Na história da antiga Copa Europa de Basquete - antecessora da Euroliga - as equipes italianas foram as dominadoras do basquete europeu no Século XX. As equipes da Itália tiveram sua época de esplendor nas décadas de 1970 e 1980, nas quais equipes como Varese, Cantú e Milano estabeleceram o domínio. E com um fenômeno em particular, ao menos 6 destes clubes italianos que brigavam na ponta do basquete europeu e disputavam acirradamente o título da Liga Italiana eram originários de cidades pequenas, como Cantú (39 mil habitantes), Siena (53 mil), Caserta (76 mil), Varese (80 mil), Treviso (84 mil) e Pesaro (94 mil). Mas tiveram força econômica para montar grandes times.
A equipe da cidade de Varese, situada na região da Lombardia, foi a primeira equipe italiana dominante na Europa, durante os anos 70. Era o máximo rival no continente do Real Madrid de Brabender, Corbalán e Clifford Luyk.
Liderados pelo grande Dino Meneghin, um pivô de 2,04 metros, que atuou profissionalmente durante 29 anos, e tendo conseguido a façanha de conquistar 32 títulos. Para Dino, só valia vencer, e para isto ele estava disposto a fazer qualquer coisa. Era um pesadelo ter que defendê-lo em quadra, assim como era tê-lo fazendo a defesa, infernizando os adversários em qualquer lado da quadra. Um exemplo de competitividade levado ao limite. Ele defendeu o Varese durante 14 anos (1966 a 1980), tendo depois levado seu talento para a cidade de Milão.
Havia outros grandes jogadores que defenderam o Varese naqueles tempos. Um deles foi o mexicano Manuel Raga, um ala-armador com um físico privilegiado para a época e que, apesar de sua baixa estatura (1,88m) era muito eficiente nos rebotes, além de possuir um arremesso em suspensão que o caracterizou ao longo de sua carreira. É um dos melhores jogadores do México na história. Outro foi o norte-americano Bob Morse, um jogador de garrafão que jogou 9 temporadas no clube, conseguindo 4 títulos, vindo a ser eleito em 1998 como um dos 50 maiores da Euroliga. E por último é preciso citar Aldo Ossola, armador do time durante toda a década de 70, num total de 13 temporadas junto ao Varese.
Aldo Ossola
Este time chegou a disputar 10 finais continentais consecutivas, conseguindo 5 títulos: a primeira em 1970 quando derrotou ao CSKA Moscou na cidade de Sarajevo, e o último em 1979 conquistado sobre o clube da cidade onde as conquistas haviam começado, quando venceu ao KK Bosnia Sarajevo, fechando assim um feito que jamais será repetido.
Na década de 1980, após perder três finais consecutivas, o domínio do Varese se enfraqueceu, e seu lugar no basquete italiano foi ocupado pelo Cantú. O conjunto italiano já havia estabelecido como uma das forças do continente, brigando pelo título da Recopa da Europa em 1977, 1978, 1979 e 1981. Após a derrota em 1981 do Virtus Bologna para o Maccabi Tel Aviv, no ano seguinte o Cantú vingaria a seus compatriotas em Colônia, na Alemanha, ao derrotar ao Maccabi por 86 x 80. Repetiram o feito no ano seguinte, 1983, numa final contra uma outra equipe italiana, o Olimpia Milano.
A coluna vertebral da equipe era formada por dois jogadores italianos: Pierluigi Marzorati, histórico armador que jogou durante mais de duas décadas defendendo à camiseta do Cantú, e Antonello Riva, um jogador dominante e com um arremesso a distância infalível, que veio a lhe levar a ser o maior pontuador da história da Azurra, com 3.785 pontos com a camiseta da Seleção da Itália, com mais de 900 pontos de vantagem para o segundo colocado, Dino Meneghin.
Antonello Riva
A eles se somavam jogadores norte-americanos dominantes no cenário europeu: em 1982 contavam com Bruce Flowers e Charles Kupec, dois nomes fortes de garrafão de enorme capacidades pontuadora e reboteira, mas muito generosos na habilidade de jogar em equipe e fazer o jogo coletivo; no ano seguinte a dupla foi Jim Brewer e Wallace Bryant, o primeiro havia sido eleito como segunda escolha do Draft de 1973 da NBA, escolhido pelo Cleveland Cavaliers, mas que após nove anos na NBA não mostrou o nível que era esperado dele, chegando ao Cantú para ser determinante na conquista de sua segunda Copa de Europa seguida. Tratava-se de um jogador de enorme potencial físico, que dominava os rebotes e era duro defensivamente, enquanto Wallace Bryant era muito eficiente na defesa e muito contundente no ataque. Todos eles levaram à equipe da pequena cidade da província de Como a viver a melhor época de sua história.
Depois do Cantú, e com um parêntese para o Virtus Roma, campeão da Europa em 1984, o domínio do basquete italiano ficou com a metrópole da moda: Milão. O Olimpia Milano, conhecido naquela época, por efeitos de publicidade, como Tracer de Milano, foi o time da Itália mais laureado a nível nacional, tendo conseguido o título da liga mais vezes que qualquer outro: 26 títulos. Durante os maravilhosos Anos 1980 eles conseguiram cinco campeonatos nacionais, além de, a nível europeu, ter conseguido se recuperar da derrota na final de 1983 perante o Cantú para se alçar ao título em duas oportunidades consecutivas (1987 e 1988), ambas sobre o Maccabi Tel Aviv na final.
