Interessante reviver esta matéria, sobre o basquete brasileiro, publicada, em 1989, nos Estados Unidos. Abaixo, a integra do texto em inglês. Logo a seguir, a tradução em português.
LOS ANGELES TIME, 5 de fevereiro de 1989
American Basketball Players Find Brazilian Game Resembles Hockey
RIO DE JANEIRO, Brazil — Chris Weinans has played basketball for 15 years. But it took him 12 games in Rio de Janeiro to find out how brutal the game can be.
The Salt Lake City native has been poked, kicked elbowed, uppercutted, kneed and outright tackled more times in more parts of his 6-foot-7 frame than in his decade and a half of high school, college and European ball.
"Sometimes you feel like an old boxer after a game," said the sandy-haired, 27-year-old Iowa University graduate. "Back home these guys would be charged with assault, let alone fouls."
Weinans has painfully discovered what roughly two dozen other Americans who make a living playing Brazilian semipro ball grumble about: Basketball in Brazil is as rough as ice hockey.
Even so, most Americans stick out a season or two. Some, passed over in the National Basketball Association draft, dream of gaining experience in this 2,000-player league before making it in the NBA. Then there are those who simply come to play ball and sample samba, Carnaval and near-nude beaches.
Others who were top prospects in college but feel they'll never quite make the NBA, like Rocky Smith, a 6-foot-2 guard from Oroville, Calif., stay on. Smith, who played one year in Rio before moving to Sao Paulo, the nation's largest city, for a four-year stint, has become somewhat numbed to the hatchetry.
"It gets ugly," the Oregon State graduate said with a breezy bluntness. "You gotta play rough. Even if it means taking three or four fouls to get back at the cat that hit you."
"Look, that's the game here," Fabio Egypto, president for Fluminense, Rio's top team in 1988, said as he watched his team play rival Flamengo one recent evening. "A lot of physical contact is allowed on the court by the referees."
His eyes widened as he watched a Flamengo forward reach over the top of Weinan's forehead from behind, dig two fingers into the American's eyes and snap his head back. Weinans, clutching his eyes, crumpled to the floor in pain.
The referee, several feet away, blinked his eyes. But no whistle. the forward hopped over Weinans like a cat, scooped up the loose ball and flung a pass up court.
"Well," the club president coughed, fingering his collar. "Maybe, in the case of Americans, a little more contact is allowed."
Several coaches, usually those with American players, are frustrated by the hit-and-run tactics.
"It's pure resentment," said Tude Sobrinho, head coach of Fluminense. "The refs and the goons on the other teams are trying to show the 'gringos' they won't let them play the way they did in the States."
"When they're in there, it's no normal game."
But the occasional court mugging is the short of it. There are the sometimes-biased referees. There are the fans who scream obscenities in accented English. There are the language goofs with fellow players and coaches.
And then there's the Brazilian talent.
Brazil proved it was no pushover two years ago in Indianapolis when it knocked off the mighty U.S. crew in the Pan American Games.
And though Brazil has no true pro league, some 150 teams compete each year in state-wide tournaments and in a national championship.
These semipro teams are sponsored by large, privately owned sports clubs, which also run the nation's top professional soccer teams. The soccer teams, which draw crowds of up to 100,000 fans a match, carry much of the glory of the clubs' names. But the clubs feel obligated to support teams in other sports as well.
Still, Brazilian basketball rivalries are hot.
To fill holes in the starting lineups with fresher, taller talent, clubs with extra cash draft American players.
But not every club can afford the price tag of a "gringo," whose salary can reach $1,500 a month, plus travel and living expenses. It's a steep bill considering an average Brazilian basketballer makes between $60 and $80 a month.
"And the big Americans eat a lot too," chuckled Sobrinho, a 40-year veteran coach in Brazil.
The difference in salaries, plus the fact that some clubs can afford an American, brings the rivalries to a boil. In those cases, the foreigner becomes the butt of the players' and fans' hostility.
"You defend your body," said Weinans. "Then you defend your hoop."
