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sábado, 6 de abril de 2019

Fab Melo: potencial enorme, carreira sem sucesso, e morte prematura

Fabrício Paulino de Melo, mineiro de Juiz de Fora, pivô de 2,13 metros, começou a jogar basquete apenas aos 14 anos, quando só então teve seu primeiro contato com a modalidade, através do Projeto Basquetebol do Futuro, em Juiz de Fora. Logo chamou a atenção de olheiros e foi convidado para se mudar para Belo Horizonte, onde ingressou nas divisões de base do Olympico Club. O jovem pivô Fabrício ganhou então, em 2008, uma bolsa de estudos para ir para a Sagemont School e cursar o segundo grau (High School) na Flórida. Até então nunca tinha falado uma palavra de inglês em sua vida.

Nos EUA, o Fabrício Melo passou a ser Fab Melo. Suas atuações na High School levaram os analistas da Universidade de Syracuse, de Nova Iorque, a enxergarem potencial de evolução nos seus fundamentos, convidando-o a ingressar com uma bolsa de estudos para fazer parte da tradicional equipe universitária local, de grande tradição na NCAA.

Pela equipe de Syracuse, ele jogou a temporada 2010-11 da NCAA (33 jogos, 9,9 minutos, 2,3 pontos, 1,9 rebotes e 0,8 toco por jogo). A evolução de sua primeira para sua segunda temporada universitária foi marcante. Na temporada 2011-12 ele disputou 30 jogos, com médias de 25,4 minutos, 7,8 pontos, 5,8 rebotes e 2,9 tocos. Tudo caminhava para um final de temporada perfeito. Fab Melo foi eleito o defensor do ano na Conferência Big East (Big East Defensive Player of the Year in 2012). Syracuse tinha conseguido a melhor campanha de sua história e estava cotadíssima para conquistar o título da temporada, tinha a campanha de 20-0 e impressionava a todos.


Porém, a Universidade de Syracuse informou em 13 de março de 2012 que o brasileiro Fab Melo não viajaria com a equipe para Pittsburgh para a disputa do March Madness, playoffs final da NCAA, liga universitária do basquete dos EUA. O jogador foi impedido de participar das finais da NCAA por causa de problemas de nota. O problema foi a GPA (grade point average). Fabrício atribuiu seu mal desempenho à dificuldade de se comunicar em inglês, já que tinha tanto dificuldade de entender com precisão o que os professores diziam, quanto dificuldade de se expressar corretamente.

No basquete universitário dos EUA, se você tem notas baixas, não pode jogar. Na temporada 2011/2012 Fab era simplesmente o melhor defensor de seu time, no sistema do técnico Boeheim, Fab protegia o garrafão e distribuía uma série de tocos. Mas os problemas na sala de aula acabaram minando sua carreira num momento estratégico. Fab já havia sido suspenso por três jogos em janeiro de 2012, e para piorar estaria fora do March Madness.

O histórico escolar de Fab Melo foi responsável por uma grande e histórica crise no basquete universitário dos EUA. Foi aberta uma sindicância por parte da NCAA para investigar a Universidade de Syracuse. A liga universitária queria entender como um garoto com notas tão baixas podia estar jogando havia mais de uma temporada sem que nada tivesse sido feito. A suspeita era a de que a comissão técnica de Syracuse teria acobertado o garoto, pensando apenas em seus resultados esportivos. Temendo uma punição ainda mais pesada, Syracuse se auto-puniu, desistindo de participar do March Madness de 2015, numa inquestionável confissão de culpa.

Os problemas em Syracuse acabaram acelerando sua transição do basquete universitário para o basquete profissional. Aos 22 anos, ele foi a 22ª escolha na primeira rodada do Draft 2012. Agora Fab Melo era jogador do Boston Celtics. Mas sua aventura com a tradicional camiseta verde e branca da NBA durou apenas uma temporada. Em 2012-13, com o Celtics, ele disputou 6 jogos da Temporada Regular, com médias de 6,0 minutos, 1,2 pontos, 0,5 rebote e 0,3 toco.

Sem mostrar a evolução desejada pelo técnico Doc Rivers, Fab Melo foi mandado para a D-League, para defender o Maine Red Claws. Seu desempenho na temporada 2012-13 foi bom, tendo disputado 33 jogos, com média de 26,2 minutos, 9,8 pontos, 6,0 rebotes e 3,1 tocos, podendo mostrar todas as suas qualidades no jogo defensivo. Antes do fim da temporada, ele acabou trocado pelo Boston Celtics com o Memphis Grizzlies. Treinou pela nova franquia, mas não foi bem avaliado e acabou sendo dispensado antes do fim da temporada, não tendo entrado em quadra nenhuma vez pela equipe de Memphis.


