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domingo, 25 de junho de 2017

Joventut Badalona e Saski Baskonia: dois humildes atrevidos diante dos gigantes Madrid e Barça

O Joventut e o Baskonia são duas das equipes de maior tradição no cenário do basquete espanhol. Foram as duas equipes que mais vezes conseguiram superar a Real Madrid e a Barcelona, furando a bipolaridade mandante do cenário nacional na bola laranja. Os dois clubes atingiram seus respectivos auges em momentos distintos, mas sempre estiveram marcando presença na elite do basquete espanhol desde os primórdios do esporte no país.

Até a temporada 1996-97, o Joventut Badalona era o único clube espanhol a ter ousado superar a Madrid e ao Barça e conquistar o título nacional espanhol. Até então, em 41 edições da Liga Nacional Espanhola de Basquete Masculino, o Real Madrid havia sido 27 vezes campeão e o Barcelona havia sido 10 vezes campeão. Os outros 4 títulos foram os conquistados em sua história pelo Joventut Badalona, nas temporadas 1966-1967, 1977-1978, 1990-1991 e 1991-1992.

Outros clubes ameaçaram se meter e reverter a bipolaridade, o Manresa foi campeão da temporada 1997-1998, e o Unicaja Málaga foi campeão na temporada 2005-2006. Mas o clube que realmente conseguiu fazer frente aos gigantes e se impôr como a terceira força do cenário durante os Anos 2000 foi o Saski Baskonia, três vezes campeão espanhol, nas temporadas 2001-2002, 2007-2008 e 2009-2010. As histórias destes dois humildes atrevimentos são contadas abaixo, na descrição da história destes dois clubes.

Joventut Badalona x Saski Baskonia em 1978


Club Joventut de Badalona

O clube da cidade catalã de Badalona, pertencente à Província de Barcelona, foi fundado em 30 de março de 1930 sob o nome Penya Spirit of Badalona, uma agremiação polidesportiva. Em 1932 seu nome foi modificado para Centre Esportiu Badaloni. Em 1939, uma nova mudança de nome, passando a Club Joventut de Badalona. Logo após a esta mudança, porém, durante os anos da Ditadura do General Franco, entre 1940 e 1979, o nome foi obrigado a ser mudado do catalão para o espanhol, chamando Club Juventud de Badalona. Após o fim da Ditadura, voltou a ser Joventut de Badalona.


Na 1ª temporada da Liga Espanhola de Basquete (1956-1957) terminou em 6º lugar. Dali para frente, no entanto, passaria um longo período entre as quatro maiores forças do basquete espanhol. Da temporada 1957-58 até a temporada 1979-80, foram 23 temporadas seguidas entre os quatro primeiros colocados, sendo que em apenas duas delas foi 4º lugar. Terminou 13 vezes como 3º lugar neste período, 6 vezes como 2º lugar e foi 2 vezes campeão. Na sequência, teve três temporadas ruins (80-81, 81-82 e 82-83), mas voltou ao Top 4 nas 11 temporadas seguintes, nas quais foi 1 vez 4º lugar, 4 vezes 3º lugar, 4 vezes 2º lugar e 2 vezes Campeão. Portanto, até 1994, o Joventut Badalona era a terceira força do basquete espanhol. Daí para frente perdeu espaço, só voltando ao Top 3 da Liga Espanhola uma única vez, com o vice-campeonato na temporada 2007-2008.

Na Copa do Rei, foram oito títulos do Joventut: 1947-1948, 1952-1953, 1954-1955, 1957-1958, 1968-1969, 1975-1976, 1996-1997 e 2007-2008.

O herói do primeiro título da história do Joventut Badalona foi o pivô Alfonso Martínez, líder da equipe campeã da temporada 1966-67. Martinez jogou no Real Madrid em 56-57 e 57-58, onde já fora campeão espanhol; depois transferiu-se para o Barcelona, onde também foi campeão, na temporada 58-59, e jogou pelo Picadero Jockey Club, onde conquistou uma Copa do Rei, e terminou a carreira pelo Joventut, terceiro time com o qual conseguiu tornar-se campeão da Liga Espanhola, um grande feito. Na campanha do título da temporada 66-67, foram 18 vitórias em 20 jogos do Joventut, com uma derrota para o Real Madrid e outra para o Estudiantes. O Real Madrid só tinha uma derrota até a última rodada, exatamente para o Joventut, e seria campeão se vencesse ao Estudiantes, mas acabou perdendo o jogo por 77 x 75 e viu a inédita conquista do quinteto de Badalona, que bateu ao Barcelona por 77 x 55 na última rodada. No turno, o time de Madrid havia vencido por 85 x 73, mas sofreu uma derrota esmagadora por 81 x 64 em Badalona, a qual acabou, algumas rodadas depois, definindo o título do Joventut (na época ainda chamado Juventud).


