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quinta-feira, 17 de abril de 2025

Reflexões sobre a derrocada do Basquete Argentino entre 2023 e 2024


Artigo escrito por Fabián García, e publicado em 28 de fevereiro de 2024 no site Basquet Plus sob o título "Reflexionando sobre la realidad de Argentina, hoy". Abaixo a reprodução traduzida do artigo original, acrescida das fichas dos respectivos jogos mencionados:



A partida perdida para o Chile exacerbou a sensação de que está tudo ruim, quase um ano exato depois da derrota perante a República Dominicana. Tentamos analisar as causas e a situação. Os jogadores argentinos, decepcionados com a derrota, hoje sentem uma enorme pressão.

Em 26 de fevereiro de 2023, uma ducha de água fria desmoronou sobre os entusiastas seguidores e torcedores do basquete argentino. Doze minutos fatídicos de fechamento tinham provocado a derrota mais dura em muitos anos, como mandante, frente a um rival supostamente inferior (Rep. Dominicana), como consequência a Argentina ficava, pela primeira vez em 41 anos, fora de um Campeonato Mundial de Basquete (e eram 7 vagas das Américas, que ficaram com: Canadá, Estados Unidos, Porto Rico, República Dominicana, México, Venezuela e Brasil). O golpe foi duríssimo, mas não foi o último.

Eliminatórias das Américas para a Copa do Mundo de 2023
26/02/2023 - ARGENTINA 75 x 79 REPÚBLICA DOMINICANA - Ginásio Polidesportivo Ilhas Malvinas, Mar del Plata, Argentina
Parciais: 24 x 19 / 18 x 16 (42 x 35) / 22 x 19 (64 x 54) / 11 x 25 (75 x 79)
ARG: Facundo Campazzo (10), Nicolás Laprovittola (10), Nicolás Brussino (7), Gabriel Deck (27) e Marcos Delia (10). Téc: Pablo Prigioni. Banco: Carlos Delfino (2), Maximo Fjellerup (0), Leandro Bolmaro (3), Juan Pablo Vaulet (0), Patricio Garino (3) e Tayavek Gallizzi (3).
DOM: Jean Montero (22), Gerardo Suero (13), Andres Feliz (11), Angel Delgado (7) e Eloy Vargas (6). Téc: Néstor "Che" Garcia (argentino). Banco: Rigoberto Mendoza (5), Victor Liz (8), Juan Suero (2), Gelvis Solano (2), Antonio Pena (3), Juan Guerrero (0) e Jhonatan Araujo (0).





O Elenco Argentino 2023
Armadores: Facundo Campazzo (Estrela Vermelha, Sérvia), Nico Laprovittola (Barcelona, Espanha), Maximo Fjellerup (Girona, Espanha) e Carlos Delfino (Pesaro, Itália)
Alas: Gabriel Deck (Real Madrid, Espanha), Marcos Delia (Wolves, Lituânia), Nico Brussino (Gran Canaria, Espanha), Pato Garino (Girona, Espanha), Juan Pablo Vaulet (Manresa, Espanha) e Leandro Bolmaro (Salt Lake City Stars, G-League, EUA)
Pivô: Tayavek Gallizzi (Instituto de Córdoba)



Em agosto de 2023, outra vez como mandante (antes em Mar del Plata, agora em Santiago Del Estero), um time de Bahamas fortalecido como nunca por 3 de seus jogadores de NBA, vencia duas vezes a Argentina e lhe tirava a última chance de ir aos Jogos Olímpicos de Paris de 2024, após cinco participações consecutivas (2004, 2008, 2012, 2016 e 2021). A sensação, muito argentina, foi a de que se desmoronava o mundo em cima. 

Em 16 de agosto de 2023 a Argentina perdeu para Bahamas por 89 x 101 no Ginásio Cidade de Santiago Del Estero. O grupo tinha três, e dois avançavam ao Quadrangular Final. A partida decisiva deste quadrangular voltou a colocar Argentina e Bahamas frente a frente, no mesmo local, em 20 de agosto daquele ano. Desta vez, quem perdesse estava fora. Bahamas voltou a vencer.

