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sábado, 17 de maio de 2025

A História da Confecção da Logo da NBA


Supõe-se que a pessoa escolhida para estrelar uma logomarca, seu designer e a competição que ele simboliza devem andar orgulhosamente de mãos dadas. É difícil acreditar que na NBA não tenha sido assim, mas foi o que aconteceu e ficou registrado para a história.

No final de 1969, a meio do seu mandato, o comissário Walter Kennedy pretendia uma marca distintiva para a sua liga, a NBA, que já via a sua força consolidada. Ele procurava impô-la à recém-nascida ABA e, sobretudo, encontrar um símbolo, ou melhor, um logotipo que a identificasse e adiferenciasse de sua concorrência. Um que fizesse isto para sempre.

Kennedy ficou cativado pelo novo logotipo da liga de beisebol (MLB), obra de Jerry Dior, por ocasião do seu centenário.


Depois de consultar sua equipe de consultoria, Kennedy contatou diretamente Alan Siegel, um jovem designer nova-iorquino que ganhou fama repentina naquele ano como alvo de grandes marcas. Siegel tinha acabado de abrir uma consultoria de marca com seu sócio Robert Gale, e o comissário da NBA se apaixonou pela criação daquele símbolo tão americano, que contemplou naquela insígnia o que queria ver encarnado em sua própria liga: o emblema tricolor de a bandeira e a silhueta inconfundível de um jogador.

"Eu quero algo familiar com o beisebol, para que o basquete também simbolize um esporte verdadeiramente americano", disse ele a Siegel. O comissário deu grande ênfase ao logotipo do beisebol e o estilista só teria a opção de se inspirar no modelo Dior.

O alvo de Kennedy não poderia ter sido mais preciso. O basquete era o esporte da vida do designer escolhido. Siegel foi, desde criança, frequentador assíduo da Universidade de Madison com seu pai, antes de ele mesmo decidir acompanhar os Knicks ao vivo pelos seguintes trinta anos. Assim experiente na NBA dos anos 1960, marcou as visitas de seus três jogadores favoritos do calendário: Oscar Robertson, John Havlicek e Jerry West. Então aquele pedido despertou nele tanto entusiasmo quanto exigência de cumpri-lo, e também de capturar em poucas tacadas seu esporte preferido, algo tão compacto e etéreo como o basquete.

Ajudou ter o design anterior atualizado e a semelhança reivindicada, mas eu precisava de inspiração para o novo. E na fase preliminar trouxe um de seus contatos próximos, o jornalista esportivo Dick Schaap, amigo de infância e formado pela Universidade Cornell como ele. Schaap trabalhava então para a revista "Sport" e a primeira coisa que fez foi sugerir que Siegel fosse à redação e mergulhasse no vasto arquivo fotográfico da revista: "Talvez você encontre aqui algo que possa esclarecê-la".

Assim perdido entre pilhas de fotografias, Siegel inicialmente concentrou seus esforços em algo tão inerente ao jogo, tão emblemático, como as mãos levantadas no meio de um salto tendo a cesta e a bola como heroínas. Ele descartou dezenas, talvez centenas, coletando de lado aquelas imagens de alto perfil, estrelando indivíduos tão diversos como Wilt Chamberlain, Tom Gola ou John Havlicek. Ele até salvou alguns do recém-chegado Abdul-Jabbar.

E quando nada o abalou daquela ideia inicial, de repente ele tropeçou nela, uma fotografia muito diferente que o perfurou como uma flecha. Era um instantâneo do terreno, obra do fotojornalista Wen Roberts, e de repente tinha algo de imponente, verdadeiro e clássico. E o fato de o protagonista, sozinho em primeiro plano, ser seu admirado Jerry West importava menos para ele do que o esboço e a ideia. Siegel não estava procurando assuntos ou estrelas. Apenas uma figura. E sentiu-se atraído por ela "pela sua beleza e verticalidade", e por um ideal, com a bola, que emitia movimento numa ligeira inclinação do corpo em pleno drible. Aos seus olhos, aquela imagem deslizante de West entrando na cesta era sublime, era perfeita, era o que ele procurava. E aí ele parou, descartando repentinamente a pilha anterior.


A partir disso, o designer traçou dezenas de esboços, até que um definitivo fosse resolvido. Uma que estilizasse a silhueta, sublinhada a branco, captando-a entre o azul e o vermelho que lhe era reivindicado. Siegel sentiu imediatamente que o seu trabalho era bom e que respondia à exigência inicial. Mas ele não tinha certeza absoluta até apresentá-la ao Comissário Kennedy e ficar convencido de que seu cliente aplaudiu imediatamente a ilustração. Em um de seus depoimentos, o designer disse que hoje foram seis meses de exames com nuances, comparações e ajustes, senão negativos. Mas a reação positiva foi, como ele esclareceu, "espontânea". Não havia mais nada para discutir. A NBA tinha o logotipo dos seus sonhos que reina como um dos ícones mais reconhecidos do desporte mundial.


Um detalhe estranho dessa reunião e acordo foi que, nem Kennedy nem nenhum dos seus assistentes, também consultados para uma avaliação adicional, ninguém lhe perguntou sobre o jogador que a silhueta encerrava, como se não houvesse nenhum, como se o desenho original não fosse mais que um desenho fruto da imaginação do autor. Esse detalhe surpreendeu ainda mais Siegel quando na apresentação oficial à imprensa nenhum jornalista também teve essa curiosidade. Ninguém fez uma pergunta que o designer talvez esperasse e pela ausência da qual teve que permanecer calado. Só a passagem do tempo deu a esse vazio uma importância que o designer nem remotamente imaginava na época.

