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quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Documentários de basquete imperdíveis: SHAQ & DALE

O maravilhoso documentário "Shaq e Dale" - narrado pela estrela da música country Tim McGraw, um nativo do estado da Louisiana, fervoroso seguidor do LSU Tigers - é um brilhante trabalho da ESPN que narra a relação entre uma lendária estrela da NBA, o pivô Shaquille O'Neal, e seu primeiro treinador e grande amigo, Dale Brown. Como fala o documentário: não se trata de um ser branco e o outro negro, um ser mais velho e o outro mais jovem, um ter sido o treinador e o outro ter sido o jogador, trata-se de uma verdadeira relação de amizade, resistente ao tempo, entre estes dois homens. Uma relação que remonta ao momento em que Shaq tinha 13 anos, em 1984, e vivia em uma base do exército na Alemanha, e procurou ao treinador para perguntar algumas dicas de exercícios. Desde aquele dia, O'Neal recebeu pelo menos uma carta ou e-mail de Brown todas as semanas - e muito mais do que isto durante seus três anos juntos em Baton Rouge. Naquela época, eles podiam parecer ser muito diferentes, mas eles forjaram uma amizade profunda, resistente ao tempo. O documentário foi feito pela franquia SEC Storied, que tem como linha de trabalho se concentrar nas pessoas, equipes, momentos e eventos que contam a história em andamento, o lado humano muito além do esporte. Shaq explica sua relação com Dale com uma única palavra que lhe surge à mente quando ele pensa em seu ex-treinador do LSU: lealdade. E a história contada no documentário explora isto: a lealdade, e a amizade construída com base nela. Todo um amor fraternal e um respeito mútuo entre estes dois homens, estendendo-se por décadas além da experiência compartilhada por eles na LSU, em Baton Rouge.


Nós o conhecemos como um dos melhores pivôs da história do basquete: quatro vezes campeão da NBA, MVP de três finais de NBA, e medalhista olímpico. Mas Shaquille O'Neal era uma criança ainda em desenvolvimento, com apenas 13 anos de idade, "um jogador horrível", por sua própria definição, quando ele conheceu o treinador do LSU (Louisiana State University) Dale Brown, que estava dando uma clínica de basquete na base do exército onde O'Neal vivia com a família, na Alemanha, onde seu padrasto servia ao Exército. Ele procurou Dale e perguntou: "Eu preciso de ajuda para fortalecer minhas extremidades inferiores, você pode me ajudar?". Shaq queria impressionar o professor universitário, e foi buscar no dicionário a expressão "extremidades inferiores" como sinônimo para pernas. Dale lhe questionou: "Há quanto tempo você está no Exército, soldado?". Ao ouvir a resposta "Soldado? Eu não sou soldado, eu tenho 13 anos", Dale Brown deu um salto para trás com os olhos arregalados: "O que? O que?". Como aquele garoto enorme podia ter apenas 13 anos? Dale imediatamente prometeu tirá-lo de lá e inscrevê-lo num programa de basquete. Uma semana depois do diálogo, Shaq recebeu a primeira de muitas cartas de Dale. Numa destas cartas, ofereceu-lhe uma bolsa de estudos para que deixasse a Alemanha. Quando O'Neal voltou para os Estados Unidos e floresceu para as quadras sob uma grande perspectiva, recebendo convites de várias universidades, ele não se esqueceu do treinador que o ofereceu a primeira oferta, seguindo para a LSU, onde Dale Brown havia montado um programa de basquete. A LSU era uma universidade com grande tradição no futebol americano universitário, e nem tanta no basquete.


"Eu senti como eu lhe devia, ele era o cara que me fez acreditar que eu poderia entrar na faculdade", disse Shaquile O'Neal. Ali se iniciava oficialmente para o mundo do basquete a relação entre Shaq e Dale. Pelas palavras do ex-pivô: "O treinador Brown significa o mundo para mim. Mesmo agora, recebo um e-mail uma vez por semana do treinador Brown. Ele está me enviando um e-mail desde que o e-mail foi inventado, e nenhuma vez ele me pediu algo. (Ele) nunca me decepciona ... sempre esteve lá para mim". Na vida, Shaq & Dale também tiveram uma questão estrutural em comum: ambos foram abandonados por seus pais biológicos ainda em idade prematura. E nenhum dos dois deixou que isto lhes impedisse de se tornarem dois homens de grande caráter, agradecidos à vida, e não rancorosos dela.