O segundo título da Liga Espanhola veio na temporada 1977-78, com o treinador Antonio Serra no banco, e um gênio iugoslavo dentro de quadra: Zoran "Moka" Slavnic. No garrafão, uma dupla de pivôs formada pelo capitão Luis Miguel Santillana e pelo norte-americano Ed Johnson. Este era o trio de referência. Junto a eles estavam os alas Juan Ramón Fernández e Josep María "Matraco" Margall. O título veio com uma campanha de 20 vitórias em 22 partidas. Invicto no turno, incluindo uma vitória por 86 x 79 sobre o Real Madrid em Badalona, o Joventut só perdeu no returno, caindo por 96 x 86 para os merengues. A cinco rodadas do fim, o Real Madrid perdeu para o Barcelona (95 x 101), mas na mesma rodada o Joventut sofreu uma derrota inesperada, por 95 x 86, para o Pineda. As duas equipes tinham duas derrotas cada, e o Real Madrid tinha a vantagem no confronto direto. O título parecia estar com destino certo, rumo a Madrid. Porém, a três rodadas do fim, o que parecia impossível aconteceu: Cotonífico 101 x 97 Real Madrid. Um presente caiu nos braços do time de Badalona, campeão espanhol de 77-78! O histórico quinteto campeão jogava com: Moka Slavnic, Fernández, Margall, Ed Johnson e Santillana.

A maior de todas as equipes, no entanto, da história do Joventut Badalona, foi formada no início dos Anos 1990. O mentor deste trabalho foi o técnico Lolo Sáinz, que já havia sido consagrado diversas vezes campeão espanhol a frente do basquete do Real Madrid. A estrela dentro de quadra era o pivô norte-americano Cornelius "Corny" Thompson, MVP da equipe na campanha 90-91. Também brilhava na ala o capitão daquela equipe, Jordi Villacampa. O grupo ainda tinha os irmãos Jofresa, os armadores Tomás "Tomi" Jofresa e Rafael Jofresa, e o pivô Ferrán Martínez. No play-off semi-final da Liga Espanhola 1990-91, o Joventut superou o Saski Baskonia (Taugrés) por 3 x 1, postulando-se a fazer a final contra o Barcelona, então Tetra-campeão Espanhol. Nos dois primeiros jogos, em Badalona, vitórias por 73 x 65 e 84 x 72. O Barça venceu o terceiro jogo, em seus domínios, por 85 x 83. O título escapou por pouco no terceiro jogo, mas no quarto o Joventut sacramentou sua conquista: 81 x 78. O quinteto campeão: Tomi Jofresa, Rafa Jofresa, Villacampa, Ferrán Martínez e Corny Thompson.

Corny Thompson

Na campanha do bi-campeonato, em 91-92, o MVP foi o ala norte-americano Mike Smith Gibbs, contratado para reforçar a equipe naquela temporada. O quinteto titular de Lolo Sáinz jogava com Tomi Jofresa, Rafa Jofresa, Villacampa, Mike Smith e Corny Thompson. Na semi-final, o Joventut superou o Estudiantes por 3 x 1 e foi enfrentar ao Real Madrid na final. Nada mais simbólico do que ser Bi-campeão Espanhol tendo batido numa final ao Barcelona e na outra ao Real Madrid. Foi duro! Os dois primeiros jogos do confronto foram em Badalona, com uma vitória no primeiro (93 x 88) e uma derrota no segundo (76 x 74). O jogo-chave para o título foi o terceiro da série, quando em Madrid, o Joventut se impôs e venceu com autoridade por 86 x 67. Perdeu o quarto jogo (96 x 74), mas deu margem à sorte e sacramentou o título com uma impiedosa vitória por 85 x 72. 3 x 2 na série. Bi-campeão Espanhol.

Jordi Villacampa

O ápice, entretanto, seria atingido com a chegada na temporada 1993-94 do técnico sérvio Zeljko Obradovic, um dos melhores da escola de treinadores da Iugoslávia. O título espanhol escapou, mas não a maior conquista da história do basquete de Badalona. 

A chance de conquistar a Copa da Europa escapou em 1992, em Instambul. O adversário era o Partizan Belgrado, dirigido exatamente por Zeljko Obradovic, e com dois talentosos jogadores: Predrag Danilovic e Aleksandar Djordjevic. A poucos segundos do fim, Tomi Jofresa pôs o Joventut dois pontos a frente, mas o Partizan tinha o último ataque: Djordjevic cruzou a quadra e lançou uma cesta de três decisiva, no estourar do cronômetro: 71 x 70.