Such is the creed for most U.S. hoopsters. Joe Manley, a brawny 31-year-old forward from Swainsboro, Ga., put on eight pounds and lifted weights after joining team America in Sao Paulo two years ago.
"There's something about bigger arms that keeps the flies off your back," the University of South Western Louisiana graduate said.
Some teams keep a meaty bouncer-type on the roster just in case. Others use alternative measures to gear up Americans for league style.
"In practice my own teammates wrap their arms around me," said Manley. "You know what they say? Get used to it -- it's what you'll get in the game."
One Rio player claimed to discover the key to elbow-free play.
"You buy the referees a few beers after a game, maybe send them a bottle of wine for Christmas," said the player. "Then if anybody tries anything funny in the game, you at least get a whistle."
At times the Portuguese language barrier between American and referee makes for rocky court diplomacy. And when blood boils over a call, confrontations erupt.
"You know, the kind that lead to a few technical fouls," conceded Marino Marella, coach for Sao Paulo state playoff contender Rio Preto. "Or maybe a brawl. Or two."
On the road, U.S. players tend to see a greater dose of flying elbows and what they call "ghost fouls."
"Some road games all you get to do is breathe," laughed George Davis, a boxer-built, 6-foot-6 forward from Vallego, Calif. "And Brazilians can throw you on the floor and not get a call for it."
Gradually, each player comes up with a personal survival method.
"A pair of leather, spiked gloves and a crash helmet," said Weinans, a glimmer of a smile creeping across his lips. "Maybe a bodyguard."
His teammate, Davis, was a bit more conservative.
"A good insurance policy," he said.
Tradução:
Jogadores norte-americanos encontram que basquete no Brasil se assemelha ao Hockey
RIO DE JANEIRO, Brasil - Chris Weinans jogou basquete por 15 anos. Mas ele levou 12 jogos no Rio de Janeiro para descobrir como o jogo de basquete pode ser brutal.
Nativo de Salt Lake, ele recebeu empurrões, chutes, cotoveladas, caneladas e foi mais vezes abordado em várias partes do seu corpo do que em sua década e meia de escola, faculdade e basquete europeu.
"Às vezes você se sente como um pugilista de mais idade depois de um jogo", disse o ruivo, de 27 anos de idade, pós-graduado na Universidade de Iowa. "Esses caras poderiam ser acusados de agressão".
Weinans dolorosamente descobriu o que cerca de duas dezenas de outros norte-americanos que ganham a vida jogando basquete no Brasil sempre reclamaram: o basquetebol no Brasil é tão rude como o hóquei no gelo.
Mesmo assim, a maioria dos americanos ficam no Brasil por uma ou duas temporadas. Alguns, passam por cima dom projeto de jogar na NBA para ganhar experiência no campeonato brasileiro. Também há aqueles que simplesmente vêm para jogar basquete e desfrutar de samba, Carnaval e mulheres quase nuas nas praias.
Uns tiveram perspectivas e estiveram no topo na faculdade, mas sentiram que nunca iriam fazer muito na NBA, como Rocky Smith, um armador de Oroville, na Califórnia. Smith, que jogou um ano no Rio de Janeiro antes de se mudar para São Paulo, a maior cidade do país, para jogar quatro temporadas, tornou-se um pouco anestesiado para este jogo bruto.
"É feio", diz o pós-graduado no Oregon com uma franqueza alegre. "Você tem que jogar duro. Mesmo que isso signifique tomar três ou quatro faltas para revidar no cara que bate em você”.
"Olha, esse é o jogo aqui", diz Fábio Egypto, presidente do Fluminense, melhor equipe do Rio de Janeiro em 1988, que diz ter visto seu time jogar com o rival Flamengo numa noite recente: "Um monte de contato físico é permitido na quadra pelos árbitros".
Seus olhos se arregalaram quando ele viu um jogador do Flamengo chegar por cima da testa de Weinan, por trás, e enfiar dois dedos nos olhos do americano, tirando sua cabeça para trás.
