O Novo Basquete Brasil (NBB), modelo da Liga Nacional de Basquete efetivamente como uma liga, sob gestão e controle efetivo dos clubes e não da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), a qual organizou a Liga Nacional de 1990 a 2008, cumpriu 10 anos de sua fundação em 2018. A primeira edição do NBB, organizada na temporada 2008-09, teve o Flamengo como campeão. As três edições seguintes (2009-10, 2010-11 e 2011-12) tiveram o UniCeub Brasília como campeão. Depois se seguiram quatro títulos consecutivos do Flamengo nas temporadas 2012-13, 2013-14, 2014-15 e 2015-16. Depois de 8 temporadas com os títulos divididos entre clubes do Distrito Federal (Brasília) e do ex-Distrito Federal (Rio de Janeiro) - somando uma década de domínio, já que nas duas últimas edições organizadas pela CBB, 2007 e 2008, cada uma das duas agremiações ficou com um título - na 9ª edição do NBB, o título ficou com uma agremiação do Estado de São Paulo, o qual tem a maior força econômica do Brasil; o campeão 2016-17 foi o Bauru. Assim, a temporada 2017-18 representava então o NBB 10.
O sucesso do NBB foi um marco de reeguimento do basquete brasileiro, que estava completamente atolado numa gestão absolutamente caótica da CBB antes de sua criação, com consequências devastadoras para o nível de competitividade das equipes de basquete brasileiras no cenário internacional. Depois de 10 anos de NBB, a gestão sob o "Modelo de Federações", seguindo o padrão "Gestão Pública Brasileira", continuava no atoleiro, com uma gestão caótica levando a uma suspensão imposta pela FIBA não só à Seleção Brasileira como a todas as agremiações brasileiras, que ficaram impedidas de disputar a Liga das Américas 2017. Um paradoxo frente ao sucesso da "Gestão Privada" na condução da Liga Nacional pelos clubes, os quais transformaram o fracasso e o caos, em sucesso absoluto e modelo de estudo de caso.
Transformação de resultados: Com 6 títulos consecutivos, basquete brasileiro reconquista o topo do continente!
Relembre a análise: NBB, Balanço de 8 anos da refundação do basquete brasileiro
Para pontuar como se deu esta transformação, o texto de Fabio Balassiano com o título "Dez razões que ajudam a explicar como o NBB saiu de novo entrante para case de sucesso em 10 anos", publicado em 20 de março no Blog Bala na Cesta do Portal UOL, é reproduzido abaixo com algumas breves edições gramaticais frente ao original, nenhuma para corrigir mas apenas para enfatizar ainda mais alguns trechos mais importantes:
O Ginásio do Ibirapuera viu mais uma vez um grande espetáculo com o Jogo das Estrelas de 18 de março de 2018. De entretenimento. De respeito ao fã de esporte. De parcerias comerciais de sucesso. De basquete. De tudo. E no centro disto tudo está a Liga Nacional de Basquete, entidade fundada 10 anos antes e que saiu, em uma década, de “novo entrante” no mercado esportivo para se tornar um caso de sucesso no que se refere a gestão, implementação e organização de seu principal campeonato, o NBB. Está muito clara a evolução. Os motivos que transformaram o NBB em um produto para lá de querido do mercado publicitário e do público brasileiro:
1) Modelo descentralizado
Na Liga Nacional a decisão final é sempre dos clubes. Há o presidente, o vice, o time de operação da Liga, mas no final do dia quem decide tudo sobre o futuro do NBB são as equipes que fazem parte do campeonato e também do Conselho de Administração. Não há uma voz que decida, mas sim a maioria que vota a favor de uma determinada ideia. E ao longo do tempo o mais importante é ver que os clubes aprenderam a votar menos a favor de si mesmos e mais a favor da sustentabilidade do campeonato.
Quando o NBB começou, em 2008, a modalidade estava sem a menor perspectiva de melhora, com um campeonato que não havia terminado, com os clubes desunidos em dois torneios diferentes e com a CBB totalmente sem saber o que fazer. A Liga Nacional conseguiu colocar todas as agremiações em uma mesma página para tentar sair do outro lado, o lado de negócios, com o melhor produto possível.
Do primeiro NBB permaneceram após 10 anos: Flamengo, Franca, Pinheiros, Paulistano, Bauru e Minas. Nada menos, portanto, que 6 clubes jogaram todas as 10 edições do NBB. É muita coisa para um país que vira e mexe vê projetos esportivos acabando do dia pra noite. O fato de haver quase 50% dos times da atual edição sendo um dos fundadores da Liga mostra bem o sucesso do campeonato.
