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segunda-feira, 10 de julho de 2017

Olimpia Milano e o poder do basquete italiano nos Anos 1980

O grande cérebro que montou aquele time do Olimpia Milano (o Olimpia de Milão) foi o norte-americano Dan Peterson, que havia se tornado um desenvolvedor do basquete pelo mundo. Ele foi o treinador do time da Universidade de Michighan entre 1963 e 1965, foi assistente-técnico da Seleção da Marinha dos EUA entre 1965 e 1967, depois treinou o time da Universidade de Delaware de 1967 a 1972, e daí para frente ganhou o mundo: treinou a Seleção do Chile de 1971 a 1974, o Virtus Bologna de 1974 a 1978 e o Olimpia Milano de 1978 a 1988, quando decidiu então se aposentar das quadras de basquete.

Dan Peterson, em 1988, depois de nove anos em Milão, decidiu parar, porque estava muito estressante treinar equipes. O posto de técnico do Olimpia foi confiado então a seu assistente-técnico Franco Casalini. Era um momento de mudança, pois também saía do time o ala-pivô Vittorio Gallinari, que defendeu o Olimpia de 1976, quando fez sua estréia com 18 anos, até 1987.

Olimpia Milano x Virtus Bologna na temporada 1984-85

Casalini tinha em mãos um poderosíssimo arsenal ofensivo, sustentado pelo genial tripé formado por Mike D'Antoni, Bob McAdoo e Dino Meneghin. Ele reforçou a estrutura com o ala-pivô norte-americano Ricky Brown. Era um timaço.

O ala-armador Mike D'Antoni teve uma rápida passagem no San Antonio Spurs, mas não brilhou na NBA, fez sucesso na Europa com a camisa do Olimpia, que defendeu de 1977 a 1990, tendo se naturalizado italiano e defendido a Seleção da Itália. Foi no Olimpia que iniciou sua carreira de sucesso como treinador, tendo comandado o banco da equipe de Milão de 1990 a 1994. Na temporada 2016-17, como treinador do Houston Rockets, recebeu o prêmio de melhor técnico da NBA.

O pivô Dino Meneghin foi o maior ídolo do basquete italiano. Ele brilhou pelo Varese nos anos 70 e jogou no Olimpia de 1981 a 1990.

O ala Bob McAdoo era um veterano já consagrado na NBA, onde brilhou por Buffalo Braves, New York Knicks, Boston Celtics, Detroit Pistons, New Jersey Nets, Los Angeles Lakers e Philadelphia 76ers. Na sua carreira, dois anéis de campeão da NBA e uma escolha como MVP em 1975. Chegou a Milão em 1986, aos 35 anos, e lá jogou até 1990.

O Tracer/Olimpia Milano tinha em time espetacular! Foi Tri-campeão Italiano nas temporadas 1984-85, 1985-86 e 1986-87, Bi-campeão da Copa Itália em 1986 e 1987, Bi-campeão da Copa da Europa em 1986-87 e 1987-88, e Campeão Mundial de Clubes em 1987.

Bob McAdoo

O Olimpia perdeu a oportunidade do quarto título italiano consecutivo na temporada 1987-88. Na temporada regular terminou em 2º lugar, nas quartas de final bateu o Virtus/Banco di Roma por 2-1, na semi-final superou ao Cantu por 2-0. Na final, no entanto, perdeu inquestionavelmente para o Scavolini/Pesaro por 3-1 (82 x 90 / 83 x 86 / 115 x 108 / 87 x 98), ainda que Bob McAdoo, com 37 anos, tenha tido a impressionante marca de 28 pontos em média por jogo. Mas o Olimpia Milano se redimiu, conquistando a Copa da Europa sobre o Maccabi Tel Aviv, de Israel, e conquistando a Taça Intercontinental, disputada em Milão.

Dino Meneghin contra o Maccabi Tel Aviv

Na temporada 1988-89, o Olimpia conquistou o último título daquele inesquecível time de basquetebol, que marcou uma época. O patrocinador já não era mais o Tracer, era a Philips. O Scavolini foi o 1º lugar na temporada regular, e parecia ser o favorito a conquistar seu segundo título consecutivo. O Philips/Olimpia Milano terminou com um modesto 5º lugar. Nas quartas de final dos playoffs, o Olimpia derrotou por 2-0 ao Benetton Treviso. Nas semifinais teve que lidar com o favorito Scavolini/Pesaro.