"É puro ressentimento", disse Tude Sobrinho, treinador do Fluminense. "Os árbitros e seus cúmplices estão tentando mostrar aos 'gringos' que eles não vão deixá-los jogar da forma como faziam nos Estados Unidos". "Quando eles estão lá, isto não é jogo normal".
Mas isto tudo é o de menos. Há arbitragens às vezes tendenciosas. Há fãs que gritam obscenidades em inglês com sotaque. Existem as mancadas de idiomas com outros jogadores e treinadores.
E também há o talento brasileiro.
O Brasil provou não ser fácil há dois anos, em Indianápolis, quando bateu o poderoso time dos EUA nos Jogos Pan-americanos.
Embora o Brasil não tenha uma liga profissional verdadeira, pois cerca de 150 equipes competem a cada ano nos torneios estaduais e em um campeonato nacional. Estas equipes, semiiprofissionais, são patrocinadas por grandes clubes privados de esportes, que também tem as melhores equipes de futebol profissional. Os times de futebol, que atraem multidões de até 100.000 fãs a um jogo, carregam muito da glória dos nomes dos clubes. Mas os clubes se sentem obrigados a apoiar as equipes em outros esportes também.
Ainda assim, a rivalidade no basquete brasileiro é quente.
Para preencher buracos nas formações de jovens talentos e no porte físico dos jogadores, clubes com mais recursos contratam norte-americanos.
Mas nem todos os clubes podem pagar o preço de um "gringo", cujo salário pode chegar a US $ 1.500 por mês, mais despesas de viagem e de vida. É um projeto íngreme, considerando que na média brasileira, o basquete paga entre US $ 60 e US $ 80 por mês.
"E os americanos comem muito também", riu Sobrinho, um treinador veterano de 40 anos no Brasil.
A diferença de salários, e o fato de só alguns clubes podem pagar um americano, levam as rivalidades a ferver. Nesses casos, o estrangeiro torna-se o alvo da hostilidade de outros jogadores e fãs."
"Primeiro você defende o seu corpo", disse Weinans. "Então você defende seu aro".
Este é o credo para a maioria dos norte-americanos no Brasil. Joe Manley, um pivô de 31 anos de idade, musculoso, de Swainsboro, Geórgia, passou a levantar oito quilos depois de entrar para a equipe do América, em São Paulo, há dois anos.
"Na prática, meus próprios companheiros põem seus braços em volta de mim", disse Manley. "Você sabe o que dizem? Acostume-se com isto, é o que você vai ter no jogo".
No Rio, um jogador alegou ter descoberto a chave para as cotoveladas livres ne jogo: "Você compra os árbitros com algumas cervejas depois de um jogo, talvez envia-lhes uma garrafa de vinho para o Natal", disse o jogador. "Então, se alguém tentar alguma coisa engraçada durante o jogo, você, pelo menos, consegue um apito".
Às vezes, a barreira do idioma português entre americanos e árbitros faz da diplomacia um caminho rochoso. E quando o sangue ferve, os confrontos entram em erupção.
"Você sabe quem é o jogador que vai levar poucas faltas técnicas", admitiu Marinho Marella, técnico do time de Rio Preto, do estado de São Paulo. "Ou que conseguirá uma briga, ou duas".
Na estrada, os jogadores norte-americanos tendem a ver uma maior dose de cotovelos que voam, que eles chamam de "faltas de fantasmas".
"Em alguns jogos na quadra do adversário, o que você precisa fazer é respirar", riu George Davis, um boxeador embutido, natural de Vallego, Califórnia. "E os brasileiros podem jogá-lo no chão e não receberem uma chamada por isto".
Aos poucos, cada jogador constrói um método de sobrevivência pessoal.
"Um pouco de couro, luvas com espinhos e um capacete", disse Weinans, com o vislumbre de um sorriso rastejando em seus lábios. "Talvez um guarda-costas".
Seu companheiro de equipe, Davis, foi um pouco mais conservador.
"Uma boa apólice de seguro", disse ele.
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