2) Gestão com longevidade
Ter lastro é muito importante. E a Liga Nacional tem nos principais níveis de sua organização. Sergio Domenici é, literalmente, o funcionário número 1 da LNB e é o Gerente-Executivo do campeonato desde a sua fundação. Sergio gosta de dizer que a sala de sua casa foi o primeiro escritório da LNB e ele tem razão. Ex-executivo do Minas Tênis Clube e do Clube Atlético Mineiro, Domenici viveu realmente de tudo desde o nascimento do NBB, aprendeu muito e sempre manteve a calma mesmo nos momentos mais difíceis da história da Liga. É uma pessoa séria, sonhadora, organizada, serena e que trabalha absurdamente para fazer o basquete melhor a cada dia.
Gerente de Comunicação, Guilherme Buso está lá desde o NBB 2 e tem sempre ideias novas para colocar em prática. O site da Liga Nacional é um dos melhores do país e bem fácil de ser acessado. Há tudo por lá e não precisa ser blogueiro para encontrar as informações mais importantes. Alvaro Cotta, do Marketing, dá as cartas na pasta há bons 4 ou 5 anos. Paulo Bassul é o Gerente Técnico há 6 anos.
São eles os responsáveis por colocar em prática as ideias que surgem e conhecer as particularidades da modalidade para fazer a engrenagem rodar mais rápido, ajuda muito! Aqui o importante é não confundir longevidade destes profissionais com “estabilidade eterna”. Sergio, Alvaro, Buso e Bassul têm trazido resultados consistentes e consideráveis em suas áreas. Contra alta performance não há argumento.
3) Dirigentes confiáveis
Um dos grandes diferenciais da Liga Nacional. Atual presidente, João Fernando Rossi é um dos fundadores da Liga. Kouros Monadjemi, o vice, foi o primeiro mandatário e é um dos dirigentes mais confiáveis do Brasil. Ambos gozam de um prestígio absurdo junto aos atletas, aos clubes e dentro da própria Liga. São caras sérios, empresários de sucesso e mesmo discordando do que a imprensa diz em alguns (vários) momentos, nunca houve desrespeito, ameaças, nada – apenas embates salutares de ideias.
Rossi e Kouros conseguem trazer inovações para um meio bem retrógrado (o esporte) com uma tranquilidade incrível e como se parecesse simples. Não é. Ou melhor, não era. Foi assim que aos poucos a Liga foi crescendo não só no NBB, mas também na Liga de Desenvolvimento - campeonato Sub-23 -, na Liga Ouro - Divisão de Acesso - e no Jogo das Estrelas, seu principal produto.
4) Atletas “comprando” o barulho
Uma classe que sofria horrores e que quase sempre era desvalorizada com os Nacionais (antiga gestão) da CBB. Os jogadores passaram a ser ouvidos, valorizados, colocados em outro nível (até mesmo financeiro) e hoje alcançam patamares de reconhecimento bem interessantes. É óbvio que eles “compraram” o discurso dos dirigentes da Liga Nacional. E se compraram significa que eles acreditaram no que vinha do alto comando. As palavras se transformaram em ação, e os atletas se sentiram muito a vontade em jogar o NBB. Não é a toa que, lá atrás, Alex Garcia, Guilherme Giovannoni, Rafael Hettsheimeir e tantos outros retornaram ao país. Recentemente, Leandrinho e Anderson Varejão poderiam ter permanecido nos EUA treinando ou jogar na China. Optaram pelo Brasil, pois reconhecem que o campeonato subiu de patamar.
5) Parceria com a NBA
A parceria entre NBA e NBB nasceu em 2014. A união comercial com um player mundial e estrategicamente bem posicionado fez com que o NBB surfasse na onda do crescimento do basquete e absorvesse bastante conhecimento da maior liga de basquete do mundo. Processos foram incorporados, melhorias foram implementadas e o intercâmbio não só da parte técnica mas sobretudo na gestão, cada vez mais moderna, ágil e certeira, tem sido realizado. NBA e NBB fazem parte do mesmo espaço no coração do brasileiro – o esporte e o entretenimento esportivo. A Liga Nacional soube entender isso e tem conseguido colocar os clubes para transportar minimamente a experiência que é vista na TV para as quadras do país. O mundo televisivo dos que acompanham a NBA fica nos EUA. O real é possível “tocar e experimentar” pelas quadras do país com boas experiências nas idas aos ginásios.
6) Conceito Multicanal
O melhor exemplo desta plataforma multicanal que se transformou o NBB são as transmissões dos jogos em todos os cantos possíveis. E o primeiro passo não foi dado pelo óbvio, como muita gente poderia pensar, mas sim pela internet, antigo desejo de todo basqueteiro. Assim o tão sonhado crescimento das partidas do NBB saiu do papel, ganhou forma, cresceu de tamanho e passou a ser uma realidade na temporada, toda semana tem jogo no Facebook (olha o tamanho do parceiro!), no Twitter (idem!) e também nos “meios tradicionais” como Sportv e Band. Em alguns locais há TV’s regionais exibindo os jogos, ótima alternativa para o número de exibições aumentar absurdamente (o Vitória explora bem isso em Salvador, na Bahia). Só não vê o NBB realmente quem não quer (e o exemplo vale também pra Liga Ouro, cujos jogos de Corinthians, Macaé, Unifacisa e São José foram frequentemente transmitidos via internet).
