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segunda-feira, 19 de agosto de 2019

O inesquecível 'Adiós' a Léo Gutiérrez

Não é tão comum se ver no basquete quanto se vê no futebol, que um jogador ganhe uma partida de despedida. Se um jogador recebe esta honraria, certamente é porque deixou um legado.

No basquete argentino, quando se fala em "Geração Dourada", pensa-se logo em Manu Ginóbili, Luis Scola, Andrés Nocioni, Fabricio Oberto, Pablo Prigioni, Pepe Sanchez, nos nomes que conseguiram jogar entre os melhores do mundo na NBA. É natural que o mundo olhe para o basquete argentino assim. Leonardo Gutiérrez não alcançou a NBA, ainda assim foi digno de uma honraria que o basquete só dá aos grandes. Ele pode não ter chegado à NBA, mas deixou um lastro de glórias na Liga Nacional Argentina, e marcou uma época na qual, a nível de clubes, as agremiações argentinas foram absolutamente dominantes no cenário da América Latina.

Léo Gutiérrez se converteu num emblema da Liga Nacional de Basquete, tendo defendido ao Olimpia de Venado Tuerto (1993-1998), Atenas de Córdoba (1998-2002 e 2008-2009), Obras Sanitarias (2003-2004), Ben Hur de Rafaela (2004-2006), Boca Juniors (2006-2008) e Peñarol de Mar del Plata (2009-2017). Atuou ainda pelo Club Inca, de Islas Baleares, na Espanha (2002-2003) e pelo Paisas de Medellín, da Colômbia (2003). Um curriculum repleto de vitórias em seu solo: foi 10 vezes campeão da Liga Argentina, 3 vezes da Copa Argentina e 3 vezes do Torneio Super 8. Entre seus títulos internacionais com clubes, conquistou a Liga Sul-Americana de 1996 com o Olimpia de Venado Tuerto, a Liga Sul-Americana de 2006 com o Boca Juniors, o Campeonato Sul-Americano de Clubes de 2006 com o Boca Juniors, Liga das Américas de 2010 com o Peñarol de Mar del Plata, e os Torneios Interligas Brasil-Argentina de 2010 e de 2012, ambos também com o Peñarol de Mar Del Plata. Ainda conquistou duas Medalhas Olímpicas, Ouro em 2004 e Bronze em 2008 com a Seleção da Argentina.


Leonardo Gutiérrez se despediu das quadras como jogador numa festa realizada em 29 de julho de 2017, um sábado mágico em Mar del Plata, numa despedida de acordo à sua grandeza e de sua história no basquete argentino - o "homem recorde", o maior dos campeões da Liga Nacional - ídolo e líder por onde passou. O adeus teve um jogo festivo, homenagem realizada no Ginásio Poliesportivo Ilhas Malvinas, casa do Peñarol, clube onde ele viveu sua plenitude como jogador de basquete. O ginásio recebeu aproximadamente 4 mil pessoas, que lhe foram dar seu agradecimento final, honraria que só recebem aqueles que semeou admiração, respeito e amizade. A festa reuniu jogadores em atividade e ex-jogadores com quem Leó Gutiérrez conviveu em seus 24 anos de trajetória como jogador (ele debutou na Liga Nacional em 1993 e se despediu dela em 2017). Foi um verdadeiro desfile, com quase 50 nomes que marcaram época nas quadras da Argentina, a maioria dos quais "monstros sagrados" de primeira linha na história do basquete argentino. Quantas vezes as quadras de basquete viram ao mesmo tempo nomes como Andrés Nocioni, Luis Scola, Pepe Sánchez, Marcelo Milanesio, Héctor Campana, Eduardo Dominé e Diego Osella? A eles se somaram jovens estrelas como Patricio Garino, Facundo Campazzo, Nicolás Laprovíttola e Nicolás Brussino. Uma reunião de gerações.

Depois de shows musicais, o relógio marcava 20h em Mar Del Plata quando começou a apresentação dos convidados, ovacionados pelo público. Coube a Andrés "Chapu" Nocioni, anunciar o último a entrar em quadra: "É um grande momento para mim, porque me cabe apresentar antes de tudo a um grande amigo, que ademais foi o melhor da história da Liga Nacional, em meio a todas estas grandes estrelas que estão aqui presentes. É uma honra ter atravessado o mundo para ver ao meu melhor amigo no basquete, e é uma grande honra para mim apresentar ao grande Léo Gutiérrez". Na tela, um vídeo com seus grandes momentos. Emocionado e feliz, Léo saudou, um por um, todos seus convidados. Logicamente, ele foi o mais ovacionado de todos os presentes. Todos os jogadores em quadra atuavam com a camisa 10, número que Léo Gutiérrez carregou nas costas por toda sua carreira. A "Noite do 10" estava pronta para ser uma grande festa.

Eram quatro times, e Léo Gutiérrez jogou um quarto em cada um:

Equipe 1 (Branca): Luis Cequeira, Selem Safar, Eduardo Dominé, Cristian Romero, Fernando Podestá, Alejandro Konsztadt, Andrés Rodríguez, Carlos López Jordan, Luis Villar e Ezequiel Lamas. Técnico: Horacio Seguí.