Pouco antes do início da temporada 2013-14, ele recebeu sua última chance na NBA, tendo sido convidado para um período de testes no Dallas Mavericks. Esteve com a equipe durante a Pré-Temporada 2013-14, tendo disputado 3 jogos, com médias de 26,8 minutos, 5,0 pontos, 6,0 rebotes e 1,0 toco. Durante a Temporada Regular, no entanto, não foi aproveitado, não entrando em quadra nenhuma vez com a equipe de Dallas. Foi novamente enviado à D-League, desta vez para defender o Texas Legends, por quem na temporada 2013-14 jogou 21 partidas, obtendo 13,3 minutos, 5,2 pontos, 3,7 rebotes e 0,8 toco por jogo. Um desempenho bem inferior ao da temporada anterior na D-League. Para piorar, desentendeu-se e discutiu com o treinador do Texas Legends, acabando afastado da equipe. Acabou dispensado pelo Dallas Mavericks, não conseguindo a partir de então novas oportunidades no basquete dos EUA.

Desapontado com seu insucesso, sua temporada 2014-15 seria extremamente confusa. Primeiro decidiu recomeçar no Brasil. Em 1º de agosto de 2014, Fab Melo assinou contrato com o Club Athlético Paulistano para jogar o NBB, a Liga Brasileira de Basquete. Fez a pré-temporada com a equipe em São Paulo, mas antes do início da temporada, sem entrar em quadra para nenhuma partida pelo Paulistano, deixou o clube. Nem o jogador nem o clube comunicaram oficialmente o motivo, mas na imprensa foi especulado que houve desentendimentos com a Comissão Técnica liderada por Gustavo de Conti.

Após um longo período apenas treinando e tentando se recolocar no basquete norte-americano, em 7 de abril de 2015 ele assinou contrato para defender o Caciques de Humacao, de Porto Rico. Entretanto, problemas burocráticos com a documentação o levaram a sequer fazer sua estréia na Liga Porto-riquenha. Com isto, toda a temporada 2014-15 foi dedicada apenas a treinamentos, sem entrar em quadra para disputar partidas oficiais por qualquer competição.

Na temporada 2015-16 Fab Melo retornou ao basquete brasileiro. Retornou com uma escolha que surpreendeu a quase todos, pois não assinou com nenhuma equipe que disputou as primeiras posições nas temporadas anteriores, muito pelo contrário, optou por uma equipe que terminou todas as temporadas que disputou entre as últimas posições. Com a Liga Sorocabana, Fab Melo jogou 18 jogos na temporada do NBB, com médias de 22,0 minutos, 11,3 pontos, 5,5 rebotes e 1,3 toco por jogo. Sem conseguir ter a dominância de garrafão que se imaginava que ele teria no basquete brasileiro, a Liga Sorocabana terminou em 13º lugar entre os quinze participantes da temporada 2015-16.

A estratégia para a temporada 2016-17 foi ajustada, e desta vez Fab Melo assinou com uma equipe aspirante à conquista de títulos na temporada, o UniCeub Brasília. Mas sua passagem pelo time do Distrito Federal durou apenas 7 jogos. Atuou mais pela equipe na disputa da Liga Sul-Americana 2016, quando entrou em quadra em 6 jogos, com médias de 12,7 minutos, 4,0 pontos, 4,2 rebotes e 1,2 toco por jogo. Ele disputou todos os jogos das duas primeiras fases, o UniCeub acabou eliminado no Quadrangular Semi-Final, em La Banda, na Argentina, terminando em terceiro num grupo no qual o primeiro, o Weber Bahia Blanca, avançou à final, na qual acabou derrotado por Mogi. Pela Liga Nacional (NBB), Fab Melo entrou em quadra só em 1 jogo (2,8 minutos, 2,0 pontos e 1,0 rebote). Lesionou-se no início de dezembro, e acabou se afastando do Brasília.

Passou a morar em Juiz de Fora com a mãe e as irmãs. Em 11 de fevereiro de 2017, seu último suspiro. Segundo o Boletim de Ocorrência feito pela polícia, a mãe de Fabrício contou que o jogador chegou em casa na noite anterior, uma sexta-feira, e foi dormir. No sábado, quando foi chamar o filho, ela verificou que ele estava inconsciente e acionou uma ambulância; ao chegarem, os médicos constataram a morte do atleta. Aos 26 anos de idade, prematuramente, Fabrício Melo "fazia sua passagem", como costumam se referir à morte os norte-americanos. O relatório da autópsia feito pela polícia apontou "morte natural, com causa indeterminada". Sem qualquer sinal de lesão corporal ou presença de substâncias anormais na corrente sanguínea, o caso foi encerrado.



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