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sábado, 9 de novembro de 2019

Liga Angrense: furando a hegemonia dos gigantes do Rio de Janeiro

A cidade de Angra dos Reis, no sul do estado do Rio de Janeiro, teve um primeiro embrião de projeto de basquete, o primeiro projeto de basquete no interior do estado do Rio, quando tentou organizar um investimento de maior escala através do Estaleiro Verolme. No início de 1985, em sua edição de 29 de maço daquele ano, a Revista Placar dava a notícia: "Ary Vidal, técnico da Seleção Brasileira, dirigirá o time de basquete do Verolme, de Angra dos Reis (RJ)". Alguns meses depois, também era notícia na Revista Placar, edição de 27 de setembro de 1985: "desembarcaram, no Rio de Janeiro, os novos reforços da equipe de basquete da Verolme, os norte-americanos Brett Crawford (ala, 1,97 m) e Charles Murphy (pivô, 2,05 m)". O projeto, contudo, não tardaria a naufragar, diante de graves dificuldades financeiras. Ao fim do 1º turno do Campeonato Estadual de 1985, o time se retirou da competição e liberou jogadores e comissão técnica, incapaz de arcar com o orçamento demandado.

O basquete no Rio de Janeiro sempre foi financiado pelos grandes clubes de futebol da capital do estado: Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense. Desde quando a bola subiu pela primeira vez num campeonato de basquete da cidade, em 1919, estes quatro clubes faturaram os títulos, ainda mais depois de 1933, a partir de quando iniciou-se um pós-amadorismo, ou pré-profissionalismo, com os atletas passando a receber uma ajuda de custo para competir, ainda que não fosse suficiente para fazê-los viver exclusivamente do esporte. De 1933 a 1992, os títulos do Campeonato Carioca de basquete masculino foram conquistados 24 vezes pelo Flamengo, 13 vezes pelo Vasco da Gama, 10 vezes pelo Botafogo e 7 vezes pelo Fluminense. Houve um período entre 1936 e 1941 que clubes de bairro da capital foram campeões (Grajaú Tênis Clube, Olympico e Riachuelo). Outros clubes de bairro tradicionais nunca conseguiram ser campeões, como é o caso de Tijuca Tênis Clube e Club Municipal. Após 1942, uma única vez o campeão não havia sido um dos grandes do futebol, quando o Grajaú Country Clube sagrou-se campeão em 1950.

Mesmo com este semi-profissionalismo, os clubes do Rio de Janeiro foram os que deram um arranque no basquete brasileiro, dominando o incipiente cenário nacional do basquete masculino nos Anos 1930 e 1940. Só a partir dos Anos 1950 é que este cenário mudou, quando o basquete do estado de São Paulo começou a se organizar com força econômica suficiente para permitir que os jogadores de basquete fossem efetivamente profissionais, sem a necessidade de terem outras profissões para se manterem. O orçamento para montar equipe de basquete cresceu gradativamente, principalmente a partir dos Anos 1960.

Porém, aquela semente plantada em 1985 no basquete de Angra dos Reis, ainda que modestamente, germinaria 8 anos depois. No dia 17 de dezembro de 1993, a Liga Angrense enfrentava o time do Tijuca Tênis Clube no quinto jogo do play off final do Campeonato Estadual de Basquete Masculino. O palco foi o ginásio do Grêmio Desportivo Verolme, com cerca de 5 mil torcedores, que tinha naquele dia suas arquibancadas superlotadas. A cidade de Angra dos Reis parou para assistir a vitória do seu time de basquete pelo placar de 81 a 76 e comemorar um título inédito para o esporte do município de Angra: Campeão Carioca de 1993.


Com o ginásio do GDV lotado, a torcida do Tubarão empurrou o seu time de basquete ao título inédito de campeão estadual de basquete masculino em 1993. Foi numa noite memorável para a cidade, numa sexta-feira inesquecível, que a Liga Angrense fechou a série de cinco jogos decisivos contra o Tijuca Tênis Clube com uma vitória espetacular por 81 a 76. O time jogou com Rodrigo, Ricardo, Jamison e os americanos El Hudson e McNeill. Ainda participaram do jogo Tôca, Alex e Júlio, ficando ainda no banco de reservas, sem entrar em quadra, os jogadores Breno, Rinaldo, Adílson e o angrense Bicudo. O cestinha do jogo final foi o americano McNeill. Também fizeram parte do grupo campeão os atletas Bruno, Emerson, Marcos, André Luiz e os angrenses Olavo e Nixson. A equipe tinha na comissão técnica ao treinador Vinícius Monteiro, além de Adolfo Jordão como supervisor, João Carlos Travessos era o preparador físico, Romário como massagista, João Carlos da Motta como médico, João Batista como roupeiro e o presidente e mentor intelectual da montagem desse grande time Paulo Koracakis, ex-basquetebolista que montou o projeto que levou o time da cidade ao Vice-Campeonato Estadual em 1992 (perdeu a final por 90 x 88 para o Vasco) e ao título máximo de Campeão do Rio de Janeiro em 1993.

Uma campanha digna de grande campeão: 29 jogos, 25 vitórias, apenas quatro derrotas, marcando 2.849 pontos, sofrendo 2.365, tendo um saldo de 484 pontos. O cestinha da Liga Angrense no campeonato foi o ala Ricardo, que marcou 467 pontos, seguido do americano El Hudson que assinalou 451 pontos. A Liga Angrense terminou o 1º turno da competição com 11 vitórias e chegou a ficar 19 jogos invicta.

A Liga Angrense havia superado ao Flamengo por 2 x 0 na série semi-final. A série final começou com vitória da Liga Angrense em pleno ginásio do Tijuca, na capital do estado, por 106 x 95. No 2º jogo, em Angra, o Tijuca se redimiu, vencendo por 102 x 92. Mas a Liga Angrense tratou de se manter a frente da série, vencendo o terceiro jogo, em casa, por 92 x 78. No Rio de Janeiro, o Tijuca TC empatou a série, batendo o time angrense por 98 x 86. A vitória no 5º jogo, no Verolme, fechou a disputa e garantiu o título: 81 x 76.


Infelizmente o projeto durou pouco, não conseguindo a manutenção econômica para fincar a tradição do basquete de forma mais sólida na cidade. O time disputou três temporadas seguidas da Liga Nacional, terminando em 1993 como 14º colocado entre 16 participantes, em 1994 ficando com um bom 9º lugar entre 17 participantes, e acabando como 13º colocado entre 21 participantes em sua última temporada, em 1995.

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