O documentário apresenta alguns dos maiores jogos de Shaq & Dale juntos na NCAA pelo LSU Tigers. Shaquile O'Neal conta muitas histórias de seu tempo na universidade, a força familiar que recebeu para escolher a hora certa de migrar para a NBA, além dos importantíssimos conselhos de Dale Brown nesta escolha e em sua formação de caráter. Shaq conta o episódio da única vez em que faltou a uma aula por ter exagerado até mais tarde do que o padrão numa festa da Universidade. Ele foi acordado por Dale dentro de seu quarto no dia seguinte. O coach Brown o levou para a pista de atletismo da LSU e o obrigou a correr por quatro horas seguidas. Shaq nunca mais faltou a uma aula, e passou a ser o jogador com maiores notas no time de basquete de Brown. A carreira de três anos da O'Neal nos Tigers, da LSU, terminou em 1992, após três temporadas sem o título nacional universitário da NCAA. Com Shaq & Dale juntos nestas três temporadas (1990, 1991 e 1992) o time da LSU ganhou 20 jogos ou mais em cada um dos anos deles lá; porém, eles nunca passaram da segunda rodada do torneio da NCAA. Na carreira, Dale Brown classificou-se como treinador para 15 torneios nacionais, e foi o segundo treinador mais vitorioso da história da SEC (South-Eastern Conference), superado apenas pelo legendário Adolph Rupp, do Kentucky. E com curriculum que estrapolava as quadras: 105 dos 160 jogadores de Brown receberam seus diplomas universitários.


Daí para frente, após a LSU, a carreira de Shaq é conhecida: escolha número 1 do Draft da NBA, Calouro do Ano, um cara que levou o Orlando Magic a outro patamar, que depois se mudou para o Los Angeles Lakers e, dominante no garrafão, foi multicampeão. E que depois de sair dos Lakers, excluído pelo ego gigante de Kobe Bryant, que não conseguia dividir as atenções principais, foi para o Miami Heat para dar o 1º título da NBA da história da franquia. Um mito da história do basquete.

No fim do documentário, as palavras de Dale Brown em carta enviada a Shaq após ele ser escolhido Calouro do Ano da NBA. Palavras que dizem muito sobre a relação entre os dois:


"1º de junho de 1993,

Caro Shaquille,

Parabéns pelo ótimo ano como calouro na NBA. Eu estou muito orgulhoso de você e especialmente pela maneira que adotou como conduta na carreira.

Nunca vou esquecer o nosso primeiro encontro nas montanhas da Alemanha Ocidental, quando você tinha apenas 13 anos de idade. Você cresceu não só em estatura, mas em talento, a partir daquele dia em que você foi cortado da equipe do ensino médio, quando eles lhe disseram que você era muito desajeitado e deveria tentar o futebol americano.

Agora, estando constantemente em destaque, você deve ficar atento a todas as pressões que isto lhe trará. O treinador John Wooden sabia lidar com a fama melhor do que qualquer um que eu conheci. Ele me disse: "O treinador deve reconhecer que sua profissão o coloca no olho do público e, às vezes, recebe tanto crítica injustificável quanto louvores exagerados. E ele também não deve se deixar afetar indevidamente por qualquer um dos dois". Viva esse credo, Shaquille, e você nunca perderá o seu sorriso contagioso.

Não fique contente e satisfeito. Continue a trabalhar na melhoria do seu jogo. Como você já ouviu mil vezes enquanto jogava na LSU, "o trabalho duro vale a pena", e quando as coisas ficarem difíceis no time, lembre-se da filosofia na LSU: jogue duro, jogue inteligentemente e jogue coletivamente - e tudo funcionará melhor.

Fique longe de todas as distrações, porque a concentração é imperativa para o sucesso final. É uma arte suprema que poucos dominam.

Seja um bom ouvinte. Uma das qualidades mais consistentes daqueles que são rotulados como atletas extraordinários é que eles foram treináveis, apesar das exceções.

Tenha cuidado com os parasitas que, por motivos egoístas, querem você como seu amigo. Sim, alguns visualizarão as notas de dólar flutuando. Confie, mas nunca deixe de estar vigilante. Segure-se no espírito do menino da escola que me tocou tão fortemente nos ombros quando nos conhecemos há 8 anos - um espírito com sua graça natural, dignidade e com os botões florescentes de um gênio para as quadras de basquete.

Faça a sua dignidade tão alta quanto o seu corpo. Nunca se deixe cair nem se venda. Respeite os outros, até mesmo o mais humilde, e lembre-se de que acima de tudo, você é um membro de um grupo chamado humanidade.

Seja um modelo a seguir. Muitas crianças não têm absolutamente ninguém em quem se guiar, e o que você faz e diz será mais do que meras palavras ou ações para o plano de jogo que é sua vida.

Afetar a humanidade. Afetar seus semelhantes, e sempre pelo bem. Shaquille, deixe um legado além de troféus e estatísticas porque, e eu odeio dizer isso, mas seu tempo também passará e a glória que você desfrutará será apenas uma lembrança.

Então, seja o guardião do seu irmão: levante-o quando ele cair, faça o curativo quando ele for ferido. No corpo, ele pode não ser tão grande como você, mas em espírito, ele é.

Bem, esse é o meu conselho para você, Shaquille. Você é o que você é: um bom homem, cheio de amor.

Te amo,
Treinador (Coach) Brown"


Estátua de Shaquile O'Neal na LSU

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