O círculo virtuoso das exibições se potencializa sobretudo devido às redes sociais da Liga Nacional (sempre bem cuidadas, sempre “modernosas” e sempre bem antenadas com os memes do momento – algo que a galera mais nova se amarra, gerando empatia e proximidade com o novo público). São 630 mil no Facebook, 116 mil no Instagram e 110 mil no Twitter. O assunto NBB está sempre, pra usar uma expressão da internet, “trendando”, ou seja, em voga, no alto, nos tópicos mais comentados. Com tudo isso dá pra entender porque o produto se conectará ao fã de esporte de algum lado (pela internet, pela TV aberta, pela TV fechada, etc).
7) Aprender com os erros
Nem tudo são flores, claro, na história da Liga Nacional de Basquete. Já houve inúmeros erros (o principal deles, talvez, tenha sido o momento em que se discutia a possibilidade de clubes entrarem por convite – na época não havia um modelo tão consolidado assim de acesso com a Liga Ouro) e outros ainda virão, mas o principal é que os dirigentes da Liga estudam, entendem e corrigem os problemas. Alguns com mais velocidade. Outros com menos (a final em jogo único demorou demais a sair de cena, por exemplo). Mas nunca “sentam” em cima da questão e acham que não há nada acontecendo. Se nem sempre é com a velocidade que a turma da "geração Y" quer, é bem óbvio que as correções de rota são muito mais rápidas e assertivas que em outros modelos de gestão esportiva no Brasil.
8) Reputação acima de tudo
Nada vale mais pro pessoal da Liga Nacional de Basquete do que a reputação do produto NBB. Há um ditado judaico que diz que a primeira geração constrói, a segunda usufrui e a terceira destrói. A gente já viu muito bem isso acontecer em outras modalidades no Brasil, mas no NBB isso está longe de ser real. A marca é “sagrada” e manter o nome NBB intocável, longe de polêmicas e de assuntos espinhosos é quase uma lei interna. “Nosso negócio é trabalhar. Que falem da gente”. Estão certíssimos.
9) Entretenimento, não esporte
Via de regra o basqueteiro se acostumou a acompanhar eventos ruins, sem sal e com o público sendo tratado igual a gado. Mas parafraseando o saudoso Joãozinho Trinta, quem gosta de pobreza é filósofo. O fã de esporte gosta de luxo e de ser bem tratado. Usando muito do conceito da experiência do consumidor e de como os norte-americanos tratam o cliente nas arenas esportivas o NBB tem conseguido atrair públicos novos, sobretudo as famílias, para seus eventos.
Os dois Jogos das Estrelas (2017 e 2018) com o Ginásio do Ibirapuera lotado falam muito sobre isto. Houve espetáculo de música (Jota Quest em 2017, Thiaguinho em 2018), muitas ativações dos patrocinadores, distribuição de sanduíches, homenagens e muito mais. O patamar subiu, a tendencia virou e hoje o Jogo das Estrelas passaou a ser, sem dúvida alguma, o maior evento anual de esporte no Brasil. Com trabalho, visão, inovação e acertando nos parceiros comerciais para cada uma das situações a LNB chegou lá.
10) Credibilidade
Num momento em que tudo no país era devassado por investigações (inclusive algumas entidades esportivas – Comitê Olímpico Brasileiro notadamente), nada abalava as estruturas da Liga Nacional de Basquete. Há uma história interessante que exemplifica isso que é quando a NBA foi fechar a parceria com a LNB. Os norte-americanos pediram, como sempre, zilhões de contratos e papéis. A Liga entregou todos e muito mais, recebendo elogios dos norte-americanos pela organização e pela governança como tratava o esporte.
Não é por acaso que se vê a entidade sendo patrocinada por players importantes do mercado como Caixa Econômica Federal, Sky, Infraero, Nike, Avianca, entre outros. E em um Jogo das Estrelas houve ainda ativações de Elo/Caixa, Mc Donald’s, FIESP, etc. Com retração econômica em quase todos os segmentos do país, é um baita mérito que a Liga Nacional esteja conseguindo apoios de diferentes parceiros no Brasil.
Mais sobre a História do NBB:
- 2017-18: A temporada das bolas milagrosas
- A disputa de 1º lugar mais emocionante da história do NBB
- As Maiores Viradas em play-offs no NBB até 2018
HISTÓRIA DO BASQUETE BRASILEIRO
ENTRE CLUBES
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