No jogo 1, em Pesaro, Dino Meneghin foi atingido por uma moeda jogada da arquibancada e a partida foi paralisada. Em meio a um grande tumulto, a Federação Italiana declarou o Olimpia vencedor por WO.

Na sequência, em Milão, com uma atuação magistral, com destaque para o desempenho do jovem Riccardo Pittis, o Olimpia fez 85 x 82, fechando a série em 2 x 0 e eliminando o Scavolini, até então favorito absoluto ao título.

OLIMPIA MILANO 85 x 82 PESARO
Philips/Milano: Albert King (15), Mike D'Antoni (10), Roberto Premier (3), Bob McAdoo (18) e Dino Meneghin (4). Téc: Franco Casalini. Banco: Piero Montecchi (3), Riccardo Pittis (25), Massimiliano Aldi (0) e Davide Pessina (7).
Scavolini/Pesaro: Norm Nixon (11), Darren Daye (19), Andrea Gracis (17), Walter Magnifico (24) e Ario Costa (6). Téc: Valerio Bianchini. Banco: Matteo Minelli (0), Domenico Zampolini (5) e Renzo Vecchiato (0). 

Mike D'Antoni

A final era contra o Enichem/Livorno, numa melhor de cinco jogos.

Jogo 1, em Livorno: LIVORNO 92 x 79 OLIMPIA MILANO
Enichem/Livorno: Alessandro Fantozzi (14), Andrea Forti (19), Wendell Alexis (26), Alberto Tonut (13) e  Flavio Carera (8). Téc: Albertu Bucci. Banco: Walter De Raffaele (3), David Wood (9) e Alberto Pietrini (0).
Philips/Milano: Albert King (18), Mike D'Antoni (6), Roberto Premier (11), Bob McAdoo (20) e Dino Meneghin (10). Téc: Franco Casalini. Banco: Piero Montecchi (3), Riccardo Pittis (9), Massimiliano Aldi (0) e Davide Pessina (2).

Jogo 2, em Milão: OLIMPIA MILANO 100 x 81 LIVORNO
Philips/Milano: Piero Montecchi (14), Mike D'Antoni (18), Roberto Premier (19), Bob McAdoo (20) e Dino Meneghin (9). Téc: Franco Casalini. Banco: Albert King (2), Riccardo Pittis (9), Massimiliano Aldi (7) e Davide Pessina (2).
Enichem/Livorno: Alessandro Fantozzi (18), Andrea Forti (13), Wendell Alexis (11), Alberto Tonut (17) e  Flavio Carera (14). Téc: Albertu Bucci. Banco: Walter De Raffaele (1), David Wood (7) e Alberto Pietrini (0).

Jogo 3, em Livorno: OLIMPIA MILANO 73 x 69 LIVORNO
Enichem/Livorno: Alessandro Fantozzi (13), Andrea Forti (14), Wendell Alexis (20), Alberto Tonut (10) e  Flavio Carera (8). Téc: Albertu Bucci. Banco: Walter De Raffaele (0), David Wood (4) e Alberto Pietrini (0).
Philips/Milano: Piero Montecchi (11), Mike D'Antoni (6), Roberto Premier (9), Bob McAdoo (13) e Dino Meneghin (3). Téc: Franco Casalini. Banco: Riccardo Pittis (5), Massimiliano Aldi (2), Bill Martin (16) e Davide Pessina (8).

Jogo 4, em Milão: LIVORNO 83 x 77 OLIMPIA MILANO
Philips/Milano: Piero Montecchi (11), Mike D'Antoni (6), Roberto Premier (7), Bob McAdoo (23) e Dino Meneghin (16). Téc: Franco Casalini. Banco: Albert King (7), Riccardo Pittis (2), Massimiliano Aldi (5) e Davide Pessina (0).
Enichem/Livorno: Alessandro Fantozzi (17), Andrea Forti (14), Wendell Alexis (19), Alberto Tonut (13) e  Flavio Carera (9). Téc: Albertu Bucci. Banco: Walter De Raffaele (0), David Wood (11) e Alberto Pietrini (0).

