasil não conseguia terminar uma Copa América no Top 8 do continente.

Após o novo fracasso na Copa América, voltou-se a apostar num treinador estrangeiro para estar a frentes da seleção no ciclo olímpico. O escolhido foi o croata Aleksandar Petrovic, Que acumulava passagens a frente das Seleções de Bósnia e Croácia, e tendo treinado, além de equipes de seu país, times na Espanha, na Itália e na Lituânia. O veredito sincero já em sua apresentação: "Não tenho problema em falar: o Brasil defende muito mal. Quero começar na defesa, fazer alguns ajustes que podem ajudar muito essa equipe. Quero intensidade. Quero uma defesa ferrenha. Não vou imprimir meu planejamento de jogo no ataque. Vai ser como uma pintura. Eu vou lhes dar a tela, e eles vão pintar o ataque. Na defesa, eu vou ditar as regras, e eles vão à morte por essas regras". Antes do Mundial 2019, em outra entrevista, ele completou sua análise: "A forma de jogar da NBA é muito parecida com o que vemos no Brasil e no NBB – muitos tiros de três, jogadas de um contra um, muitos arremessos depois de sete, oito segundos. É uma forma de ver as coisas. Em campo internacional é diferente. A principal coisa que vejo é que precisamos ter o controle do ritmo de jogo. Quando está bem chuta rápido. Quando não, prende a bola para ter a melhor opção de arremesso".

Ex-jogador da Seleção da Iugoslávia e irmão mais velho do herói nacional Drazen Petrovic, ele teria a assistência dos jovens treiadores César Guidetti e Bruno Savignani; a CBB manteve os assistentes de Ruben Magnano - Demétrius Ferracciú, Gustavo de Conti e José Neto (este que também havia sido assistente de Moncho Monsalve) - fora da comissão técnica.


Aleksandar Petrovic: 1991-1995 Cibona Zagreb (Croácia), 1995 Seleção da Croácia, 1995-1997 Sevilla (Espanha), 1997-1999 Cibona Zagreb (Croácia), 1999-2001 Seleção da Croácia, 2001-2002 Wloclawek (Polônia), 2004-2005 Lleida (Espanha), 2006 Scafati (Itália), 2007-2008 Zadar (Croácia), 2010-2013 Cedevita Zagreb (Croácia), 2012-2013 Seleção da Bósnia-Herzegovina, 2013-1014 Lietuvos Rytas (Lituânia), 2016-2017 Seleção da Croácia, 2017-2021 Seleção do Brasil, 2021 Pesaro (Itália), 2022-23 Seleção da Croácia

Nas Eliminatórias, o Brasil fez apenas a 5ª melhor campanha das Américas (atrás de EUA, Canadá, Argentina e Venezuela) mas garantiu sua classificação para o Mundial de 2019. Mas depois, nas mãos do técnico croata o desempenho da Seleção Brasileira melhorou. No Mundial, a convocação buscou fazer uma mescla de gerações: Marcelinho Huertas (Tenerife Canarias - Espanha), Rafael Luz (Murcia - Espanha), Yago Mateus (Paulistano), Vítor Benite (Burgos - Espanha), Leandrinho Barbosa (Minas), Alex Garcia (Minas), Marquinhos (Flamengo), Bruno Caboclo (Memphis Grizzlies - NBA), Didi Louzada (Sydney Kings - Austrália), Cristiano Felício (Chicago Bulls - NBA), Augusto Lima (San Pablo Burgos - Espanha) e Anderson Varejão (Flamengo). A campanha se iniciou muito bem, com vitórias sobre a Nova Zelândia (102 x 94), Grécia (79 x 78) e Montenegro (84 x 73). Destaque para a histórica vitória sobre os gregos, do MVP da NBA Giannis Antetokounmpo, que só marcou 13 pontos no duelo. Após as três vitórias, o jogo seguinte, contra a República Tcheca, era decisivo para as pretensões de classificação da equipe às quartas de final, mas a seleção foi derrotada por 71 x 93. Com a derrota, só uma vitória sobre os EUA manteria viva a meta de classificação, mas a equipe foi derrotada (73 x 89), terminando o Mundial em 13º lugar.

A Década de 2010 representou um caldeirão de emoções e um intenso ciclo de oscilações para a Seleção Brasileira de Basquete Masculino. Houve inquestionáveis bons resultados, como as vitórias sobre a Croácia no Mundial de 2010, sobre Austrália e Espanha nas Olimpíadas de 2012, sobre França e Sérvia no Mundial de 2014, sobre a Espanha nas Olimpíadas de 2016, e sobre a Grécia no Mundial de 2019. E por muito pouco não foram obtidos resultados ainda melhores, no Mundial de 2010 os comandados por Ruben Magnano venderam caro a derrota para os Estados Unidos, por apertados 70 x 68, chegando perto de obter um resultado grandioso e histórico sobre um time todo ele de jogadores da NBA; ou como na derrota por 1 ponto para a Rússia nas Olimpíadas de 2012 (74 x 75) ou a queda para a Argentina na prorrogação nas Olimpíadas de 2016 (107 x 111), após sofrer uma cesta de três no estouro do cronômetro no tempo normal.

Contrastando aos desempenhos que lhe deram um 9º lugar no Mundial de 2020, um 5º nas Olimpíadas de 2012, um 6º lugar no Mundial de 2014 e 9º lugar nas Olimpíadas de 2016, a seleção foi tão só a 13ª no Mundial de 2019 e, apesar de uma Medalha de Ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2015, obteve resultados horrorosos de torneios continentais. A Seleção Brasileira foi 5º lugar nos Jogos Pan-Americanos de 2011, e fez campanhas horripilantes em três edições seguidas de Copa América: em 2013 com quatro derrotas em quatro jogos, inclusive perante a Jamaica, em 2015 perdendo três de quatro partidas, inclusive perante o Panamá, e em 2017 perdendo duas de três partidas. Nas três oportunidades foi eliminado logo na 1ª Fase e não conseguiu ficar sequer entre os 8 melhores das Américas.



Mais Detalhes:

- Brasil no Mundial 2014

- Brasil no Mundial 2019



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