Ficou para a história a vitória do Corinthians sobre o campeão europeu Real Madrid em um jogo amistoso em São Paulo nos idos de 1965. Algumas outras datas históricas também ficaram registradas para equipes de basquete brasileiras: o Sirio foi campeão do Mundial de Clubes em São Paulo em 1979, e o Vasco venceu o Zalgiris Kaunas, campeão europeu, e atuando na Europa, no McDonalds Open de 1999. Em 2014, o Flamengo bateu o Maccabi Tel Aviv no Rio de Janeiro e conquistou a Copa Intercontinental. Quatro históricas vitórias de agremiações do Brasil sobre equipes que detinham o título máximo de clubes do Velho Continente.
Em 2015, o time de Bauru enfrentaria mais do que um clube, enfrentaria uma marca mundial, o Real Madrid, um adversário cujo orçamento estimado era de 30 milhões de euros ao ano, quase 15 vezes maior que o do time brasileiro. A poderosa equipe, campeã européia, contava com quatro jogadores que foram protagonistas nas três conquistas de Eurobasket, o Campeonato Europeu de Seleções, com a Seleção da Espanha: Sergio Rodriguez, Sergio Llull, Rudy Fernández e Felipe Reyes. Campeões em 2003, 2007 e 2015, este último título levantado algumas semanas antes. O time madrilenho ainda tinha a experiência de Andrés Nocioni, campeão olímpico com a Argentina em 2004, tinha Gustavo Ayón, pivô mexicano responsável pelo título da Seleção do México na Copa América de 2013, e uma das estrelas da Seleção da Lituânia, Jonas Maciulis. Um selecionado global, que tinha os norte-americanos Jaycee Carroll e Howard Thompkins, ala-pivô ex-NBA. Um time fortíssimo!
Bauru e Real Madrid fizeram um primeiro quarto equilibrado, que terminou 22 a 19 para os espanhóis, com várias trocas de líder no marcador. Os 10 minutos iniciais foram muito ofensivos, mas enquanto o Real Madrid buscava mais espaços na defesa brasileira, o Bauru exagerava em tiros de três pontos mal planejados.
A estratégia funcionou no início do segundo período, quando os bauruenses ficaram cinco pontos à frente, o que ao invés de lhes dar tranquilidade, gerou-lhes ansiedade, com tentativas de ampliar a vantagem com chutes de três pontos fora de hora, sem sucesso. O Bauru ficou então mais de quatro minutos sem fazer uma cesta sequer. O placar chegou a estar 27 x 22 para Bauru, mas virou para 37 x 30 para o Real Madrid na ida para o intervalo.
No 3º quarto, com quatro conversões de três praticamente seguidas, o Real foi dominando o placar até abrir 17 pontos de diferença.
O técnico Guerrinha parou o jogo, mudou a formação, e o Bauru conseguiu encaixar a defesa e voltou a converter bolas no ataque. A chave da virada foi a alta conversão de arremessos de três. Mas se no 1º tempo, estes tiros vinham sendo no momento errado, sob marcação e com muito tempo de posse de bola no cronômetro, no 3º quarto a mudança foi que eles passaram a ocorrer após jogadas bem trabalhadas, com a bola girando de mão em mão até encontrar alguém livre de marcação. O Bauru jogava com os cinco jogadores fora do garrafão, com velocidade, muita movimentação, e muita troca de passes. Os espanhóis demoraram para saber o que fazer diante de um estilo incomum no basquete europeu. Uma impressionante reação, e no fim do terceiro quarto, a vantagem madrilenha era de apenas três pontos: 62 a 59.
O último quarto começou com Léo Meindl empolgando os torcedores ao encostar no placar com uma bola roubada na defesa e convertida em contra-ataque. O Real anotou de três logo em seguida, mas Gui Deodato também meteu uma em bola de longe. A virada veio com Léo Meindl, faltando 7 minutos para o fim do jogo, em bola de três, que pôs Bauru 67 x 66 Real Madrid. O marcador voltou a ter alternância na liderança. As equipes chegaram empatadas a segundos do fim em 89 x 89. Com menos de 24 segundos para terminar, um ataque definia o jogo, então o técnico Pablo Laso pediu tempo. Na volta, Sergio Rodriguez segurou a bola e chamou a jogada, mas Jefferson agarrou Felipe Reyes e o árbitro mandou o pivô para a linha de lance-livre. Ele errou o primeiro e converteu o segundo, e o Bauru teve 7 segundos para se reorganizar. Alex cobrou lateral, Fischer infiltrou rápido e converteu a bandeja (91 x 90), obrigando Laso a parar o jogo novamente. Após jogada ensaiada, Llull chutou mal, mandando no aro, decretando o triunfo histórico de Bauru por 91 x 90.
O pivô Rafael Hettsheimeir foi o principal protagonista da reação bauruense, ele foi o cestinha do jogo com 27 pontos. O ala Léo Meindl, com 15 pontos, que começou no banco, também foi fundamental. Pelo Real, destaque para Jaycee Carrol e Sergio Llull, com 18 e 17 pontos. Alex Garcia foi o melhor nos rebotes, com 7. Do lado espanhol, o destaque foi Rudy Fernandez, com 6. Ricardo Fischer foi o líder das assistências, com 8, enquanto o melhor do time madrilenho foi Llull, com 6. Uma noite histórica e emocionante no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.
A final da Copa Intercontinental era em dois jogos, e este havia sido o primeiro. Dois dias depois as duas equipes voltaram à quadra no mesmo local. Nervoso, Bauru só conseguiu converter sua primeira cesta, num lance-livre de Alex Garcia, quando o relógio marcava 4'55'' para o fim do 1º quarto e o placar apontava Real Madrid 12 x 0. Forte, o Bauru ainda reagiu e chegou a empatar o jogo em 29 x 29. Mas o jogo coletivo dos merengues se impôs. No final, Real Madrid 91 x 79 Bauru. Os espanhóis venceram a Copa Intercontinental 2015, mas isto em absoluto apaga a brilhante marca deixada na história com aqueles 91 x 90 de 25 de setembro de 2015, uma noite de sexta-feira.
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