Em 1994, o Joventut tinha Obradovic no seu banco e não no adversário. Superaram nas quartas de final ao Real Madrid, do pivô Arvydas Sabonis, com duas vitórias: 88 x 69 em Badalona e 71 x 67 em Madrid. No Final Four, venceram ao Barcelona na semi-final da Copa da Europa (79 x 65) e foram à final contra o Olympiacos, da Grécia. Em 21 de abril de 1994, a finalíssima era jogada em Tel Aviv, Israel. Na equipe grega brilhava o sérvio Zarko Paspalj. Foi um final de jogo infartante. O placar apontava Olympiacos 57 x 56 Joventut quando Paspalj errou dois lances livres. Uma cesta de três de Corny Thompson a 4,8 segundos do fim pôs 59 x 57 no marcador. Joventut Campeão da Europa! A equipe em quadra naquela final: Rafa Jofresa (4), Jordi Villacampa (16), Mike Smith (6), Corny Thompson (9) e Ferran Martínez (17). Banco: Tomás Jofresa (5) e Juanan Morales (2). Estavam no banco, mas não jogaram: Dani Pérez, Dani García, Alfonso Albert e Iván Corrales.


Saski Baskonia 

O Saski Baskonia é um clube da cidade Vitoria-Gasteiz, na região do País Basco. Foi fundado em 1959 sob o nome Club Deportivo Vasconia, com uniforme azul-grená listrado na vertical. Em 1976 mudou de nome para Club Deportivo Basconia, passando a usar camisa verde. Em 1988 mudou mais uma vez de nome, passando a se chamar Saski Baskonia, e a usar camisa branca. Foi vestindo branco que atingiu suas maiores glórias. Mas na temporada 2011-12 voltou à camisa azul-grená usada no início de sua história.


Campeão da 3ª divisão na temporada 1969-70, campeão da 2ª divisão na temporada 1971-72, disputou a 1ª divisão da Liga Espanhola pela primeira vez na temporada 1972-73. Até a temporada 1989-90 nunca conseguiu estar no Top 6: o seu melhor foram dois 7º lugares e seis 8º lugares. Da temporada 1991-92 em diante, só deixou de ser Top 6 em três oportunidaes (92-93, 93-94 e 95-96). O clube ficou mais conhecido, no entanto, pelos nomes-fantasia usados de acordo a seus patrocinadores. De 1986 a 1996 chamou-se Taugrés Baskonia, de 1997 a 2009 chamou-se TAU Cerámica Baskonia, de 2009 a 2011 foi o Caja Laboral Baskonia, e a partir de 2011 passou a ser Laboral Kutxa Baskonia.

O basquete do Vasconia foi organizado na temporada 1959-60 por sócios descontentes com o departamento de futebol do clube. Durante os Anos 1960, o clube foi dominante nos torneios da Província de Álava, uma das três províncias que compõem a comunidades autônoma do País Basco, uma das sub-regiões que compõem a Espanha. Foi emergindo gradativamente até chegar à elite do basquetebol espanhol. O treinador responsável por ascender o Bakonia à elite nacional foi um consagrado ex-jogador do basquete do Real Madrid, Pepe Laso, que havia se aposentado defendendo o KAS de Vitoria, equipe da cidade de Vitoria-Gasteiz que jogou a 1ª divisão do basquete espanhol nos Anos 1960 e depois mudou-se a Bilbao.

Baskonia 1969-70

Durante os Anos 1970, o principal projeto do Saki Baskonia era se manter na Divisão de Elite do Basquete Espanhol. Mas já conseguindo alguma projeção, pois chegou às semi-finais da Copa do Rei em 1973 e em 1979. O projeto foi gradativamente sendo encorpado ao longo dos Anos 1980, com o clube sendo convertido em 1988 em uma Sociedade Anônima Desportiva, profissionalizando o basquete do clube basco, num processo que permitiu uma verdadeira mudança de patamar, viabilizando uma ascenção ao topo da tabela da Liga Espanhola, ainda que a conquista de um título da Liga fosse levar ainda mais de uma década. Mas o clube conquista os dois primeiros títulos da Copa do Rei de sua história, em 1995 e 1999.

Baskonia 1984-85

O responsável por alçar o Saski Baskonia a um novo patamar foi o técnico italiano Sergio Scariolo. Entre seus principais nomes dentro da quadra, destacaram-se na década de 90 o ala-pivô norte-americano Joe Arlauckas (de 1990 a 1993), o ala argentino Marcelo Nicola (de 1989 a 1996), o ala-pivô portorriquenho Ramón Rivas (de 1989 a 1996), o ala-armador croata Velimir Perasovic (de 1993 a 1997) e o armador norte-americano Elmer Bennett (de 1997 a 2003). Na temporada 1997-98, o Saski Baskonia supera ao Barcelona na semi-final e chega à final da Liga Espanhola contra o Manresa, numa final inédita entre duas equipes que nunca haviam sido campeãs espanholas. O Baskonia perde o primeiro jogo em casa (83 x 95), vence o segundo (75 x 67), mas perde os dois seguintes fora de casa (62 x 64 e 75 x 77), ficando com o vice-campeonato.