Pré-Olímpico das Américas para as Olimpíadas de 2024
26/02/2023 - ARGENTINA 75 x 82 BAHAMAS - Ginásio Cidade de Santiago Del Estero, Santiago Del Estero, Argentina
Parciais: 26 x 22 / 16 x 20 (42 x 42) / 21 x 17 (63 x 59) / 12 x 23 (75 x 82)
ARG: Facundo Campazzo (14), Carlos Delfino (15), Nicolás Brussino (5), Gabriel Deck (21) e Francisco Cáffaro (4). Téc: Pablo Prigioni. Banco: Lucio Redivo (6), Maximo Fjellerup (0), Patricio Garino (2) e Juan Fernández (8).
BAH: Travis Munnings (16), Lourawls Nairn (0), Buddy Hield (15), Eric Gordon (27) e Deandre Ayton (10). Téc: Christopher Demarco. Banco: Franco Miller (9), Garvin Clarke (0), Kentwan Smith (5), David Nesbitt (0) e Jaraun Burrows (0).





Isso voltou a acontecer em 2024 com a queda perante o Chile como visitante pelas Eliminatórias para a Copa América de 2025, ainda que não tenha sido uma derrota causadora de eliminação alvi-celeste. Era um rival que não vencia à Argentina no basquete desde 1955. Duro!



Eliminatórias para a Copa América 2025
25/02/2024 - ARGENTINA 77 x 79 CHILE - Coliseu Municipal Antonio Azurmendy Riveros, Valdivia, Chile
Parciais: 11 x 26 / 31 x 27 (42 x 53) / 18 x 6 (60 x 59) / 17 x 20 (77 x 79)
ARG: Facundo Campazzo (16), Leandro Bolmaro (12), Nicolás Brussino (11), Gabriel Deck (20) e Marcos Delia (6). Téc: Hermán Mándole. Banco: Juan Marcos (3), Gonzalo Corbalán (2), Lucio Redivo (0), Juan Fernández (7) e Gonzalo Bressan (0).
CHL: Franco Morales (17), Darrol Jones (8), Sebastián Herrera (8), Manuel Suárez (29) e Felipe Haase (7). Téc: Juan Córdoba. Banco: Sebastián Carrasco (5), Felipe Inyaco (3), Carlos Lauler (0), Ignácio Carrion (2) e Aitor Pickett (0).





Há uma causa para tudo isso? Não, são muitas, e de diversas índoles e origens. Não estão ordenadas por importância. São aleatórias.

1. O DESAFIO

Em primeiro lugar, não se pode deixar de dizer que a Argentina viveu um conto pouco comum com sua Geração Dourada. A equipe se despediu nas Olimpíadas Rio 2016 depois de 15 anos de sonhos cumpridos, tendo esticado cinco mais de vida pela permanência de Luis Scola na seleção (ressaltando que Carlos Delfino segue em atividade e esteve nestas partidas de 2023 e 2024).

Não havia lógica, ainda mais sendo a Argentina, em pensar que o choque do fim de tal geração não seria sentido em algum momento. Não queremos entrar em terrenos escorregadios, mas muitas vezes vemos que os argentinos acreditam serem diferentes do resto do mundo, que podem mudar um país sem modificar seus comportamentos, que podem passar de um time de ouro a outro de ouro simplesmente porque sim, como se fosse destino... Para este tipo de raciocínio, embora tudo tenha sido festejado como merecia - e talvez o vice-campeonato mundial de 2019 não tenha ajudado - uma geração de ouro não substituiria a outra de ouro porque é assim que as coisas são. Não foi assim. Nem será assim. Todas as grandes gerações da história do basquete (Brasil, Porto Rico, Iugoslávia, Croácia, Rússia e agora Espanha) tiveram lacunas na sua história, porque isso não aconteceria com a Argentina, que nunca foi sequer uma potência no basquete?

Hoje nos espera o mundo inteiro
não é para menos, a coroação
brota o encanto do solo prateado
e não venha até mim com contos raros,
que Che, Gardel ou Maradona,
são os número um, assim como sou eu
e argentino eu sou, graças a Deus
(La Argentinidad al Palo, de Bersuit)

E isso se espalhou muito rápido entre as pessoas, que ainda não perceberam o que aconteceu e pensam que, por terem três jogadores na Euroliga, o Chile tinha que ser esmagado. E antes para a República Dominicana e depois para Bahamas. Isso fez com que, pela primeira vez em nada menos que 30 anos, o time pareça em dívida e os jogadores sintam isso. Desde a Década de 1990 não víamos um time tão pressionado para vencer. Emocionalmente a equipe está sofrendo, e isso fica evidente sempre que faz um jogo de "não pode perder". Bem, ele perdeu todos os três jogos. A quantidade de atrocidades que foi dita nas redes não tem fundamento. Nem aconteceu quando a Argentina ficou de fora pela primeira vez de uma semifinal importante, na Turquia em 2010, sendo arrasada pela Lituânia, ou quando não passou das oitavas de final da Copa do Mundo seguinte, na Espanha. Mesmo com alguns "GDs" na equipe. A tolerância, rara na Argentina, já não existe mais.