Equipe 2 (Azul): Luciano Massarelli, Juan Pablo Figueroa, Nicolás Lauría, Nicolás Brussino, Alejandro Reinick, Marcelo Milanesio, Héctor Campana, Carlos Alemanno, Gonzalo Bogaado e Juan Gutiérrez. Técnico: Rubén Magnano.

Equipe 3 (Branca): Germán Sciutto, Nicolás Laprovittola, Franco Giorgetti, Diego García, Raymundo Legaria, Roberto Acuña, Luis Scola, Juan Ignacio Sánchez, Walter Storani, Ignacio Ravellino e Francisco Gutiérrez. Técnico: Fernando Rivero.

Equipe 4 (Azul): Facundo Campazzo, Marcos Mata, Patricio Garino, Pablo Barrios, Hernán Jasen, Gabriel Fernández, Andrés Nocioni, Sebastián Rodríguez, Diego Osella, Jorge Zulberti e Pablo Albertinazzi. Técnico: Sérgio Hernández.

Entre nomes significativos que não puderam estar presentes, Hugo Sconochini e Fabricio Oberto deixaram um vídeo homenageando o ex-companheiro de camiseta alvi-celeste.

Bola alçada e com 11 segundos de jogo, quase da mesma forma que em seu último jogo oficial, diante do Quilmes, Gutiérrez abriu a contagem com um certeiro tiro de três frontal. 3 x 0 para o time branco. Safar e Dominé também brilharam, e junto a Léo Gutiérrez colocaram o time branco com a vantagem de 29 x 20 ao fim do 1º quarto. Do outro lado, os ex-jogadores, ícones dos Anos 1980 e 1990, Campana e Milanesio (que saiu com uma lesão muscular durante o 1º quarto) mostraram que mantinham seus talentos técnicos intactos com a camiseta do time azul. No 2º quarto, o homenageado passou a vestir a camisa dos azuis. No fim do 1º tempo, o placar, que era o que menos importava naquela noite, apontava: Brancos 53 x 40 Azuis.

Léo Gutiérrez em ação pelo time branco

No 3º quarto, hora de ver Scola e Nocioni juntos em quadra, e de brilhar o ex-jogador Sebastián “Tato” Rodríguez, que acerta três triplos, e mostra uma técnica ainda intacta, mesmo tantos anos após se retirar das quadras por uma disritmia cardíaca. Com os três ao lado de Léo no time azul, virada no placar ao fim do quarto: Azuis 72 x 64 Brancos. No 4º quarto, Léo voltou aos brancos, para jogar ao lado do filho Francisco "Pepo" Gutiérrez e assegurar a vitória: Brancos 85 x 72 Azuis, mesmo com Campazzo fazendo grande partida do outro lado. Léo Gutiérrez anotou 28 pontos e terminou os 40 minutos que esteve em quadra esgotado fisicamente. Emoção no final quando seu filho Pepo, com quem foi companheiro de equipe na sua última temporada como jogador (2016-17) o desafia para um "um contra um" no garrafão. Um fechamento com chave de ouro para uma grande festa familiar, e uma grande celebração à amizade. Léo Gutiérrez já estava há muito emocionado, mas a maior emoção da noite estava por acontecer.

Todos os convidados foram ao centro da quadra, as luzes se apagaram, e sua filha de 8 anos, Mora, sem demonstrar qualquer intimidação com o ginásio lotado - característica muito provavelmente herdada do pai - entra em quadra tocando a música "Despacito" no violino. A emoção que já era grande, ficou incontida. Léo se encaminha para abraçar a filha e recebe o abraço da esposa Fernanda e de sua mãe Norma, e de outros familiares.

Léo tomou o microfone: "Obrigado aos amigos por haverem vindo, queria lhes agradecer por tantos anos de bom basquete e amizade, e à minha família por me acompanhar sempre. Só fiz tudo o que fiz por eles, e estou agradecido. Elegi esta quadra e a camiseta que vesti nos 8 últimos anos" foi interrompido pela torcida que cantou "Obrigado Gutiérrez, muito obrigado de verdade, esta torcida (do Peñarol) nunca mais te esquecerá". Ele continuou: “O que este esporte me deixa de maior, além dos campeonatos e das conquistas individuais, é a amizade destes grandes homens. É muito difícil comparar isto a uma conquista esportiva, teria que juntá-las todas. Obrigado por tudo. De verdade. Eu os quero muito, a todos”.

Estouraram os canhões de papéis prateados. Era o final da festa. Gutiérrez deixava uma carreira lendária. O Léo Gutiérrez jogador já era lenda, e agora passava ser passado. Agora vinha pela frente a rápida passagem de jogador a treinador, tentando aproveitar seus conhecimentos e transmitir sua fome por glórias com a qual sempre soube contagiar os companheiros em quadra e que tão longe o fez chegar. Leonardo Gutiérrez virava a chave para ser o treinador do Peñarol de Mar Del Plata na temporada 2017-2018 da Liga Argentina.

Leonardo Gutiérrez


2 comentários:

  1. Boa tarde Marcel, você possui algum email de contato? Trabalho em um Clube que está realizando uma pesquisa sobre o basquete e seria interessante conhecer mais o seu trabalho.

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  2. Caro,
    Pode me escrever em marcel.qpereira@yahoo.com.br

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