No dia 28 de agosto de 2004, a Seleção Argentina de basquete masculino conquistou a Medalha de Ouro Olímpica, naquele que constitui um dos sucessos esportivos mais importantes da história do esporte argentino, e um dos maiores feitos da história do esporte mundial. Poucas horas antes, a seleção masculina de futebol, a maior paixão nacional dos argentinos, também havia conquistado uma medalha de ouro. O país estava em êxtase naquele momento inesquecível!
A história daquela conquista inicia-se, de certa forma, dois anos antes, no Campeonato Mundial de 2002, quando o time de basquetebol masculino da Argentina começou a mudar a história do basquete mundial para sempre. Na Copa do Mundo de Indianápolis, a Seleção Argentina enfrentou à invicta Seleção dos Estados Unidos da América formada inteiramente por jogadores da NBA, e os derrotou por 87 a 80. Esta vitória, liderada pelos destacados Emanuel Ginóbili, Luis Scola e Andrés Nocioni, foi um marco que quebrou a invencibilidade do 'Dream Team" em competições internacionais desde 1992, ano a partir do qual houve a entrada de jogadores da NBA nos campeonatos do "Mundo FIBA".
A derrota dos Estados Unidos não foi apenas um golpe no orgulho norte-americano, mas também um alerta para o nível crescente do basquete internacional fora da NBA. Como reconheceu o ex-técnico dos Estados Unidos Larry Brown: "Estávamos mais sintonizados e prestando atenção com a Europa, talvez com Itália, Rússia e Iugoslávia. Mas a Argentina? Eu não tinha nenhuma ideia sobre eles. Argentina é futebol". A partir de então a Argentina não seria mais "só futebol", seria também basquete masculino em mais alto nível!
Dois anos depois, nas semi-finais das Olimpíadas de Atenas em 2004, a Argentina derrotou novamente aos Estados Unidos, desta vez por 89 a 81, provando de forma definitiva que o que havia acontecido antes não havia sido mero acaso, e assim consolidou seu status como potência do basquete mundial. Manu Ginobili, mais uma vez, foi a estrela do jogo com 29 pontos. A vitória argentina não foi apenas um feito esportivo, mas também uma prova da química e do trabalho em equipe daquela geração.
Ginóbili vs LeBron James em Atenas 2004
A edição de 2004 dos Jogos Olímpicos estava, como sempre, repleta de grandes estrelas do basquete mundial. É muito válido relembrar a algumas delas: sem dúvida uma das grandes estrelas, e quem mais dominou em termos de pontos, foi o espanhol Pau Gasol. Naquela época ele jogava pelo Los Angeles Lakers e acabou com média de 22,4 pontos por jogo. O outro espanhol que também pode ser destacado naquela edição foi o armador Juan Carlos Navarro, que fez um bom torneio numa Seleção Espanhola que terminou na 7ª posição.
Talvez o jogador mais marcante de Atenas 2004, no entanto, era o chinês Yao Ming, que chegou com seus 2,29 metros e tudo para ser a grande sensação da competição. A estrela do Houston Rockets terminou com 20,7 pontos por jogo numa equipa que terminou em 8º lugar na competição.
A tradicional e sempre difícil Lituânia tinha 2 grandes pilares ao longo da competição em que terminou em 4º lugar, perdendo a possibilidade de levar o bronze frente aos Estados Unidos. De um lado estava Arvydas Macijauskas, que somou 15,9 pontos por jogo, e também se destacou Saras Jasikevicius, que marcou 14,1 pontos em média.
Outras estrelas que apareceram em Atenas foram Dejan Bodiroga que enfrentou a Argentina por Sérvia e Montenegro, Gianluca Basile, que era o destaque na vice-campeã Itália, e Papadopoulos na anfitriã Grécia, que também contava com o jovem Vassilis Spanoulis, que viria a ser um dos maiores da história do basquete grego.