2. A CHEGADA DE FABIÁN BORRO À PRESIDÊNCIA DA CONFEDERAÇÃO

A saída de Scola, e também a de Sergio Hernández, depois de Tóquio, moveram toda a estrutura que vinha funcionando de memória. Todos sabiam como jogava a Argentina, o que pensava Hernández, o que faria a equipe, como se Scola fosse estar sempre para tapar os buracos, etc. Depois de 2021 já não estavam mais os dois líderes. Isto implicou também na saída de um grupo que se havia comprometido muito na gestão de Federico Susbielles, altamente bem avaliada pelos líderes da Geração Dourada desde que em 2014 havia chegado como interventor à CABB de Germán Vaccaro, a quem eles tinham derrubado. Assim terminaram saindo também Silvio Santander, Gabriel Piccato e Maxi Seigorman do corpo técnico, e Facundo Petracci, Sebastián Uranga e outros dos escritórios administrativos. Até Germán Beder, o chefe de imprensa. Entre 2019 e 2021, quase não ficou ninguém da velha administração. De alguma forma, a vitória de Borro (produto em boa medida da desatenção de Susbielles com as províncias que votaram na CABB durante sua campanha política para ser intendente de Bahía Blanca). Algo se rompeu que, estima-se, era a ideia de Luis e do resto. Uma continuidade de Susbielles que permitiria, após a aposentadoria de Scola, a sua chegada à Confederação Argentina para arrancar um plano moderno sob sua liderança. Por isso 2019 é chave nesta história.

Borro, não tão fiel ao seu estilo, embora tenha limpado a CABB do quadro de funcionários que estava praticamente 100%, inicialmente tentou uma convivência amigável com Scola e Hernández, que haviam apoiado publicamente a Susbielles (como Ginóbili e vários outros), e quando veio a saída do Ovelha Hernández, foi para alguém que (digamos honestamente) foi apoiado de forma bastante unânime por treinadores, dirigentes e seguidores do basquete em geral (agora todos dizem que não, mas isso não é surpreendente): Néstor "Che" García. A experiência com o "Che" foi muito ruim. Previsivelmente ruim? Acreditávamos, talvez ingenuamente, que os problemas pessoais de Che seriam superados pelo seu desejo indiscutível de liderar a Argentina. Nós estávamos errados. É claro que não foi Che quem elaborou um plano que tivesse o futuro sem Scola como eixo. Néstor sempre foi bom em campo. Não no planejamento. Nesse aspecto, nunca esteve rodeado de pessoas que tinham um plano como objetivo central. Naquela época, como agora, pensávamos que era necessário um Diretor Esportivo para comandar o navio, como Julio Lamas, também amigo de Che. E inquestionavelmente respeitado pela imprensa, colegas e todos. Mesmo com um passado de sucesso trabalhando com Borro no Obras. Isso não aconteceu. E então o que aconteceu, aconteceu. Che saiu e pela primeira vez em 30 anos, procurou-se um treinador após a demissão do técnico da Seleção Argentina.

Quanto à organização - por decisão própria, por razões econômicas, ou por qualquer outro motivo - o leque de programas que existia, em termos de detecção de talentos, planos de altura e assim por diante, foi quase completamente modificado. E havia consideravelmente menos pessoas trabalhando. Obviamente, nem a pandemia nem a queda acentuada da economia argentina, com a inflação nas alturas, ajudaram. Mas é tudo dinheiro ou recursos? Se tivéssemos que responder rapidamente, diríamos não. Porque senão não se consideraria que vieram 15 jogadores da Europa para a janela contra o Chile (3 da equipe técnico-médica), incluindo caras como Giovannetti, Bocca, Bressan ou Corbalán, que praticamente não jogaram.

É ótimo que você possa começar a conviver com os grandes, mas primeiro você tem que estabelecer as bases de uma estrutura que reúna o plano macro. Insistimos: a Confederação precisa de um Diretor Esportivo, de peso, que reúna quem sabe e entende para criar um plano global, pelo menos, para 10 anos. E um assistente de primeira linha em tempo integral, como o próprio Casalánguida, Santander ou outro (não há muitos com essas características). E com o que acabamos de dizer não se pode citar a falta de dinheiro. A questão é como otimizar o que existe. A Argentina voltará a realizar um período concentrado de treinamentos em Alicante, na Espanha, em julho. Certamente será um grande investimento. Excelente que seja feito. Mas parecem continuar a ser situações aleatórias específicas sem um eixo e um projeto maior.