Anos mais tarde, durante um encontro casual com o novo comissário, David Stern, o autor do logotipo quis descobrir aquele vago mistério com uma pergunta direta, perguntando-lhe se sabia que a silhueta do desenho pertencia a Jerry West, tomando o responda como óbvio. Foi por isso que Siegel ficou chocado quando Stern negou, como se rejeitasse a ideia de que o logotipo representava um jogador real, de carne e osso: "Por alguma razão, ele não queria reconhecer que tudo aquilo se baseava numa imagem de West", disse o designer. A armadilha tinha a sua migalha. Isso não apenas fez de Siegel vítima de um devaneio por seu trabalho, como se um logotipo fosse um logotipo e nunca um membro da liga que ele simboliza. Também libertou a NBA de toda responsabilidade.

E ainda assim o pior permaneceu para o designer: conhecer a visão da outra parte. O primeiro encontro entre Siegel e West ocorreu no final da década de 1990. Foi num restaurante em Los Angeles, pouco antes de o gerente, sentado à mesa com seu relações públicas, se preparar para comer. Siegel foi apresentado. "Este é o homem que desenhou o logotipo da NBA". Para sua surpresa, o lendário ex-jogador foi seco e fez apenas uma pergunta: "Quem era o comissário na época em que tudo foi feito?".  Depois de saber a resposta, West abaixou a cabeça e começou a comer sem dizer uma palavra. Foi isso, deixando Siegel perplexo.

Anos depois haveria uma segunda ocasião. Foi nas vésperas de um jogo do Lakers para o qual sua vice-presidente, Jeanie Buss, preparou um jantar privado com amigos e algumas celebridades. O estilista, que era um dos convidados, vislumbrou a presença de Jerry West durante o coquetel anterior e criou coragem para abordá-lo devido ao gosto ruim que o primeiro encontro lhe deixou. Siegel se apresentou, desta vez sozinho, e West foi ainda mais frio e ranzinza, mais uma vez não abrindo a boca e escapando dele. Pela segunda vez. Isso foi tudo.

Por volta de 2010, enquanto o escritor Jonathan Coleman trabalhava na biografia do mito (“West by West: My Charmed, Tormented Life”, 2012), ele contatou Siegel para lhe fazer algumas perguntas. O designer acreditava que em algum momento teria West como interlocutor, mas nada mais. Então ele aproveitou para desabafar, para fazê-lo ver sua decepção com o ocorrido e a incompreensibilidade, em sua opinião, da atitude de West. Confessou que quando fez o logotipo, não foram poucos os jogadores que lhe perguntaram se eram a silhueta, que todos queriam ser e entrar para a história como escolhidos por um ícone universal. Porém, com West, aconteceu o contrário. E Siegel não entendeu. Coleman não resolveu o mistério, mas no seu trabalho já insinuou o desconforto do mito, de que as gerações mais jovens se referiam repetidamente a ele como "o logotipo" sem que a NBA alguma vez o tivesse reconhecido como tal.

A partir de então, Siegel contemplaria duas teorias. Uma, que ele testemunhou e na qual não acreditou, segundo a qual a NBA não quis reconhecer nenhum jogador para que nenhuma outra lenda se sentisse incomodada. E a segunda, a mais plausível, é que West ficou descontente com o fato de a liga nunca tê-lo reconhecido e, consequentemente, isso sendo menos importante para o jogador, que assim evitou pagar um único dólar por direitos de imagem, mesmo sendo encoberto.

Tudo isto ficou muito mais claro anos mais tarde, quando West, em diversas intervenções na televisão, reconheceu o seu desdém pelo logotipo, expressando mesmo o seu desejo de que um dia a NBA criasse um diferente, possibilidade que Siegel rejeitou com a mesma força que o seu desapontamento. Nunca, garantiu ele, isso se prestaria a uma atualização.

Quando esta divergência veio à tona em 2017, a grande mídia não esclareceu a sua origem. Eles apenas sugeriram que a NBA estava planejando criar um novo logotipo, o que não era verdade e se baseava apenas nas palavras de West. Essa comoção fez com que o designer recebesse quase dois mil e-mails de apoio entre os quais não faltaram ideias para o novo, algumas grotescas, como as silhuetas de Dennis Rodman, Sprewell sufocando seu técnico, Manute Bol e Muggsy Bogues juntos e outros bobagens que se espalham pelas redes em forma de memes.

Pelo menos tudo isso serviu para finalmente dar voz a alguém, o próprio Alan Siegel. Questionado se um dia gostaria de conversar com Jerry West, ele disse que admirava sua figura, mas ao mesmo tempo não queria saber mais sobre ele. Nem da liderança da competição a quem um dia iluminou a sua insígnia num dos produtos mais brilhantes da sua carreira profissional. Em essência, nada mais foi do que uma declaração de indignação surda para com ambas as partes, que não estavam sozinhas. Porque curiosamente os três, mais do que próximos, ainda estão nas costas um do outro mais de meio século depois.



Fonte: Gigantes del Basket, texto de Gonzalo Vázquez
https://www.gigantes.com/revista/los-desencuentros-de-la-nba-con-el-oscuro-reverso-de-su-logo-por-gonzalo-vazquez/


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