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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

E se a Iugoslávia não tivesse se dividido?


No início dos Anos 1990, após o fim do regime comunista, a guerra civil dissolveu a ex-república da Iugoslávia em seis países: Sérvia, Croácia, Bósnia, Eslovênia, Macedônia e Montenegro. A dissolução foi gradual. Em 1991, Croácia, Eslovênia e Macedônia proclamaram suas respectivas independências da Iugoslávia. Em 1992 foi a vez da Bósnia fazer o mesmo. Daí em diante o que seguiu sendo chamado de Iugoslávia era composto apenas por Sérvia e Montenegro. Em 2006 houve a separação, e a partir de então Sérvia e Montenegro se dividiram em dois países.

O basquete da Iugoslávia emergiu como potência a partir, sobretudo, da conquista do título de Campeã Mundial de 1970. Na sequência, sagrou-se Tri-campeã Européia em 1973-1975-1977. Em sua história há duas formações históricas, dois quintetos que podem ser considerados os dos maiores da história do basquetebol da antiga Iugoslávia. Um foi o time formado por Mirza Delibasic, Dragan Kicanovic, Zeljko Jerkov, Drazen Dalipagic e Kresimir Cosic, equipe Campeã Européia 1977, Campeã Mundial 1978 e Campeã Olímpica 1980. O outro time histórico foi o formado por Drazen Petrovic, Zarko Paspajl, Toni Kukoc, Dino Radja e Vlade Divac, equipe Vice-campeã Olímpica 1988, Campeã Européia 1989 e Campeã Mundial 1990.

O fim da Iugoslávia fragmentou uma enorme tradição com a bola laranja. E a grande pergunta é: E se a Iugoslávia não tivesse se dividido? Em 2017, quando pela primeira vez duas ex-repúblicas que faziam parte da antiga Iugoslávia decidiram um título, valendo o Eurobasket 2017, esta pergunta mais do que nunca fez sentido. Teria uma Seleção da Iugoslávia em 2017 sido tão boa quanto aquelas de 1977-1980 e de 1988-1990? Melhores? Do mesmo nível? Nem tão boas quanto? Impossível haver consenso pleno...

Depois do fim da Iugoslávia, a história de cada uma das ex-repúblicas no basquete masculino mundial começa com a campanha da Croácia nas Olimpíadas de 1992, quando o time de Drazen Petrovic, Toni Kukoc e Dino Radja terminou com o 2º lugar e a Medalha de Prata, perdendo apenas para o Dream Team dos Estados Unidos, com Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird e companhia.

O que restou da Iugoslávia, com os jogadores sérvios, estava suspenso das competições internacionais de basquete. No Eurobasket 1993, em 3º ficou a Croácia, em 8º a Bósnia, e em 14º a Eslovênia. No Mundial 1994, Petrovic já havia falecido num acidente automobilístico, e o time de Kukoc e Radja deu o 3º lugar à Croácia.

Após o fim da suspensão, no Eurobasket 1995, a Iugoslávia (Sérvia e Montenegro) e Divac, Paspajl, Predrag Danilovic, Aleksandar Djordjevic e Zoran Savic foi a campeã, com o 3º lugar para a Croácia de Kukoc e Radja, e 12º lugar da Eslovênia. Seria um baita time da "Iugoslávia Unida", mas basicamente ainda estamos falando da geração vencedora de 1988 a 1990. A Croácia caiu na semi-final para a Lituânia, impedindo uma primeira final entre duas repúblicas iugoslavas.

Nas Olimpíadas 1996, a Iugoslávia (Sérvia e Montenegro) jogando com Divac, Paspajl, Bodiroga, Djordjevic, e agora também com Zelijko Rebraca foi 2º lugar (Medalha de Prata), enquanto o 7º lugar ficou com a Croácia, de Nikola Vujcic. No Eurobasket 1997 o título continental foi da Iugoslávia (Sérvia e Montenegro), com o 11º sendo da Croácia, o 14º sendo da Eslovênia, e o 15º sendo da Bósnia. Este timaço sérvio dominou o cenário internacional até 2002. No Mundial 1998 foi 2º lugar (os demais não participaram), no Eurobasket 1999 foi 3º lugar (10º lugar da Eslovênia, 11º da Croácia, 13º da Macedônia, e 15º Bósnia - todas 5 ex-repúblicas disputaram, já que Sérvia e Montenegro ainda estavam unidas). Nas Olimpíadas 2000 a Iugoslávia (Sérvia e Montenegro) foi 6º lugar - os demais não se classificaram. No Eurobasket 2001, Sérvia e Montenegro, que também já contava com Predrag "Peja" Stojakovic e Dejan Tomasevic, ficou em 1º lugar, sendo a campeã, e com um 7º lugar da Croácia, um 13º da Bósnia e um 15º da Eslovênia. No Mundial 2002 a despedida desta fantástica geração, com a Iugoslávia, de Sérvia e Montenegro, sendo novamente a campeã.