Os nomes mais badalados, no entanto, sem dúvida, estavam no "Team USA", que embora não estivesse com alguns dos grandes nomes da NBA naquele momento, contava com grandes figuras da melhor liga do mundo, como LeBron James, Allen Iverson, Tim Duncan, Carmelo Anthony e Dwyane Wade, que eram os nomes mais notáveis carregados pelo time favorito de todas as Olimpíadas desde 1992.
No fim, quem mais brilhou foi o eterno Manu Ginobili, que terminou com 19,3 pontos por jogo, além de outro que teve ótima média de pontos, Luis Scola, com 17,6 por partida. Mas o destaque argentino não eram suas individualidades, a equipe se destacou pelo impecável trabalho coletivo realizado e pela compreensão dos papéis de cada uma das partes dentro de quadra. Cada um também entendeu que mesmo não sendo protagonista, poderia ser decisivo em determinados momentos ou partidas da competição, como Walter Herrmann contra a Grécia. Como resultado do impactante desempenho daquela geração de argentinos no basquete, no total foram 8 jogadores daquele time que conquistou a Medalha de Ouro em Atenas 2004 que pisaram e puderam jogar na NBA, maior liga profissional de basquete do planeta. E abriram portas, pois na sequência destes oito, viriam também a passar pela NBA outros como Pablo Prigioni, Facundo Campazzo, Nicolás Laprovíttola, Nicolás Brussino, Gabriel Deck e Leandro Bolmaro, nomes que tiveram aquela geração como referência, não só técnica, como de mentalidade. Definitivamente lhes plantou a afirmação: "Sim, se pode!". Isto deveu-se, sem dúvida, à barreira que a Geração Dourada conseguiu quebrar. Mais uma conquista deste grupo de jogadores extraordinários.
A IMPORTÂNCIA DA LIGA ARGENTINA PARA A GERAÇÃO DOURADA
A Liga Argentina os formou, a Europa terminou de lapidá-los: aonde treinaram e estrearam os jogadores da Geração Dourada? Todos eles passaram pela Liga Nacional da Argentina antes de irem para a Europa ou para a NBA, onde terminaram de ser formados a nível técnico mundial.
Começando pelos armadores, Pepe Sánchez passou duas temporadas na Liga antes de ir para a NCAA, liga universitária dos Estados Unidos. O armador jogou pelo Deportivo Roca e pelo Estudiantes de Bahía Blanca entre 1994 e 1996, completando 106 partidas no total. A partir daí foi para o basquete universitário aos 19 anos, sendo um dos dois primeiros argentinos na NBA. Depois desenvolveu a maior parte de sua carreira na Europa, vencendo a Euroliga com o Panathinaikos e a Liga ACB, da Espanha, com o Unicaja Málaga, além de passar por Real Madrid e Barcelona.
Ale Montecchia, por sua vez, desde sua estreia em 1990 até 1999 foi uma figura de destaque na Liga Argentina. Disputou 442 partidas por Sport Club de Cañada de Gómez, Olimpia de Venado Tuerto e uma última temporada no Boca Juniors, vencendo uma Liga Nacional e uma Liga Sul-Americana. Do Boca foi para o Velho Continente aos 27 anos, onde jogou entre Itália e Espanha por Reggio Calabria, Pamesa Valencia e Armani Olimpia Milano até 2006.
Hugo Sconochini passou quase toda a sua carreira na Europa, mas os primeiros dois anos foram na Liga Argentina. Foi jogador juvenil do Sport Club de Cañada de Gómez em 1988 e 1989, completando 34 partidas da Liga. De lá foi para Reggio Calabria, da Itália, aos 19 anos, e depois passou por Olimpia Milano, Virtus Roma, Panathinaikos, Kinder Bologna, Tau Cerámica e Piacentina.