3. O NOVO TREINADOR

A escolha de Pablo Prigioni não teve muitos adversários ou críticos, embora agora possa parecer que ninguém o apoiou firmemente. A maioria dos seus colegas concordou que ele era uma pessoa qualificada, trabalhando na melhor liga do mundo, jovem, ansioso e com a mente aberta para mudar a equipe para um sistema de jogo que levasse em conta as capacidades atuais da Seleção Argentina. Alguém diferente de seus anteriores. Com Prigioni, pela primeira vez, ocorreu um fato diferente: ele não foi técnico nem na Argentina nem na Europa. E o novo sistema de janelas fazia com que, às vezes, ele não pudesse estar presente. Porém, conseguiu viajar à Argentina em fevereiro de 2023 na decisiva janela contra Canadá e República Dominicana, e depois reunir um único mês de trabalho contínuo que teve desde que assumiu o cargo em 2022, para buscar solidificar sua ideia de jogo que, como se sabe, foca muito no que as estatísticas mostram sobre eficiência de chutes, espaços, etc. Estilo muito NBA e, por enquanto, pouco compreendido ou aceito pelo público argentino. Isso não é culpa de Prigioni, que está convencido não só deste sistema, mas de que ele é o melhor para esta fase da Argentina.

Por outro lado, como Prigioni estava na NBA e não podia estar na janela da Copa América, foi decidido que Herman Muelo, um de seus assistentes, o substituiria. Não foi Leandro Ramella, que liderou a Argentina nos Jogos Pan-Americanos (algo que nunca foi totalmente compreendido se ele não continuasse depois), nem foi Gonzalo García (assinou com a Seleção do Panamá), nem Leo Gutiérrez (ausente há um ano). Mándole é, seguramente, quem melhor se adapta ao estilo que Prigioni quer impor. Na verdade, ele é o primeiro assistente do Varese de Luis Scola, talvez o mais convencido desse sistema. E ao mesmo tempo Nico Casalánguida regressou. Situação estranha e confusa.

A questão é: como montar um projeto com um novo sistema de jogo, com um treinador nos Estados Unidos, outro na Itália e a maioria dos jogadores - todos no caso desta janela - na Espanha (10) e na Itália (2)? Chegam 3 ou 4 dias antes do jogo após uma viagem de 12 horas (mínimo). Não é fácil nem será fácil, e não está claro se existem muito mais opções. Se a Argentina escolheu Prigioni como técnico, sabia que isso iria acontecer. E, nesse caso, foi fundamental ter um primeiro assistente a tempo inteiro, na Argentina, com experiência em organizar e montar todo o trabalho que nem Pablo nem Mándole podem fazer enquanto estiverem na NBA ou na Europa. Planejamento, rastreamento de jogadores, configuração. Agora Nico Casalánguida está de volta, mas em que função enquanto não há competição?

Definitivamente, a Argentina não pode montar uma seleção da Liga Nacional. Não porque não possa competir, por exemplo, nestas janelas de Eliminatórias da Copa América, mas porque não teria muita utilidade no futuro. Pode, claro, incluir promessas jovens (ou não tão jovens), ou até mesmo acrescentar algumas que atuam na região. Exemplos: Bautista Lugarini, Franco Baralle, José Vildoza, Agustín Barreiro. O que está claro é que, como nunca antes, a Argentina tem quase todos os seus talentos no exterior: veteranos, médios e jovens. Algo como acontece com poucos no mundo, basicamente só em países africanos. Aqui as debilidades macroeconômicas do país cobram a sua conta, com uma grande evasão de talentos, muitos atuando no Brasil e no Uruguai.

Faz menos de um ano e estava no papel a possibilidade de se aproximar de alguém que há anos está muito envolvido em todas essas questões, como é Silvio Santander. Ou, pelo menos, era nisso que se acreditava. Mas a oferta formal nunca chegou. Todos sabemos que a Confederação não dispõe de grandes recursos e que muitas coisas são pagas via Enard, como toda a logística interna dos dois jogos de Mar del Plata e do Chile (viagens e hotéis). Este último, com a eleição de Javier Milei, teremos que ver se permanecerá o mesmo. Eles dizem que sim. Vamos ver. De resto, não é preciso ser muito inteligente para acreditar que é preciso otimizar ao máximo o que está disponível e, para isso, é fundamental uma estrutura de pessoas que o CABB não tem hoje. Já não há talento suficiente, por isso todo o resto deve ser potencializado.


