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segunda-feira, 3 de junho de 2019

Como Russell Westbrook se tornou uma máquina de triplos-duplos?

Triple Double

O texto abaixo foi publicado pelo Globoesporte.com em 16 de abril de 2017: 

O triplo-duplo sempre foi um feito de poucos, algo valorizado e digno de manchetes na NBA. Sempre foram raros na história jogadores que conseguiam atingir os dois dígitos em três fundamentos com uma certa facilidade ou frequência. Michael Jordan "só" tem 31 em toda a carreira. Kobe Bryant, 21. Kevin Durant fez oito. Dwyane Wade, quatro. E Carmelo Anthony apenas dois. Derrick Rose, só um. Por isso, o recorde de 42 triplo-duplos de Russell Westbrook assusta. De uma hora para outra, a estrela do Thunder entrou para uma das listas mais valorizadas da NBA. E passou a ser o jogador em atividade com mais triplo-duplos, passando LeBron James. Como isso foi possível? A resposta está em como o armador do Oklahoma City saltou de 7.8 para 10.7 rebotes por jogo de uma temporada para outra.


Westbrook está em 10º lugar no ranking dos rebotes da NBA com média de 10.7 por jogo. O líder é Hassan Whiteside, do Miami Heat, com 14.1, apenas 3.4 a mais por partida. Russ é o único jogador entre os 15 primeiros na estatística que não é um pivô ou ala-pivô. O primeiro armador a aparecer depois dele na lista é Giannis Antetokounmpo, dos Bucks, em 16º, com 8.8.


Na última temporada, Russell Westbrook já tinha alcançado uma média de duplo-duplo (23.5 pontos e 10.4 assistências por jogo) pela primeira vez na carreira. Até aí, nenhuma surpresa. Ao longo da história é normal grandes armadores terem dois dígitos em pontos e assistências. Assim como acontece com os principais pivôs e ala-pivôs em pontos e rebotes. A questão é como um armador de 1,91m passou a pegar tanto rebotes precisando disputar a bola contra jogadores muitas vezes 30cm mais altos? Como Westbrook se transformou no principal reboteiro do Thunder?

A resposta está em uma estatística pouco conhecida da NBA: uncontested rebounds (sim, ela existe). Na linguagem popular, aquele rebote que o jogador pega sozinho, sem nenhum adversário disputando a bola no ar. E quem lidera esse ranking não é nenhum pivô. Mas Russell Westbrook. Os dez primeiros são os mesmos da lista dos principais reboteiros da Liga, mas a ordem muda. De 10º, o armador passa a ser o primeiro. Dos 10.7 rebotes em média por jogo que o armador consegue, 8.6 são sem pressão do adversário. Um ponto bem fora da curva. Desconsiderando os jogadores que atuam dentro do garrafão, o próximo a aparecer no ranking é o ala LeBron James, em 13º, com 6.5. Em seguida vem James Harden, dos Rockets, (15º com 6.4) e Kevin Durant, dos Warriors, (16º com 6.3).

Do total de rebotes de Westbrook, 79,9% são de "rebotes não contestados". Bem mais do que os outros jogadores. Whiteside, principal reboteiro da NBA nesta temporada, tem 58.8%. DeAndre Jordan, 60.9%. Andre Drummond, 57.6%. O armador de Oklahoma tem também o menor percentual da liga para "rebotes disputados", aqueles em que você briga pela bola com adversários considerando os jogadores com mais de cinco rebotes por jogo.


Por que isso acontece? Russell Westbrook teria se transformado no jogador com o melhor posicionamento da NBA para pegar rebotes? Ou há uma conspiração em Oklahoma em que os companheiros estão deixando o armador pegar rebotes de graça para conseguir vários triplo-duplos na temporada?

Há, na verdade, uma estratégia de jogo bem clara em Oklahoma após a saída de Kevin Durant para o Golden State Warriors. E Russell Westbrook se favoreceu com ela. Para ter um contra-ataque mais eficiente, o técnico Billy Donovan percebeu que quando a bola cai na mão do armador, o time ganha em velocidade e tem mais sucesso ofensivo. Por isso, em vez dos pivôs brigarem pelo rebote, eles passaram a tentar, sempre que possível, deixar os rivais mais longe do garrafão fazendo uma proteção para que Westbrook pegasse a bola e ligasse rapidamente o contra-ataque. Enquanto os grandalhões lutavam sem a bola pela melhor possível, o armador ia atrás da bola após o erro do arremesso adversário. O time ganha em velocidade.

Não é nenhuma surpresa que Russ é o coração de Oklahoma. Com ele em quadra nesta temporada, o time tem em média 3,3 pontos a mais que os rivais em 100 posses de bola. Mas quando ele está sentado no banco, o deficit é de 9,8 pontos. Era preciso explorá-lo ao máximo, e Oklahoma concentrou o jogo em sua maior estrela, capaz de ir de costa a costa (ou de garrafão a garrafão) com a agilidade de Charles Barkley. Segundo estatística da NBA, Westbrook é responsável por 41.4% das posses de bola do time. Uma dependência parecida com o auge de Allen Iverson no Philadelphia 76ers. Westbrook lidera a NBA na média de contra-ataques por jogo: 6,8. Mais 1,1 do que o segundo colocado, John Wall (5,7).

Sem Kevin Durant e Serge Ibaka, o Oklahoma perdeu muito poder ofensivo. O time é apenas o 18º colocado na NBA em pontos por posse de bola (1,08). Longe dos principais rivais como Golden State e Utah Jazz (1,21), os melhores neste ranking. Entre os rivais dos playoffs no Oeste, a equipe só fica junto com o Houston Rockets (que também tem 1,08), seu primeiro adversáriono mata-mata, e atrás de todos os outros. Mas a figura muda quando se olha em percentual de pontos atrás de contra-ataques. A equipe salta para 5º: 16,4% dos pontos de OKC são feitos a partir de contra-ataques. Quer saber outra equipe que sobe bastante também? Justamente o Houston Rockets, de James Harden, com 18% (segundo melhor da NBA, só atrás do Golden State Warriors).

Quando um adversário erra o arremesso e a bola cai na mão de Steve Adams, por exemplo, ele procura naturalmente Westbrook ou outro armador que estiver em quadra. Com isso, o time perde alguns segundos preciosos da transição para o ataque. Se a bola já vai direto na mão de Westbrook, se elimina a ponte, o intermediário. Esse é o objetivo do Oklahoma em quadra. No fundo, trata-se de um trabalho de equipe fazer com que a bola já esteja com sua estrela.



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