A base da equipe era formada em torno de um lendário nome do histórico time do Varese, Dino Meneghin, um vencedor insaciável. A seu lado se encontravam o norte-americano Mike d’Antoni, que obteve nacionalidade italiana para ser o responsável pela armação desta agremiação durante 13 anos. Aposentou-se em 1990 ostentando o recorde histórico de pontos do clube. Por outro lado, havia o clássico italiano Roberto Premier, um ala-armador com um físico potente, que "mordia" na defesa e não destoava no ataque, acrescentando bastante em competitividade à equipe. E, por fim, cabe mencionar ao jovem Ricardo Pittis, que começava a dar seus primeiros passos no esporte.
Mas para falar do Milano, há que falar de seus jogadores norte-americanos desta equipe bi-campeã da Europa: Bob McAdoo, Ken Barlow e Rickey Brown. O primeiro é, provavelmente, um dos melhores norte-americanos que cruzaram o oceano para levar seu talento à Europa. Um jogador que possuía uma escolha como MVP de temporada na NBA (1975), com médias absurdas: 34,5 pontos, 14,1 rebotes e 2,12 tocos por jogo. Terminou sua história na liga profissional norte-americana jogando numa das melhores equipes da história, os Los Angeles Lakers de Magic Johnson e Kareem Abdul-Jabbar, que exibia um basquete dos sonhos. Junto ao grande Bob, primeiro esteve o ala-pivô Ken Barlow, jogador que desenvolveu toda a sua carreira na Europa, mas que ficou um único ano no Milano, na temporada 1986/87, na qual ganhou a Liga Italiana, a Copa da Europa e a Copa Intercontinental. No ano seguinte, com a saída de Barlow ao Maccabi Tel Aviv, chegou Rickey Brown, um outro jogador de garrafão, a quem os italianos chamavam de "bailarino", por seu maravilhoso jogo de pés. Assim como Barlow, ele esteve somente uma temporada no clube, para depois seguir para a Espanha para defender à então Caja de Ronda (posteriormente Unicaja).
Após esta vitória da equipe lombarda foram finalizados os gloriosos Anos 80 do basquete italiano, mas ainda não seriam os milaneses os últimos a alcançar a glória pelo basquete italiano, ainda viria nos Anos 1990 o grande Virtus Bologna.
Em Barcelona, Espanha, em 21 de abril de 1998, cinco anos após a derrota do Benneton Treviso do inesquecível Tony Kukoc para o time francês do Limoges, de Bozidar Maljkovic, uma outra equipe italiana chegava ao prestigioso "Final Four": o Virtus Bologna. Após derrotar ao Partizan Belgrado nas semi-finais, a equipe bolonhesa se lançaria à vitória numa partida de placar baixo, na qual venceu ao AEK Atenas por 58 x 44.
O plantel era dirigido pelo renomado treinador italiano Ettore Messina, que após dirigir por quatro anos à Seleção Azurra, chegava à conquista de seu primeiro título continental a nível de clubes. Com relação aos jogadores, havia nomes conhecidos do basquete europeu, como Predrag Danilovic, considerado o melhor ala-armador europeu dos Anos 90, e que havia formado uma terrível dupla com seu compatriota Aleksandar Djordjevic no Partizan. Ao seu lado estava o jovem Radoslav Nesterovic, o mítico pivô esloveno, que na temporada anterior havia levado o Olimpia Liubliana a seu primeiro "Final Four" na história, estando em formação antes de ingressar para uma carreira bem-sucedida na NBA. Outro jogador de garrafão desta equipe era o sérvio Zoran Savic, que havia brilhado na jovem equipe do Jugoplastika, que havia maravilhado à Europa. O talentoso pivô foi escolhido como MVP daquela final de 1998. Por fim, há que se falar de Antoine Rigaudeau, o elegante e competitivo ala-armador que era considerado o melhor jogador da história da França antes da chegada de Tony Parker.
Depois de obter a vitória em 1998, no ano seguinte o Virtus voltaria a chegar a uma final europeia, contra o Zalgiris Kaunas, da Lituânia, para quem seria derrotado na cidade de Munique após uma brilhante atuação do armador norte-americano Tyus Edney.
Duas temporadas mais tarde, na de 2000/01, sob o nome Kinder Bologna, a agremiação voltaria a repetir o título numa final em cinco partidas contra o Tau Ceramica (Saski Baskonia), da Espanha. A frente daquela equipe seguia Ettore Messina. Entre os jogadores, dos sobreviventes daquela equipe que havia tocado ao céu em 1998 restavam o francês Rigaudeau e os italianos Alessandro Abbio e Alessandro Frosini (este último com um papel mais relevante que o de 98). A eles se uniram os jogadores de perímetro Emanuel Ginóbili e Marko Jaric. O primeiro, argentino, foi nomeado MVP daquela edição, tendo depois migrado à NBA, onde Manu fez história com a camisa do San Antonio Spurs. O segundo era o armador sérvio de 2 metros de altura, capaz de pontuar, armar e ajudar nos rebotes, e que também rumou à NBA. No jogo de garrafão, estavam Rashard Griffith, um "cinco" norte-americano que teve médias de cerca de 20 pontos de valoração, além dos jovens David Andersen e Matjaz Smodis, que acabaram se convertendo em dois dos melhores ala-pivôs da Europa, tendo em 2005 voltado a jogar juntos e brilhar no CSKA Moscou.
Após conseguirem a vitória em 2001, no ano seguinte a equipe voltou a alcançar à final continental, desta vez contra o Panathinaikos, de Zeljko Obradovic e Dejan Bodiroga, que levou o título para a Grécia. Esta derrota acabou com o ciclo glorioso do Virtus Bologna: Messina abandonou o clube e com ele se foram Manu Ginóbili e Jaric. Ao final da temporada 2002/03, o clube foi rebaixado à Segunda Divisão da Itália por conta de graves problemas econômicos. E no Século XXI, o basquete italiano não repetiria os brilhantes resultados do Século XX no cenário de clubes europeus.
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