Manu Ginóbili teve seu grande desenvolvimento em três temporadas na Liga Argentina. Entre 1995 e 1998 disputou 126 partidas, a primeira temporada no Andino de La Rioja, e as duas seguintes no Estudiantes de Bahía Blanca, onde demonstrou todo o seu crescimento, alcançando média de 24,9 pontos por partida em 1997/98. Nesse contexto foi eleito Melhor Estreante e Maior Evolução. Ele então se mudou para Reggio Calabria, da Itália, aos 20 anos, depois ganhou tudo no Kinder Bologna e se tornou uma lenda, ganhando quatro anéis da NBA com o San Antonio Spurs.
Carlos Delfino era o mais jovem em Atenas 2004 e tinha disputado apenas uma temporada e 14 jogos da Liga Argentina. Esteve no Libertad Sunchales em 1998/99, depois transferiu-se para o Unión de Santa Fé, na Liga B (2ª Divisão), e finalmente aterrou em Reggio Calabria, no Velho Continente, antes de completar 18 anos. A partir daí brilhou no Fortitudo Bologna e jogou 8 temporadas na NBA.
Andrés Nocioni foi outro que se destacou antes de deixar a Liga Argentina. Depois de estrear no Racing e jogar no Olimpia de Venado Tuerto, foi fundamental no Independiente de General Pico, onde foi vice-campeão e disputou 175 jogos. Do Olimpia foi para a Tau Cerámica, da Espanha, aos 20 anos, para ter uma carreira lendária na Europa e ser figura no Chicago Bulls na NBA.
Walter Herrmann estreou no Olimpia de Venado Tuerto e só saiu depois de vencer a Liga com o Atenas de Córdoba, sendo o MVP. Disputou 243 partidas na Liga. Então seguiu para o Fuenlabrada, da Espanha, aos 23 anos, para mais tarde se tornar figura e campeão da Liga ACB pelo Unicaja Málaga e depois chegar à NBA.
Rubén Wolkowyski foi um caso único até aquele momento, pois brilhou na Liga Argentina e depois foi direto para a NBA, tornando-se o primeiro argentino por lá junto com Pepe Sánchez quando tinha 27 anos. Desde sua estreia em 1993 pelo Quilmes até a temporada 1999/00 pelo Estudiantes de Olavarría, disputou 359 partidas, também atuando no Boca Juniors, e tendo sido campeão e MVP da Liga.
Luis Scola brilhou em três temporadas com 101 jogos pelo Ferro Carril Oeste entre 1995 e 1997, já com contrato assinado com o Saski Baskonia, da Espanha. Foi para a Espanha aos 18 anos e brilhou no Velho Continente, chegando então à NBA. Foi o inevitável "Grande Capitão" da Seleção Argentina.
Gaby Fernández foi peça-chave na reposição de garrafão da Geração Dourada. De 1995 a 2001 jogou por Ferro Carril, Boca Juniors e Estudiantes de Olavarría, tendo sido campeão da Liga e disputado 296 partidas. Aos 25 anos foi jogar na França e depois teve grande evolução, primeiro na Espanha pelo Tau Cerámica e depois na Itália pelo Varese.
Fabricio Oberto dominou a Liga entre 1993 e 1998 como pivô do Atenas de Córdoba, sendo parte daquele "time grego" que dominou e é considerado um dos melhores da história da Liga, varrendo o Boca na final e sendo eleito MVP. No total disputou 217 partidas pelo time de Córdoba até ir para o Olympiacos aos 22 anos. Ainda passou com destaque por Tau Cerámica e Pamesa Valencia, na Espanha, antes de ganhar um anel de Campeão da NBA ao lado de Manu Ginóbili no Spurs em 2007.
Por fim, para se falar de um homem da Liga Nacional, deve-se falar de Leo Gutiérrez. Em 2004 foi o único representante da competição local na equipe de Rubén Magnano em Atenas. Na Liga Argentina brilhou como o jogador mais vencedor da história. Antes disso, ele havia ido para a Europa em 2002, aos 24 anos, para o LEB Oro (2ª Divisão da Espanha), embora depois de uma temporada tenha retornado à Liga e continuado a deixar sua marca em sua terra.
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