O Olimpia perdeu a chance de fechar a série em casa no quarto jogo. E as emoções reservadas para a partida decisiva foram loucas. O final do quinto jogo foi extremamente confuso! O Olimpia vencia por 86 x 85, tendo o Livorno a última posse de bola da partida. No estouro do cronômetro, Andrea Forti converte a cesta. Os jogadores do Livorno comemoram a vitória e a torcida invade a quadra. Em meio à confusão da comemoração, os juízes se reúnem junto aos funcionários da mesa, passam muito tempo discutindo, até que decidem que a cesta havia sido convertida depois do estouro do cronômetro. O Olimpia Milano foi declarado campeão, em meio a uma total desordem, causando um distúrbio enorme. Muitos torcedores só tomaram conhecimento da decisão final do árbitro depois de retornarem às suas casas. O Olimpia Milano era, surpreendentemente, pela 24ª vez em sua história, Campeão Italiano de Basquete Masculino.

Jogo 5, em Livorno: OLIMPIA MILANO 86 x 85 LIVORNO
Enichem/Livorno: Alessandro Fantozzi (18), Andrea Forti (6), Wendell Alexis (32), Alberto Tonut (11) e  Flavio Carera (13). Téc: Albertu Bucci. Banco: Walter De Raffaele (0), David Wood (5) e Alberto Pietrini (0).
Philips/Milano: Albert King (22), Mike D'Antoni (9), Roberto Premier (20), Bob McAdoo (7) e Dino Meneghin (10). Téc: Franco Casalini. Banco: Piero Montecchi (2), Riccardo Pittis (6), Massimiliano Aldi (2) e Davide Pessina (8).


O maior nome deste time, tecnicamente, era inquestionavelmente Bob McAdoo, mas o grande ídolo dos torcedores era Dino Meneghin, que era considerado não só o melhor italiano, como o melhor jogador europeu nos Anos 1980. Foi em 1962, na pequena cidade de Varese, que um menino de apenas 12 anos foi visto jogando por Nico Messina, treinador do time juvenil do Ignis Varese. No dia seguinte ele foi levado para treinar no clube. Um garoto que cresceu, mostrou caráter, temperamento forte e tenacidade para vencer. Pelo que fez nos Anos 1970 com o Varese e nos Anos 1980 com o Olimpia Milano, ele foi aclamado como o maior jogador de basquete italiano de todos os tempos. Tinha 2,04 metros, era um pivô extremamente técnico, respeitado até mesmo por seus adversários. Fez sua estréia na Série A Italiana em 1966, aos 16 anos. Ficou no Varese até a temporada 1980/81. Foi em Milão, no entanto, que Meneghin atingiu sua maturação final e se consagrou com o direito de conquistar um lugar no Olimpo do basquete italiano. Saiu do time de Milão em 1990, quando já havia atingido a idade de 40 anos. Só se aposentou, entretanto, em 1994, então com 44 anos.

Meneghin conquistou 31 títulos com clubes, um recorde imbatível. Foi 12 vezes campeão da Liga Italiana, em 1969, 1970, 1971, 1973, 1974, 1977, 1978, 1982, 1985, 1986, 1987 e 1989. Foi 6 vezes campeão da Copa Itália, em 1969, 1970, 1971, 1973, 1986 e 1987. Foi 7 vezes campeão da Liga Européia, em 1970, 1972, 1973, 1975, 1976, 1987 e 1988. Foi 2 vezes campeão da Recopa Européia, em 1967 e 1980. E foi 4 vezes campeão do Mundial de Clubes, em 1967, 1970, 1973 e 1987. Com a Seleção da Itália, Meneghin foi campeão do Eurobasket em 1983, depois de ter sido medalha de bronze em 1971 e 1975. Ainda conquistou a medalha de prata nas Olimpíadas de 1980. Um curriculum espetacular

Bob McAdoo e Dino Meneghin

A dupla Meneghin-McAdoo foi esplendorosa. McAdoo tinha um grande físico, mãos de arremesso preciso, 2,05 metros de estatura. Ele foi a 2ª escolha do Draft da NBA, selecionado pelo Buffalo Braves. Foi MVP, mas só conseguiu ser campeão quando foi para os Los Angeles Lakers, de Pat Riley, onde jogou junto a Magic Johnson e Kareem Abdul-Jabbar. Em Los Angeles, McAdoo foi um sexto homem de luxo. Foi Campeão da NBA em 1982 e 1985. Jogou a temporada 85-86 pelo Philadelphia, quando então recebeu o convite para jogar em Milão.

Sob a regência de Mike D'Antoni e com uma dupla excepcional de pontuadores formada por Bob McAdoo e Dino Meneghin, o Olimpia Milano foi o ápice do poder do basquete italiano. Dificilmente a Itália voltará a ver um quinteto tão poderoso e dominante como aquele em suas quadras.



Veja também: A História da Liga Italiana de Basquete





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