A 10ª edição do Novo Basquete Brasil (NBB) foi premiada com a disputa de 1º lugar da Fase Regular mais emocionante da história do basquete brasileiro, com a decisão e definição do líder da 1ª fase do torneio saindo apenas nos segundos finais.
Recuperando a história primeiro... a 1ª edição do NBB, marco de reconstrução do basquete brasileiro, com os clubes assumindo a gestão da competição no lugar da Confederação Brasileira de Basquete, aconteceu na temporada 2008-09. Nesta edição, o Flamengo sobrou na turma na 1ª fase, terminando com apenas 2 derrotas em 28 jogos, 4 derrotas a menos que o 2º colocado, o Brasília. O próprio Flamengo acabou sendo o campeão. Na 2ª edição, 2009-10, o 1º colocado, que também veio a ser o campeão, foi o Brasília, com 5 derrotas em 26 jogos, 1 derrota a menos que o Flamengo, 2º colocado, e que também veio a ser o vice-campeão após os play-offs. No NBB 3, 2010-11, a reta final da 1ª fase foi acirradíssima, com 4 equipes terminando com 8 derrotas em 28 jogos (Franca em 1º, Pinheiros em 2º, Brasília em 3º e Flamengo em 4º pelos critérios de desempate), e duas equipes com 9 derrotas (Bauru e Uberlândia). Altíssimo nível de equilíbrio técnico entre os 6 primeiros colocados. Após os play-offs, o Brasília saiu bi-campeão. Na 4ª edição, 2011-12, o líder da Fase Regular foi o São José, com 5 derrotas em 28 jogos, 2 a menos que Pinheiros (2º), Brasília (3º) e Flamengo (4º). O campeão, pelo terceiro ano consecutivo, voltou a ser Brasília. Na 5ª edição, 2012-13, o Flamengo terminou em 1º na Fase Regular, com 4 derrotas em 34 jogos, 3 a menos que o 2º colocado, o Brasília. O próprio Flamengo se sagrou campeão daquela edição. Na 6ª edição, 2013-14, o Flamengo voltou a terminar em 1º na Fase Regular, com 6 derrotas em 32 jogos, 3 a menos que o 2º colocado, o Paulistano. O próprio Flamengo mais uma vez se sagrou campeão, conquistando o segundo título consecutivo. No NBB 7, quem terminou a Fase Regular em 1º lugar foi o Bauru, com 2 derrotas em 30 jogos, 3 derrotas a menos que o 2º colocado, o Winner Limeira. O campeão voltou a ser o Flamengo, tri-campeão consecutivamente, que havia terminado a Fase Regular em 3º, com 5 derrotas a mais do que o Bauru. Na 8ª edição do NBB, 2015-16, o Flamengo voltou a obter o 1º lugar na Fase Regular, com 5 derrotas em 28 jogos, 2 derrotas a menos que o Bauru, 2º colocado. O Flamengo se sagrou tetra-campeão consecutivamente, vencendo o NBB pela 5ª vez em 8 edições. No NBB 9, temporada 2016-17, o Flamengo mais uma vez terminou a Fase Regular em 1º lugar, com 7 derrotas em 28 jogos, 1 derrota a menos que o Mogi das Cruzes, 2º colocado, 2 a menos que Franca (3º) e Brasília (4º), e 3 derrotas a menos que o Bauru, que terminou a Fase Regular em 5º, mas se superou nos play-offs, vindo a ser o campeão, o primeiro time do Estado de São Paulo a conquistar uma edição do NBB.
