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terça-feira, 20 de outubro de 2020

Liga Adriática: o basquete unindo o que a política e o ódio racial fragmentaram

Adriatic League - Yugoslavia

A Iugoslávia tinha um dos maiores times de basquete masculino do mundo quando o país se dissolveu, após o fim da Guerra Fria, o fim do Comunismo, a Dissolução da União Soviética, e a Guerra Civil iniciada entre Croácia e Sérvia que levou à dissolução da Iugoslávia em 6 repúblicas: Sérvia, Croácia, Bósnia Herzegovina, Eslovênia, Macedônia e Montenegro.

A enorme tradição do basquete iugoslavo, com quintetos históricos que assombraram as quadras de basquete mundial, como o time da virada dos Anos 1960 para os Anos 1970, que tinha Ivo Daneu, Radivoj "Zucko" Korac, Zoran Slavnic e Ratko Radovanovic, ou o fantástico quiteto da virada dos Anos 1970 para os Anos 1980 com Delibasic, Kicanovic, Jerkov, Dalipagic e Cosic, e por fim, o último grande time antes da dissolução da república iugoslava, que encantou o mundo na virada dos Anos 1980 para os Anos 1990, com Drazen Petrovic, Kukoc, Divac, Dino Radja e Paspalj.

O Campeonato Nacional de Basquete Masculino da Iugoslávia foi disputado de 1945 até a temporada 1991-92. Teve 48 edições, nas quais o Estrela Vermelha (Crvena Zvevda) de Belgrado, na Sérvia, foi 12 vezes campeão, enquanto Olimpia Ljubljana, da Eslovênia, e o KK Zadar e o KK Split, ambos da Croácia, ficaram com 6 títulos cada uma das três agremiações. O Partizan Belgrado, também da Sérvia, foi 5 vezes campeão. O OKK Beograd, de Belgrado, na Sérvia, foi 4 vezes campeão. Duas agremiações foram três vezes campeães, o Bosna Royal, da Bósnia, e o Cibona Zagreb, da Croácia. E três equipes conquistaram 1 título: o Proleter Zrenjanin e o Radnicki Belgrado, ambos da Sérvia, e o Yugoslav Army, do exército iugoslavo, com base também na Sérvia. No total, das 48 edições, a metade, 24 títulos, ficaram com agremiações sérvias. Da outra metade, 15 títulos ficaram com times da Croácia, 6 títulos na Eslovênia e 3 títulos na Bósnia.

Até que o basquete da Iugoslávia acabou! Veja aqui: História do Basquete da Iugoslávia. Os problemas políticos romperam a tradição do basquete iugoslavo, como contado no histórico documentário Once Brothers.

A tradição e a força do basquete da Iugoslávia não foram capazes de superar as diferenças políticas e reunificar as seis repúblicas independentes numa única Iugoslávia. Mas a força e a tradição do basquete iugoslavo voltaram a unir as 6 repúblicas independentes, 10 anos após a dissolução, num mesmo campeonato, para de alguma forma manter a força técnica do basquetebol jogado naquela região. Em 2001 foi criada a Liga Adriática, reunindo agremiações das 6 repúblicas que um dia compuseram a Iugoslávia.

Esta liga regional de basquete cresceu e se tornou um dos maiores casos de ligas de sucesso dentro da Europa. Uma "sub-liga" dentro do universo maior composto pela Euroliga. Inicialmente o torneio recebeu o nome de Nova Ljubljanska banka - NLB League, que de 2001 a 2006 foi chamada, em função do patrocinador que a financiou, de Goodyear League. A partir da temporada 2011-12 passou a ter um novo nome: Adriatic Basketball Association - ABA League. A liga, nasceu por ações da iniciativa privada, impulsionada pela empresa eslovena Sidro, e sempre tendo direito a voto no Conselho da Euroliga, e sendo uma competição complementar a todos os campeonatos nacionais das 6 repúblicas que a compõem, as mesmas que no passado formavam a Iugoslávia. 

Agremiações que não foram partes das repúblicas que compuseram a Iugoslávia chegaram a participar do torneio: o Maccabi Tel Aviv, de Israel, disputou as edições de 2002-03 e de 2011-12, da qual inclusive se sagrou o campeão, o Nymburk, da República Tcheca, também jogou a edição de 2011-12, o Szolnoki Olaj, da Hungria, disputou três edições seguidas, de 2012-13 a 2014-15, e o Levski Sofia, da Bulgária, disputou a edição de 2014-15. A partir da temporada 2015-16 foi proibida a participação de outras agremiações que não fizessem parte de uma das 6 ex-repúblicas que formavam a Iugoslávia.

A competição no início tinha 12 clubes, depois passando a ter 14 agremiações. As equipes jogam em turno e returno, com classificação para uma fase final em play-off, equilibrando a participação de seus membros seus compromissos nos Campeonatos Nacionais e nas Competições Européias. Seu sucesso inspirou a formação de outras ligas similares, como a Liga Báltica, disputada a partir da temporada 2004-05, reunindo principalmente clubes de Lituânia, Letônia e Estônia.

Os resultados da Liga Adriática tiveram uma distribuição de títulos muito similar à observada no Campeonato Iugoslavo de Basquete Masculino. Nas 17 primeiras edições da Liga Adriática um dos títulos foi erguido por um dos convidados, o Maccabi Tel Aviv, de Israel. Nas demais 16 edições, no acumulado até o título da temporada 2017-18, 6 títulos foram do Partizan Belgrado, 3 títulos do Estrela Vermelha (Crvena Zvezda) e 2 títulos do FMP Belgrado, todas três equipes sérvias. Os sérvios ainda venceram uma edição com o KK Vrsac. Dos 16 títulos, 12 deles (três quartos) foram para a Sérvia. Nas demais quatro edições, quatro clubes com uma conquista cada: Cibona Zagreb e KK Zadar, ambos da Croácia, mais Olimpia Ljubljana, da Eslovênia, e Buducnost, de Montenegro. Quem mais bateu perto mas não venceu foi o Cedevita Zagreb, da Croácia, 4 vezes vice-campeã.

O basquete uniu o que a política separou. Como já provocado aqui: E se a Iugoslávia não tivesse se dividido?, no EuroBasket 2017 seu time teria Goran Dragic, Luka Doncic, Bogdan Bogdanovic, Nikola Vucevic e Boban Marjanovic, com um banco de luxo, com Milos Teodosic, Bojan Bogdanovic, Dario Saric, Bojan Dubljevic e Dragan Bender, além de poder estar fechando o elenco com Pero Antic e Ante Tomic. Um time que ninguém viu nem verá jogar junto. Para este milagre, o basquete não conseguiu passar por cima da política e dos ódios raciais.


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