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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Um debate inevitável no basquete

Artigo de Edgard Alves, publicado na FOLHA DE SÃO PAULO em 5 de agosto de 2014
Integra do texto abaixo:

A cessão pela NBA, a liga profissional de basquete da América do Norte e a mais importante do mundo, de seus jogadores para as seleções nacionais de basquete, um assunto aparentemente superado, retorna ao debate.

Tudo por conta da lesão sofrida pelo jogador Paul George, do Indiana Pacers, em amistoso da seleção norte-americana na última sexta-feira. George, que fraturou a perna ao se chocar com a base de sustentação da tabela, vai desfalcar sua equipe por um bom tempo, fato que deixou os cartolas aborrecidos, e não poderia ser diferente.

A princípio, o comissário da NBA, Adam Silver, assegura que não haverá nenhuma mudança na política vigente, ou seja, a liga seguirá liberando os atletas tanto para a seleção dos EUA como para as dos demais países. Mas adiantou que o tema deverá constar da pauta das reuniões do comitê de competição e do conselho de dirigentes.

Esse debate interessa diretamente ao Brasil. No momento, a seleção brasileira tenta se reerguer de seguidos fracassos. Prepara-se para o Mundial da Espanha, que começa no próximo dia 30, tendo como destaques jogadores que atuam na NBA, como o ala-pivô Anderson Varejão (Cleveland), o pivô Nenê Hilário (Washington), o ala Leandrinho Barbosa (Phoenix) e o pivô Tiago Splitter, o primeiro atleta do país a se sagrar campeão da liga, com o San Antonio, recentemente.

Esses jogadores, como outros em condições semelhantes, são essenciais para que a seleção brasileira tenha um bom desempenho nas futuras competições e na Olimpíada em casa. Qualquer entrave para as convocações terá um peso decisivo na preparação faltando exatos dois anos para a abertura dos Jogos Olímpicos, no Rio, em 5 de agosto de 2016.

Durante cerca de meio século, os jogadores da NBA estiveram ausentes das disputas dos Jogos Olímpicos. A chance olímpica para os atletas norte-americanos existia apenas antes da profissionalização. Após o ingresso na liga, não.

Havia rigidez no cumprimento da lei do amadorismo na Olimpíada. Além disso, a liga concentrava atenção exclusivamente no seu negócio. Na maioria dos países, no entanto, vigoravam relações de trabalho que passavam sem problemas pelo crivo do Comitê Olímpico Internacional. Mesmo assim, os Estados Unidos, berço do basquete, sem contar com seus profissionais e valendo-se apenas de jogadores universitários, reinavam absolutos nos torneios olímpicos.

Ganharam todos os títulos desde a introdução do basquete nos Jogos, em Berlim-36, até perder o ouro pela primeira vez em Munique-72, numa decisão com final polêmica diante da ex-URSS. Nesse período, o Brasil chegou a ganhar três medalhas de bronze (Londres-48, Roma-60 e Tóquio-64), e dois títulos mundiais (Chile-59 e Rio-63).

Os tempos mudaram e os Jogos ganharam um novo espírito, admitindo o atleta profissional, aquele que se vale da prática esportiva para o seu ganha-pão. No basquete, essa expressão é figurativa, pois jogadores da modalidade despontam entre vários dos mais bem pagos no mundo dos esportes.

O crescimento técnico do esporte e do interesse dos torcedores e o potencial do mercado mundial para os produtos do basquete despertaram novos horizontes nos EUA, onde o comitê olímpico local e a NBA acabaram chegando a um acordo para a convocação de jogadores profissionais para a seleção olímpica.

A inédita experiência ocorreu no Prê-Olímpico de Portland, em 1992, que garantiu a vaga e a estréia nos Jogos de Barcelona naquele mesmo ano. Quem não se lembra do Time dos Sonhos (Dream Team) com Michael Jordan. Magic Jonhson, Larry Bird e companhia.

Na atualidade, seis brasileiros possuem contratos assinados com times da NBA, mas há pelo menos outros quatro que mantém algum contato com a liga, o que dá dois conjuntos completos. Portanto, os cartolas brasileiros devem ficar atentos ao debate que vem por aí.

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Autor: Edgard Alves
jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Foi repórter e chefe de reportagem do caderno "Esporte", participou da cobertura das Olimpíadas de Montreal-1976, Moscou-1980, Atlanta-1996, Sydney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008, além dos Pan-Americanos de San Juan-1979, Havana-1991, Mar del Plata-1995 e Rio-2007.

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