A 10ª edição do NBB, 2017-18, não foi tão acirrada quanto a 3ª edição - como nenhuma outra foi tão disputada quanto aquela, que teve 6 times finalizando a Fase Regular grudados - ainda assim teve um nível de emoção na definição do 1º colocado como nunca houve na história do basquete brasileiro. Ao final da penúltima rodada, Paulistano, então líder, e Flamengo, então vice-líder, tinham 3 derrotas cada um, sendo que o time da capital paulista havia vencido os dois confrontos diretos contra o rival do Rio de Janeiro, que além de perder duas vezes para o líder, havia sofrido uma derrota como visitante perante o 3º colocado, o Franca, que aparecia na tabela com 3 derrotas a menos que os dois primeiros da tabela. O Paulistano tinha perdido como visitante logo nas 2 primeiras rodadas, para Bauru e Franca, e depois perdeu na 5ª rodada o clássico da capital paulista para o Pinheiros. Na sequência, o Paulistano venceu 22 jogos consecutivamente! Na última rodada, o Flamengo recebia ao Vitória na Arena Carioca, no Rio de Janeiro, e o Paulistano foi ao Ginásio Vasco da Gama, em Caxias do Sul, para enfrentar o time da cidade, que na penúltima rodada ocupava a 6ª posição. O Flamengo não teve muita dificuldade para vencer ao Universo/Vitória, fechando o jogo por 89 x 75. Quando o cronômetro zerou na Arena Carioca 1, no Rio Grande do Sul o jogo entre Paulistano e Caxias do Sul estava empatado em 73 x 73. Se o time paulista vencesse, assegurava a 1ª colocação e estenderia sua invencibilidade para 23 jogos; se os gaúchos vencessem, quem ficaria mais uma vez com a 1ª colocação da Fase Regular seria o Flamengo.
Antes de chegar ao final desta história, vale a pena recuperar passo a passo tudo que aconteceu no Ginásio Vasco da Gama, o "Vascão", em Caxias do Sul... contra o líder do NBB 10, os primeiros três minutos de jogo do Caxias Basquete foram excelentes, liderado pelo armador Cauê Borges, que fez 7 pontos e conseguiu uma enterrada sensacional, o time caxiense fez 12 x 2 no placar, anulando a transição rápida característica do Paulistano, num bom trabalho defensivo, que não deixava que o time paulista tivesse nem um bom aproveitamento nos arremessos da linha de três pontos, nem efetividade ofensiva. Após tempo técnico, o time do Paulistano voltou à quadra fechando o garrafão e abrindo o perímetro. A entrada do armador Yago Matheus, que havia começado no banco de reservas, foi fundamental para que a vantagem se reduzisse para três pontos quando faltavam pouco mais de dois minutos para o fim do 1º quarto. O técnico do Caxias do Sul, Rodrigo Barbosa, colocou Pedro e Marcão em quadra, e estas substituições conseguiram conter a reação do Paulistano, mantendo a diferença em três pontos até o fim do quarto, que terminou 21 x 18 para o Caxias do Sul.
Logo no início do 2º quarto, o pivô Guilherme Hubner acertou um arremesso de três, na primeira chance para o Paulistano no segundo período, e empatou a partida em 21 pontos. Resposta na mesma moeda no ataque seguinte, com cesta de três convertida pelo armador argentino Enzo Cafferata. O Caxias Basquete ensaiou abrir nova vantagem, mas o time visitante não deixou, encostando novamente no marcador. O 2º quarto foi extremamente equilibrado, com a equipe do técnico Gustavo De Conti, comandada pelas atuações dos armadores Yago e Deryk Ramos, perseguindo no marcador um time que também tinha suas ações ofensivas comandadas por seus armadores, Cauê Borges e Cafferata. No fim do 1º tempo: Caxias do Sul 43 x 40 Paulistano.
O 2º tempo começou nervoso. O Flamengo ia ganhando do Vitória por larga vantagem, e a derrota custaria a 1ª colocação ao Paulistano. Ao mesmo tempo, Bauru e Vasco faziam uma partida acirrada no interior de São Paulo, e uma derrota bauruense combinada a uma vitória caxiense, colocaria o Caxias do Sul em 5º lugar, subindo uma posição na tabela. Num jogo muito nervoso no 3º quarto, demorou dois minutos para cair a primeira bola, convertida pelo Caxias, que se mantinha a frente no placar. Rapidamente, os caxienses conseguiram abrir 7 pontos de frente e jogaram toda a pressão para o líder da competição. Aos poucos, o Paulistano voltou a ir encaixando seu jogo, sempre com o armador Yago, que passou a acionar bastante ao ala Jhonatan Luz, que estava levando vantagem sobre o ala do Caxias, Alex Oliveira, recolocando o time de São Paulo próximo no marcador. Pouco depois da metade do 3º período, houve nova igualdade no placar. Na reta final do quarto, o Paulistano passou à frente pela primeira vez no jogo, terminando a parcial a frente e indo para o último quarto com uma vantagem de 61 x 58 no marcador.