4. O FATOR SCOLA

Luis Scola é uma questão central nesta história. Não é fácil medir o aspecto mais difícil desta queda esportiva que foi a aposentadoria de Luis Scola. Sempre se suspeitou, e acabou se confirmando, que seria mais difícil para a Argentina substituir a Luis do que a Manu Ginóbili. E foi assim. Devido às características do jogador, Manu pode estar oculto. Scola não. E Luis Scola foi o eixo central da Argentina durante quase 25 anos. A era moderna e de sucesso do país no basquete. A Argentina jogou de certa forma porque tinha Scola. Mesmo na Copa do Mundo de 2019, com Luis já funcionando como um quatro mais moderno, com chute de três pontos, em um ambiente mais dinâmico. Mas também gerando situações perto da cesta.

De qualquer forma, a saída de Luis não só mudou 180 graus o sistema de jogo da Argentina, mas também algo muito mais importante: o líder saiu dentro e, principalmente, fora de quadra. Aquele que exigiu que todos se comprometessem, aquele que esteve atento ao comportamento do grupo, aquele que pressionou as lideranças para que as concentrações fossem as melhores possíveis, aquele que até conseguiu que as equipas da NBA emprestassem condições facilitadas. A Argentina perdeu num piscar de olhos, com tudo o que se pode discutir com o Luis sobre ideias e métodos, o cara que administrou absolutamente tudo. As três vertentes da questão: a esportiva dentro de quadra, a esportiva-organizacional fora e a organizacional pós-aposentadoria na extremidade. Ele era o único que poderia fazer isso? Todas as três coisas juntas, sim.

A nova Argentina, além disso, não tem líderes. E isso não é uma crítica. Campazzo, Lapro, Deck, Brussino, Delía, para citar os históricos, têm ascendência sobre os companheiros, mas isso é outra coisa. Na verdade, nenhum deles também está como líder em suas equipes. Facu Campazzo comandou o Real Madrid, assim como a seleção, em quadra, mas ao lado dele havia Llull, Rudy, Chacho, como líderes da equipe. Mais vocais. Deck é o tenente ideal dessa mesma equipe. Calmo e submisso. No Barcelona agora não há muitos, porque precisamente esses jogadores não fechavam muito com Jasikevicius, e embora o lituano tenha saído, há uma liderança bastante horizontal, com muitos na fila: Vesely, Kalinic, o próprio Lapro... mas não muito marcada. Os demais são importantes no seu elenco, mas não são líderes.


5. O PLANO

A mãe de todas as batalhas: se tivéssemos que fazer uma definição curta da Argentina seria "um país sem plano". Com boas intenções algumas vezes, outras não muito claras, mas com uma componente cultural de resolver as coisas com o sistema do "veremos mais tarde". Um dia para a esquerda, no dia seguinte para a direita, acelerando muitas vezes nas curvas. Chegue ao destino rapidamente, pois não dá tempo. A teoria é que na Argentina em geral não existe um plano porque a maioria não resiste à espera pelos resultados de um plano. Processos de médio e longo prazo, conforme exigido até o final da Geração de Ouro. Vamos ser honestos: a Geração Dourada não foi produto de um plano. Precisamente, foi mais um milagre argentino, cuja semente de origem foi o único processo que poderia ser considerado um plano, de altíssimo impacto, como a Liga Nacional, que por sua vez foi favorecida por diferentes marés (Lei Bosman, etc) que convergiram em uma equipe mágica. A tempestade perfeita. Mas não era um plano. Saiu assim. Ou melhor, eram planos dos seus treinadores em cada processo (Vecchio, Lamas, Magnano, Hernández), e não da liderança. E um dia acabou.

A situação é extremamente complexa. Não é dramático. A Argentina tem muitos pontos positivos para tentar voltar a ser competitiva a nível internacional. Continua a revelar talento, continua a ter jogadores com carácter especial para jogar, continua a ter excelentes treinadores. Mas não tem uma direção clara. Para sair dessa situação de origem multifatorial, quem entende diz que a primeira coisa é ter um bom diagnóstico e depois saber lidar com isso. Caso contrário, as coisas provavelmente acontecerão quase por acaso. E, como sabemos, na maioria das vezes perdemos no acaso.




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