Depois deste grande time da Sérvia, as seleções que no passado haviam formado a Iugoslávia perderam força na disputa pelos grandes títulos do basquete masculino internacional. No Eurobasket 2003, 6º lugar da Sérvia, 10º lugar da Eslovênia, 11º lugar da Croácia, e 15º lugar da Bósnia. Nas Olimpíadas 2004, o único participante foi o 11º lugar, que ficou com a Sérvia. No Eurobasket 2005, dois países nas quartas de final: 6º lugar da Eslovênia, 7º lugar da Croácia, 9º lugar da Sérvia, e 13º lugar da Bósnia. No Mundial 2006, Sérvia e Eslovênia caíram nas oitavas de final. No Eurobasket 2007, ficaram em 6º lugar a Croácia, em 7º a Eslovênia e em 14º a Sérvia, voltando a ter dois representantes nas quartas. Nas Olimpíadas 2008, a Croácia ficou com um 6º lugar.

A partir de 2009 o basquete das seleções que um dia estiveram unidas jogando junto como Iugoslávia se recuperou. Na principal competição continental, duas seleções se enfrentaram na semi-final, e num jogaço, definido na prorrogação, a Sérvia venceu à Eslovênia por 96 x 92. No Eurobasket 2009, em 2º lugar ficou a Sérvia, em 4º lugar ficou a Eslovênia, em 6º lugar ficou a Croácia, e em 9º lugar ficou a Macedônia. No Mundial 2010, a Sérvia ficou em 4º, Eslovênia ficou em 8º e a Croácia terminou em 14º.

No Eurobasket 2011, pela primeira vez na história as seis ex-repúblicas que outrora foram a Iugoslávia disputaram o mesmo torneio. Em 4º lugar ficou a surpreendente Macedônia, onde se destacavam o pivô Pero Antic e Bo McCalebb, norte-americano naturalizado. Entre as demais, em 7º ficou a Eslovênia, em 8º a Sérvia, em 13º a Croácia, em 19º a Bósnia e em 21º ficou Montenegro. Depois de estarem juntas, porém, nas Olimpíadas 2012, pela primeira vez na história, nenhum país da ex-Iugoslávia esteve presente numa das principais competições do basquete masculino no planeta.

No Eurobasket 2013, as seis voltaram a disputar uma competição juntas, na qual o 4º lugar foi da Croácia, o 5º lugar foi da Eslovênia, o 7º lugar foi da Sérvia (três ex-iugoslavas entre as oito melhores da Europa), o 13º lugar foi da Bósnia, o 17º lugar foi de Montenegro, e o 21º lugar foi da Macedônia. Depois, no Mundial 2014, a Sérvia foi vice-campeã, ficando com o 2º lugar, em 7º ficou a Eslovênia e em 10º ficou a Croácia. No Eurobasket 2015, a 4ª colocação ficou com a Sérvia, a 9ª colocação ficou com a Croácia, a 12ª colocação foi da Eslovênia, a 19ª colocação foi da Macedônia, e a 23ª colocação foi da Bósnia. Nas Olimpíadas 2016, o 2º lugar foi da Sérvia, de Milos Teodosic, Nikola Jokic e Miroslav Raduljica, e o 5º lugar foi da Croácia, de Bojan Bogdanovic e Dario Saric.

Se no Eurobasket 2009 o duelo entre Sérvia e Eslovênia na semi-final havia sido o confronto histórico em fase mais avançada de uma grande competição internacional, as duas mesmas seleções superaram esta marca quando se enfrentaram na final do Eurobasket 2017. Desta vez quem levou a melhor foi a Eslovênia, que venceu à Sérvia por 93 x 85. Na colocação final do torneio, a Eslovênia ficou em 1º, a Sérvia ficou em 2º, a Croácia em 10º e Montenegro em 13º.

E é exatamente diante de uma final de ex-repúblicas iugoslavas que vai ser feito o exercício "E se a Iugoslávia não tivesse se dividido?". Juntando os principais nomes das quatro seleções ex-Iugoslávia que disputaram o torneio, tem-se um time muito provavelmente ainda mais forte do que as maiores seleções da história da Iugoslávia. Juntando os dois maiores nomes da Eslovênia - Goran Dragic e Luka Doncic - a grandes nomes da Sérvia - Milos Teodosic, Bogdan Bogdanovic e Boban Marjanovic - à estrela da Croácia, Bojan Bogdanovic, e às estrelas de Montenegro Bojan Dubljevic e Nikola Vucevic. Um elenco espetacular que ainda teria espaço para Pero Antic, da Macedônia. Que ainda teria nomes como os croatas Dario Saric e Dragan Bender, e poderia até ter o pivô, também croata, Ante Tomic, que não esteve no Eurobasket 2017, mas que alguns anos antes chegou a ser considerado um dos melhores "cinco" do basquete europeu.

