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domingo, 19 de abril de 2020

A primeira grande façanha do basquete argentino


Antes da Geração de Ouro, embora a Argentina tenha se sagrado Campeã Mundial em 1950, vencendo aos Estados Unidos por 64 x 50 em Buenos Aires, mas com o time norte-americano naquela oportunidade tendo sido representado pelo time de funcionários da fábrica da Chevrolet em Denver, a grande façanha do basquete argentino aconteceu em 13 de julho de 1986 durante o Campeonato Mundial disputado na Espanha. O jogo, na cidade de Oviedo, ternminou 74 x 70 em favor do time alvi-celeste, que derrubou a seleção que viria dias depois a se sagrar campeã mundial.

Na 1ª fase, em Málaga o time dos EUA venceu as cinco partidas que disputou: 99 x 63 sobre a Costa de Marfim, 107 x 81 sobre a China, 81 x 68 sobre a Alemanha, 73 x 72 sobre Porto Rico, e 86 x 64 sobre a Itália.

Já a Argentina, do técnico portorriquenho Flor Meléndez, disputou a 1ª fase em Tenerife apresentando grande inconstância. Venceu a Holanda, Malásia e Nova Zelândia, e perdeu para Canadá e Iugoslávia, avançando em 3º lugar. 

Na 2ª fase, dois grupos de 6 seleções, com as duas melhores de cada grupo avançando para fazer a semi-final. A arrancada, no Palácio de Desportes de Oviedo, colocou Estados Unidos e Argentina frente a frente. O favoritismo obviamente era todo norte-americano.

O quinteto que entrou em quadra com o USA na camisa: Tommy Amaker, Kenny Smith, Derrick McKey, Charles Smith e David Robinson. Daquele grupo de universitários norte-americanos que brilhavam na NCAA, dos 12 jogadores daquele elenco, 11 deles jogaram várias temporadas na NBA. O quinteto inicial com a camiseta da Seleção da Argentina tinha: Miguel Cortijo, Carlos Romano, Esteban Camisassa, Hernán Montenegro e Diego Maggi. No time argentino, Miguel Cortijo terminou o Mundial como líder em assistências, com uma média de 4,9 por jogo; Carlos Romano terminou entre os jogadores de melhor aproveitamento no arremesso de 3 pontos, e Camisassa foi o 10º maior pontuador do campeonato, com 15,6 pontos por jogo.

O jogo já deu cara de surpreendente desde o primeiro momento. Os pivôs alvi-celestes Maggi (de 2,03m) e “Cavalo louco” Montenegro (de 2,04m) conseguiam todos os rebotes defensivos, sem qualquer falha de concentração por qualquer segundo. E não lutavam contra qualquer um, do outro lado estava o "Almirante" David Robinson, um dos maiores pivôs da história da NBA. Desde os primeiros instantes se via que não era o dia do time dos EUA. Sem espaço para penetrar, giravam a bola no ataque e arriscavam arremessos, mantendo um baixo aproveitamento de apenas 40% nos arremessos. O pivô Diego Maggi cansou de receber tocos embaixo da cesta, mas aguerrido, ele voltava a conseguir rebotes, e assim aumentava suas chances de conversão, e seus ganchos fizeram muito dano à defesa norte-americana naquela noite, assim como as cestas de Esteban Camisassa, principal pontuador do time alvi-celeste com 21 pontos naquela noite. O time argentino jogava em transição rápida da defesa ao ataque, surpreendendo o adversário. Assim, a Argentina terminou o primeiro tempo a frente no placar: 37 x 34.


No 2º tempo, quando todos esperavam o reerguimento norte-americano, tudo que se viu foi o contrário disto. No time dos EUA, só as bolas de longa distância do armador Steve Kerr - lenda da NBA como jogador do Chicago Bulls e do San antonio Spurs, e como treinador do Golden State Warriors - caíam. A vida argentina foi dificultada quando Maggi cometeu sua 5ª falta quando ainda restavam quase 10 minutos no cronômetro, na metade do 2º tempo. Parecia que o time argentino a partir dali estaria desguarnecido na luta pelos rebotes. No entanto, nesta hora cresceu Hernán Montenegro em quadra, e levantou um jogador do banco de resevas que faria toda a diferença no restante do jogo, Sergio Aispurúa, muita coragem apesar de uma estatura de 2,0 metros que lhe dificultavam a briga pelos rebotes. Mas ele foi um gigante, virando um dos protagonistas da vitória alvi-celeste, distribuindo tapas na bola nas lutas pelos rebotes que caíam nas mãos de seus companheiros arremessadores, que convertiam bolas e mantinham a Argentina a frente.

Era festa argentina quando faltando 3 minutos para o fim o time tinha a partida "quase no bolso", com uma vantagem de 70 x 58 no placar. O técnico norte-americano Lute Olson ordenou então uma pressão total em quadra. Um par de tiros certeiros de Steve Kerr ainda quase complicaram o jogo na reta final. Quando faltavam 30 segundos, a vantagem ruiu, e o placar mostrava 72 x 70 para a Argentina. No ataque final, sem conseguir recuperar a posse de bola, os norte-americanos fizeram falta sobre Aispurúa. Ele converteu os dois lances-livres finais e deu números finais àquele jogo. Escaparam lágrimas de emoção aos argentinos quando o placar zerou e o marcador apontou: Argentina 74 x 70 Estados Unidos. O que parecia impossível, tornava-se real. Um feito histórico, um marco de impulsão no basquete na Argentina. Sim, o país se convencia de que o basquete argentino podia ser grande.

A Argentina ainda venceria à China (97 x 80), mas perderia para e Itália (70 x 78), além de já trazer para a 2ª fase as derrotas sofridas para Canadá e Iugoslávia na 1ª fase. Terminaria assim em 5º no grupo, que teve EUA e Iugoslávia nas duas primeiras posições. Os EUA não perderam mais. Venceram na sequência a Canadá (77 x 65) e Iugoslávia (69 x 60). Na semi-final: EUA 96 x 80 Brasil, e União Soviética 91 x 90 Iugoslávia. Na final: EUA 87 x 85 União Soviética. Os norte-americanos se sagraram campeões após sofrerem uma única derrota, para a Argentina.


Ficha do jogo:
Argentina: 74
Miguel Cortijo (10), Carlos Romano (16), Esteban Camisassa (21), Hernán Montenegro (0) e Diego Maggi (11). Téc: Flor Meléndez. Banco: Héctor Campana (2), Marcelo Milanesio (--), Luís Oroño (0), Sebastian Uranga (0), Sergio Aispurúa (14), Gabriel Milovich (--) e Fernando Borcel (--).
EUA: 70
Tommy Amaker (4), Kenny Smith (11), Derrick McKey (7), Charles Smith (17) e David Robinson (13). Téc: Lute Olson. Banco: Steve Kerr (11), Tyrone "Muggsy" Bogues (2), Brian Shaw (--), Sean Elliott (4), Rony Seikaly (1), Tom Hammonds (--) e Armon Gilliam (--).


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