A Era de Ouro do Saski Baskonia estava por se iniciar, no entanto. Ela chega nos Anos 2000, e será marcada pelo brilho de uma legião de jogadores sul-americanos, que alçarão o Baskonia ao topo do cenário europeu. A cabeça que facilitará a mudança de patamar foi a do técnico Dusko Ivanovic, nascido em Montenegro, parte da ex-Iugoslávia, que treinou o clube entre 2000 e 2005.

No seu primeiro ano a frente do Saski Baskonia, Ivanovic alcançou a final da Euroliga frente ao Virtus Bologna, liderado por Manu Ginóbili. A série final fechou 3 x 2. No quinto jogo, derrota por 82 x 74. O Saski Baskonia foi vice-campeão. Na sua segunda temporada, 2001-02, o Saski Baskonia foi pela 1ª vez Campeão da Liga Espanhola e foi Campeão da Copa do Rei. O histórico grupo que deu o primeiro título nacional ao clube tinha o sérvio Dejan Tomasevic, principal nome na conquista, tinha os norte-americanos Elmer Bennett e Laurent Foirest, e era tomado de argentinos: Hugo Sconochini, Andrés Nocioni, Fabrício Oberto e Luís Scola. O quinteto titular jogava com Bennett, Sconochini, Foirest, Oberto e Tomasevic. O time venceu ao Barcelona por 3 x 1 na semi-final e atropelou ao Unicaja Málaga por 3 x 0 na final.

No final da temporada 2001-02, o grupo perdeu Hugo Sconochini, mas manteve sua rotina de sucessos. Andrés Nocioni foi o MVP da Liga Espanhola em 2003-2004, Luís Scola foi o MVP em 2004-2005 e 2006-2007. E mais um argentino chegou para brilhar, o armador Pablo Prigioni. Dusko Ivanovic deixou de ser o técnico em 2005, sendo substituído pelo croata Neven Spahija. O TAU Cerámica esteve quatro vezes seguidas no Final Four da Euroliga entre 2005 e 2008. Na temporada 2004-05 terminou com o segundo vice-campeonato europeu de sua história, perdendo a final em Moscou para o Maccabi Tel Aviv, de Israel, por 90 x 78.

TAU Cerámica/Saski-Baskonia na temporada 2006-07

Além de Fabricio Oberto (de 1999 a 2002), Hugo Sconochini (2001/02), Andrés Nocioni (de 2001 a 2004), Luís Scola (de 2000 a 2007) e Pablo Prigioni (de 2003 a 2009), uma outra leva de argentinos marcou os anos áureos do Saski Baskonia: Rubén Wolkowyski (2002/03), Gabriel Fernández (2001/02) e Leandro Palladino (2002/03) também defenderam o time de Vitoria-Gasteiz. Posteriormente, mais um argentino por lá brilhou, Wálter Herrman, que defendeu o Caja Laboral de 2009 a 2011. A história do Saski Baskonia tem um elo com a história da Geração Dourada do basquete argentino.

Na temporada 2007-08, o Saski Baskonia, ainda como TAU Cerámica, conquistou pela segunda vez a Liga Espanhola. Vitória implacável e irretocável por 3 x 0 sobre o Barcelona na final. No time basco brilhavam Prigioni, o brasileiro Tiago Splitter e o ala norte-americano Pete Mickeal, MVP da Liga naquela temporada. O quinteto era completado pelo ala-pivô bósnio Mirza Teletovic e pelo ala-armador sérvio Igor Rakocevic. O quinteto que deu o segunda título espanhol da história ao Saski Baskonia: Prigioni, Rakocevic, Mickeal, Teletovic e Tiago Splitter.


TAU Cerámica/Saski-Baskonia na temporada 2007-08

Dusko Ivanovic voltou a ser o técnico da equipe entre 2008 e 2012. Foi com ele que o Saski Baskonia conquistou o seu terceiro título, na temporada 2009-10, quando tinha como principais jogadores a Fernando San Emeterio e a Tiago Splitter, o pivô brasileiro foi MVP da Liga e MVP das Finais. Outro brasileiro brilhava a seu lado nesta equipe, o armador Marcelinho Huertas. O time já se chamava Caja Laboral, e na final repetiu implacáveis 3 x 0 sobre o Barcelona. O time também tinha o bósnio Mirza Teletovic, e contava com o ala argentino Wálter Herrmann, o armador norte-americano Brad Oleson, e com o ala-pivô israelense Lior Eliyahu. O quinteto titular do terceiro título espanhol: Huertas, Oleson, San Emeterio, Teletovic e Tiago Splitter.

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