Enzo Cafferata
Assumindo a dianteira do placar num momento crucial, no qual o jogo se encaminhava para sua reta final, o Paulistano tinha a oportunidade de se aproveitar emocionalmente do momento para arrancar rumo à vitória. Mas o Caxias do Sul não estava disposto a se entregar facilmente. O jogo seguiu muito equilibrado durante todo o último quarto. Sempre que o Caxias aproveitava suas chances no ataque, o Paulistano respondia na sequência, seguindo-se uma série de inversões na liderança do placar. A efetividade dos dois lados dava um ar de muita emoção ao duelo.
Faltando três minutos, o ala-pivô do Paulistano, David Nesbitt, nascido nas Bahamas, empatou a partida para os paulistas, que defenderam bem e no ataque seguinte Deryk Ramos converteu três pontos. Sem vacilar, Enzo Cafferata devolveu e reempatou o jogo. Daí foi a vez do Caxias defender bem e recuperar a posse de bola. Cauê Borges, então, em dois lances livres, colocou o Caxias a frente, faltando 50 segundos. Novamente com um bom trabalho defensivo e mais uma recuperação de bola, Pedro sofreu falta, errou um lance livre e acertou outro, levando a vantagem caxiense a aumentar para três pontos de frente.
Cauê Borges
Faltando 30 segundos, Deryk sofreu falta em arremesso no perímetro, ganhando direito a tentar três lances livres. Deve ter ouvido a maior vaia da temporada, porque a torcida local fez um barulho ensurdecedor. Ele errou um dos três lances-livres, mantendo os caxienses com um ponto de vantagem: 81 x 80.
Com 30 segundos restantes no cronômetro, o Paulistano fechou a defesa, impedindo a penetração do ataque do Caxias Basquete, forçando o adversário a forçar um tiro de três, que o ala Alex Oliveira errou, dando a posse de bola para o Paulistano quando faltavam 11 segundos.
Último ataque do jogo, a bola para decidir a liderança da Fase Regular da temporada 2017-18. Todas as partidas da rodada já haviam se encerrado, só restava aquele momento para definir os destinos nos play-offs. O Caxias fechou a defesa, não deu espaços, e então quem precisou forçar um tiro de três pontos foi o Paulistano. A bola do jogo caiu nas mãos do jovem Yago Matheus. Ele a tirou, ela vôou pelos ares como em câmera lenta. As respirações dentro do ginásio estavam presas. Ele errou! Fim de jogo: Caxias do Sul 81 x 80 Paulistano. A liderança da Fase Regular caía, como um brinde, no colo do Flamengo.
O destaque da partida foi o armador Cauê Borges com um duplo-duplo naquela noite (20 pontos e 10 rebotes), Cafferata fez 16 pontos, Marcão fez 11, e Alex Oliveira e Alexandre Paranhos fizeram 10... cinco jogadores do Caxias do Sul com pontuação de dois dígitos. Pelo Paulistano, Yago marcou 17 pontos e pegou 7 rebotes, Deryk fez 18 pontos, Lucas Dias fez 12, e David Nesbitt fez 10. A derrota do Paulistano em solo gaúcho pôs fim a 22 vitórias consecutivas, terceira melhor marca da história do NBB. Com a derrota na derradeira rodada, os paulistas deixaram o topo da tabela. Com a derrota do Bauru em casa para o Vasco, o Caxias ainda herdou a 5ª colocação, seu melhor desempenho na história do basquete brasileiro.
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