Um timaço, cujo quinteto original teria Goran Dragic, Luka Doncic, Bogdan Bogdanovic, Nikola Vucevic e Boban Marjanovic. E com um banco de luxo, com Milos Teodosic, Bojan Bogdanovic, Dario Saric, Bojan Dubljevic e Dragan Bender. E que poderia ser fechado com Pero Antic e Ante Tomic.



Carreiras:

Goran Dragic
2003-04 Drustvo Ilirija (Eslovênia), 2004-06 KD Slovan (Eslovênia), 2006-07 Murcia (Espanha), 2007-08 Olimpia Ljubljana (Eslovênia), 2008-2011 Phoenix Suns (NBA), 2011 Saski Baskonia (Espanha), 2011-12 Houston Rockets (NBA), 2012-2015 Phoenix Suns (NBA), e 2015-2017 Miami Heat (NBA)
* MVP do Eurobasket 2017 e 2x Quinteto Ideal do Eurobasket em 2013 e 2017

Luka Doncic
2015-2017 Real Madrid (Espanha)
* Quinteto Ideal do Eurobasket 2017

Milos Teodosic
2004-05 Crvena Zvezda (Sérvia), 2005-06 Borac Cacak (Sérvia), 2006-07 Crvena Zvezda (Sérvia), 2007-2011 Olympiakos (Grécia), 2011-2017 CSKA Moscou (Rússia), e 2017 Los Angeles Clippers (NBA)
* MVP da Euroleague 2010, 2x Quinteto Ideal dos Mundiais 2010 e 2014, e 3x no Quinteto Ideal da Euroliga (2010, 2015 e 2016)

Bogdan Bogdanovic
2010-2014 Partizan (Sérvia), 2014-2017 Fenerbahce (Turquia), e 2017 Sacramento Kings (NBA)
* Quinteto Ideal do Eurobasket 2017

Bojan Bogdanovic
2004-06 Zrinjski Mostar (Bósnia), 2006-08 Real Madrid B (Espanha), 2008-09 Murcia (Espanha), 2009-2011 Cibona Zagreb (Croácia), 2011-2014 Fenerbahce (Turquia), 2014-2017 Brooklyn Nets (NBA), 2017 Washington Wizards (NBA), e 2017 Indiana Pacers (NBA)

Dario Saric
2009-10 Zrinjevac (Croácia), 2010-11 Dubrava (Croácia), 2011-12 Zagreb (Croácia), 2012-2014 Cibona Zagreb (Croácia), 2014-2016 Anadolu Efes (Turquia), e 2016-17 Philadelphia 76ers (NBA) 

Bojan Dubljevic
2009-10 Lovcen (Montenegro), 2010-12 Buducnost (Montenegro), e 2012-2017 Valencia (Espanha)
* MVP das Finais da Liga Espanhola 2016-17

Dragan Bender
2012-13 KK Split (Croácia), 2013-14 Kastela (Croácia), 2014-15 Maccabi Tel Aviv (Israel), 2015-16 Ironi Ramat (Israel), e 2016-17 Pheonix Suns (NBA)

Nikola Vucevic
2011 Buducnost Podgorica (Montenegro), 2011-12 Philadelphia 76ers (NBA), e 2012-2017 Orlando Magic (NBA)

Boban Marjanovic
2006-07 Radnicki Kragujevac (Sérvia), 2007-10 Vrsac (Sérvia), 2010-11 CSKA Moscou (Rússia), 2011 Zalgiris Kaunas (Lituânia), 2011-12 Nizhny Novgorod (Rússia), 2012 Radnicki Kragujevac (Sérvia), 2012-13 Mega Vizura (Sérvia), 2013-2015 Estrela Vermelha (Sérvia), 2015-16 San Antonio Spurs (NBA), e 2016-17 Detroit Pistons (NBA)
* Quinteto Ideal da Euroliga 2015

Pero Antic
1999-2001 Rabotnicki (Macedônia), 2001-2005 AEK Atenas (Grécia), 2005-2007 Estrela Vermelha (Sérvia), 2007-08 Lukoil Academic (Bulgária), 2008-09 Lokomotiv Kuban (Rússia), 2009-10 Lukoil Academic (Bulgária), 2010-11 Spartak St. Petersburgo (Rússia), 2011-2013 Olimpiakos (Grécia), 2013-2015 Atlanta Hawks (NBA), e 2015-2017 Fenerbahce (Turquia) 

Ante Tomic
2004-2009 Zagreb (Croácia), 2009-2012 Real Madrid (Espanha), e 2012-2017 Barcelona (Espanha)





2 comentários:

  1. É bem provável que a Iugoslávia é a segunda maior escola de Badquete do mundo.

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  2. Iugoslávia segunda maior força do basquete mundial.

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